Um ex-oficial de alto escalão do governo dos Estados Unidos foi preso nesta quarta-feira (22) após ser flagrado em vídeo agredindo verbalmente um vendedor de comida de rua em Nova York, ao chamá-lo de “terrorista” e afirmar que a morte de quatro mil crianças em Gaza “não é suficiente”.
Stuart Seldowitz (64) foi diretor adjunto do Escritório de Assuntos Israelo-palestinos do Departamento de Estado. Durante a gestão do ex-presidente Barack Obama, foi diretor interino do Conselho de Segurança Nacional para o Sul da Ásia.
Sua prisão decorre de acusações de assédio qualificado, crime de ódio e perseguição e intimidação no local de trabalho, reportou em nota a polícia nova-iorquina.
“A vítima de 24 anos, do sexo masculino, declarou à polícia que um indivíduo a abordou em seu local de trabalho em diversas ocasiões e proferiu reiterados comentários anti-islâmicos, em datas distintas, causando temor e desconforto”, informou a polícia.
A vítima é um jovem trabalhador egípcio que vende comida halal nas ruas de Manhattan para sobreviver. O vídeo viralizou nas redes sociais, com usuários questionando o racismo nos centros de poder político dos Estados Unidos.
“Se matarmos quatro mil crianças palestinas, ainda não é suficiente”, insistiu Seldowitz em uma das ocasiões. O vendedor o pede para ir embora — “Vai, vai, vai, vai. Não quero ouvir isso” —, ao que Seldowitz responde: “Mas você é um terrorista. Você apoia o terrorismo”.
Em outras ocasiões, Seldowitz profere insultos ao Profeta Muhammad e chama o trabalhador de “ignorante” por falar com sotaque.
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Seldowitz chega a ameaçá-lo com seus contatos em Washington, para mobilizar o serviço secreto do Egito contra a vítima e sua família. “O Mukhabarat vai pegar seus pais. Seu pai gosta das unhas? Eles vão arrancar tudo, um por um”.
Antes de ser preso, o diplomata afirmou à televisão que o vídeo foi tirado de contexto e que o vendedor expressou simpatia ao grupo Hamas — nenhum dos registros, porém, corrobora sua versão ou sequer menciona Gaza, salvo as declarações pró-genocídio do agressor.
“Os comentários que vão além dele [a vítima] e podem ser interpretados como ataques a muçulmanos e árabe-americanos e assim por diante, foram provavelmente inadequados”, alegou Seldowitz, ao negar uma retratação pública. “Aqueles em que digo que ele apoia o terrorismo, penso que estão certos”.
Em apoio ao vendedor, nova-iorquinos fizeram fila em sua barraca, no bairro de Upper East Side, em Manhattan, nesta terça-feira (21).
O Projeto Street Vendor, que trabalha com milhares de vendedores de rua em Nova York, descreveu a cena como “emocionante”: “Nova-iorquinos de todas as origens juntos … se posicionando contra o ódio e a islamofobia”.
Abordado pela Reuters sobre o caso, Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado, deferiu uma nota fria: “Os Estados Unidos inequivocamente se opõem a linguagem racista e discriminatória em qualquer maneira”. Novamente, sem retratação.
Desde 7 de outubro, Israel mantém bombardeios intensos contra Gaza, em retaliação a uma ação surpresa do Hamas que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados.
São 14.532 palestinos mortos em um mês e meio, incluindo seis mil crianças e quatro mil mulheres, além de mais de 35 mil feridos — cerca de 75% dos quais, crianças e mulheres. Quase 6.800 pessoas estão desaparecidas sob os destroços — provavelmente mortas.
Nos Estados Unidos, um surto de islamofobia se deflagrou, sob declarações inflamatórias do atual presidente Joe Biden — vice de Obama —, uma campanha de desinformação da mídia corporativa e perseguição a ativistas pró-Palestina.
Analistas, acadêmicos e manifestantes advertem para um clima de “macartismo”, análogo à conjuntura de “medo vermelho” e “guerra ao terror”.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
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