A pausa humanitária de sete dias na Faixa de Gaza encerrou-se na manhã desta sexta-feira(1°) com a retomada de ataques aéreos por Israel.Dezenas de palestinos foram mortos, segundo oficiais de saúde. Vídeos registraram os primeiros funerais após a trégua.
As forças israelenses despejaram panfletos em partes já bombardeadas do sul de Gaza, para que os refugiados evacuem novamente a área — entretanto, sem ter para onde ir. Os alertas indicam intenções de expandir a ofensiva.
Eylon Levy, porta-voz do governo israelense, disse a repórteres que o Hamas ainda mantém137 prisioneiros.Em contrapartida, são cerca de dez mil palestinos nas cadeias da ocupação, número que dobrou durante a ofensiva a Gaza. A maioria, capturados na Cisjordânia, permanece em custódia sem julgamento ou acusação — reféns, por definição.Osama Hamdan, oficial sênior do movimento Hamas, confirmou à rede Al Jazeera que Israel negou todos os esforços para estender a trégua.
“A cada dia que passou deste cessar-fogo temporário, Israel agiu para sabotar todo oprocesso”, reportou Hamdan. “Ontem à noite, conversamos sobre estender a trégua,debatemos algumas opções sugeridas pelos mediadores. Aceitamos três alternativas;contudo, todas elas foram rejeitadas por Israel”.“Estávamos otimistas sobre os esforços, mas os israelenses insistiram em rechaçá-los”,acrescentou.
O governo francês lamentou o fim da trégua. “É uma notícia péssima, lamentável, porque não traz solução alguma e complica ainda mais questões que surgiram”, alertou Catherine Colonna, ministra de Relações Exteriores durante visita a Dubai.
James Elder, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), reiterou que as crianças de Gaza voltaram a um estado de trauma e pânico com a retomada dos ataques em todo o território costeiro.
“Era possível ver uma breve mudança, algum sinal de infância retornando a elas”, reportou Elder, ao visitar o sul de Gaza. “Isso foi embora. Vemos o trauma, o medo em seus olhinhos enquanto seus pais não podem protegê-las — é assustador”.
“Vemos as pessoas tremendo, em particular as crianças”, reafirmou Elder. “Vemos esses
reflexos que se tornaram agora um comportamento adquirido pelo medo cravando suasunhas novamente”.
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, observou: “O retorno das hostilidades mostra somente quão importante é ter um verdadeiro cessar-fogo humanitário.Ainda tenho esperanças de renovar a pausa”.Nasser Kanaani, porta-voz da chancelaria iraniana, destacou que Israel deu início a “uma nova rodada de assassinatos … com apoio continuado” da Casa Branca.“A responsabilidade legal e política para a continuidade da agressão e do massacre repousa sobre Israel e Estados Unidos e alguns dos poucos governos que ainda apoiam o regime de apartheid”, advertiu Kanaani.
Yusuf Alabarda, coronel reformado do exército turco, argumentou que a segunda fase decombates terá características distintas.
“O custo da guerra ao lado israelense é enorme. Por essa razão, embora o premiê BenjaminNetanyahu alegue compromisso em erradicar o Hamas do norte de Gaza para alcançar seus objetivos, a realidade é outra”, comentou Alabarda à Al Jazeera. “Netanyahu busca alcançar seus objetivos políticos, não os objetivos de Israel”.
Segundo Alabarda, “não é possível” erradicar os grupos da resistência palestina, pois o conflito não decorre do Hamas, em particular, mas de décadas de ocupação.
Israel mantém bombardeios a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação surpresado Hamas que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados. Cerca de 15 mil palestinos foram mortos nos 45 dias que antecederam a trégua, incluindo seis mil crianças e quatro mil mulheres.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.