A “pausa humanitária” consentida entre Israel e o grupo palestino Hamas não basta para responder às demandas críticas da população de Gaza, alertaram o Centro Nacional para Cooperação de Desenvolvimento e a Plataforma Não-governamental pela Palestina, ongs sediadas na Bélgica e na França, respectivamente.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
A trégua teve início na manhã desta sexta-feira (24) e deve ser acompanhada de uma troca de prisioneiros israelenses por reféns palestinos detidos nas cadeias da ocupação — todos, mulheres e crianças.
A pausa deve permitir ainda a entrada de ajuda a Gaza, após mais de 45 dias de cerco militar — sem água, energia elétrica, assistência e combustível. Desde 7 de outubro, mais de 14.800 palestinos foram mortos pelos ataques israelenses — entre os quais, 6.150 crianças e quatro mil mulheres.
Pierre Motin, diretor da ong francesa, acolheu a decisão, mas destacou que não traz uma solução efetiva aos problemas que se acumulam.
“Acreditamos que apenas um cessar-fogo duradouro trará suspensão decisiva dos ataques indiscriminados contra a população civil de Gaza e permitirá transferência efetiva de ajuda humanitária tão desesperadamente necessária”,
comentou Motin.
Motin descreveu a situação em Gaza como “catastrófica”, ao observar que o território palestino sitiado foi “quase completamente aniquilado”.
A situação na Cisjordânia ocupada também é gravíssima, reiterou, com mais de 220 palestinos mortos por Israel desde 7 de outubro.
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Para Arnaud Zacharie, secretário-geral da ong belga, a pausa é “absolutamente insuficente”. Com a retomada dos bombardeios, será somente uma “dose de oxigênio” que “certamente não resolverá os problemas estruturais”, advertiu, ao reivindicar um cessar-fogo completo.
Zacharie reforçou a necessidade de se garantir respeito à lei internacional e retomar o diálogo para um acordo de paz sustentável entre as partes.
“Uma das lições da atual escalada é que a paz não beneficiaria apenas os palestinos, mas também os israelenses”, acrescentou.
Políticas de governo
O governo francês do presidente Emmanuel Macron expressou pleno apoio a Israel no início de sua campanha genocida em Gaza. Ministros belgas, entretanto, insistiram na urgência de cessar a violência contra civis.
Motin, neste contexto, pediu ao gabinete em Paris que garanta respeito à lei internacional, ao manter tais práticas como elemento basilar de sua política sobre a questão. “Paris deve intensificar sua pressão sobre Israel por um cessar-fogo”.
Para Motin, a crise agravou a polarização na sociedade francesa.
Zacharie observou que as ações do premiê israelense Benjamin Netanyahu prejudicam a paz, de modo que é preciso revisá-las. Para ele, Bruxelas, prestes a assumir a presidência rotativa da União Europeia, será “bastante proativa à matéria”.
“No que diz respeito ao tom geral do bloco europeu, precisamos esperar para ver como outros Estados-membros avançarão em sua postura”, argumentou Zacharie.
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A forma como França e Bélgica reagiram aos protestos populares pró-Palestina desde 7 de outubro tem amplo contraste. Macron proibiu boa parte das manifestações; contudo, sem aval do público.
“Consideramos que a França vivencia graves restrições à liberdade de assembleia desde 7 de outubro, como se demonstra pela proibição a diversos atos”, advertiu Motin.
No entanto, elucidou que, em 18 de outubro, o Conselho de Estado da França deliberou que protestos não podem ser banidos sistematicamente e que autoridades regionais devem usar cautela ao avaliar riscos à ordem pública.
“Pedimos à França que não obstrua manifestações cujo intuito é expressar solidariedade ao povo palestino, à medida que se respeite a liberdade de expressão”, reiterou.
Para Motin, respeitar os direitos humanos e a lei internacional é um valor “universal”, que transcende divisões societárias. “Muitos franceses, mesmo chocados com os ataques de 7 de outubro, veem os ataques contra a população civil de Gaza como inaceitáveis”.
Na Bélgica, há menos tensão. Conforme Zacharie, embora haja polarização, “a bússola geral remete ao direito internacional”. As relações entre público e governo também são distintas, reiterou o ativista.
“A polícia chegou a contactar ongs para auxiliá-la a organizar os atos. Autoridades preferem que as pessoas afetadas pelo conflito possam canalizar seus sentimentos via manifestações, em vez de atitudes que podem incorrer em desordem”, contrapôs Zacharie.
Desde 7 de outubro, Israel mantém bombardeios intensos contra Gaza, deixando 14.854 mortos, incluindo 6.150 crianças e mais de quatro mil mulheres, além de mais de 36 mil feridos — cerca de 75% dos quais, crianças e mulheres.
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Cerca de sete mil pessoas estão desaparecidas sob os destroços — entre as quais, ao menos 4.700 crianças —, provavelmente mortas.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.