Um pacote de anúncios inflamatórios encaminhados ao Facebook, incitando violência e reivindicando um genocídio contra o palestinos, foi aprovado pela plataforma, revelou a rede de notícias The Intercept.
Os anúncios violam flagrantemente as próprias políticas declaradas do Facebook, ao conter chamados explícitos para “varrer do mapa as mulheres e crianças de Gaza”, assim como um “Holocausto para os palestinos”. No entanto, foram deferidos pelos filtros de moderação da rede.
“A aprovação desses anúncios é apenas a mais recente de uma série de fracassos da Meta contra o povo palestino”, comentou Nadim Nashif, fundador do grupo 7amleh, que realiza pesquisas e monitoramento nas redes sociais.
“Ao longo da crise corrente, vimos um padrão contínuo de claro viés e discriminação contra os palestinos por parte da corporação Meta”, acrescentou.
Os anúncios foram encaminhados em árabe e hebaico e contêm incitação aberta à violência contra a população civil dos territórios ocupados.
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Diante disso, a 7amleh decidiu testar os sistemas automatizados do Facebook e de suas redes afiliadas, que supostamente moderam e proíbem conteúdos nocivos. A postagem chegou a ser deletada após denúncias, mas persiste a dúvida sobre chamados à morte a grupos específicos e marginalizados.
Segundo o The Intercept, os anúncios foram pagos pela Ad Kan, grupo de direita israelense fundado por ex-oficiais do exército e do serviço de inteligência. Segundo seu website, a Ad Kan tem como alvo “organizações anti-Israel”.
No último ano, uma auditoria externa confirmou que o Facebook não tem sequer algoritmos para detectar conteúdo violento em hebraico contra populações árabes. Apesar de prometer melhorias, os anúncios mostram o contrário.
Segundo analistas, há duas hipóteses: ou as ferramentas de inteligência artificial promovidas pela Meta para conter “discursos de ódio” não funcionam ou não se aplicam quando grupos sionistas buscam promover o genocídio do povo palestino.
“Sabemos pelo que aconteceu com o povo rohingya em Myanmar que a Meta tem um histórico de ineficiência no que concerne à proteção de comunidades marginalizadas”, explicou Nashif. “Seu sistema de gestão de anúncios é particularmente vulnerável”.
Neste contexto, todavia, ativistas pró-Palestina são censurados no Instagram e Facebook, com páginas restritas e postagens arbitrariamente deletadas. A censura é especialmente agressiva contra conteúdos em árabe.
As discrepâncias entre o policiamento do discurso em árabe e hebraico renovaram receios sobre o viés do Facebook ao promover discursos de ódio.
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Erin McPike, porta-voz da rede, alegou que os anúncios foram aprovados por acidente.
“Apesar dos investimentos, sabemos que haverá exemplos de coisas que deixamos passar ou que são removidas por engano — afinal, máquinas e pessoas cometem erros”, declarou Erin. “Por isso, anúncios podem passar por várias análises, mesmo após serem postados”.
Para os palestinos, os anúncios são uma violência hedionda e demonstram que a plataforma dominante no mundo virtual carece de atenção a sua vida e sua dignidade. Em um ambiente carregado de racismo e discurso de ódio, as implicações no mundo real para tais políticas de “dois pesos e duas medidas” são mortais.
De fato, ativistas comprovaram que postagens no Facebook exerceram um papel fundamental em promover o genocídio de muçulmanos rohingya.
Desde 7 de outubro, Israel mantém bombardeios intensos contra Gaza, deixando 14.854 mortos, incluindo 6.150 crianças e mais de quatro mil mulheres, além de mais de 36 mil feridos — cerca de 75% dos quais, crianças e mulheres.
Cerca de sete mil pessoas estão desaparecidas sob os destroços — entre as quais, ao menos 4.700 crianças —, provavelmente mortas.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.