Israel emprega um sistema de inteligência artificial (AI) para gerar alvos arbitrários em Gaza, tornando o território sitiado uma “fábrica de extermínio em massa”, confirmou a rede +972 Magazine em uma reportagem investigativa.
A tecnologia criou distinções notáveis em relação a operações militares prévias, ao produzir assassinatos indiscriminados e alto índice de fatalidade entre civis.
O exército de Israel tem dossiês sobre a maioria dos eventuais alvos em Gaza — incluindo o endereço de suas famílias —, determinando o número aproximado de civis mortos por cada ação. As baixas são calculadas e informadas de antemão às unidades de inteligência.
A reportagem corrobora o desdém da ocupação para com a vida humana, ao reiterar que o comando israelense têm ciência das baixas desproporcionais ao aprovar os ataques.
ASSISTA: MEMO analisa: Imprensa israelense questiona narrativa oficial sobre 7 de outubro
“Os números aumentaram de dezenas de mortes civis designadas como ‘danos colaterais’, como parte de um ataque a um único combatente, a centenas de mortes civis descritas da mesma maneira”, declarou uma fonte à rede +972.
A ampliação dos protocolos para escolher alvos coincide com a escalada nos bombardeios a infraestrutura civil sem qualquer natureza militar. Edifícios públicos e blocos residenciais são destruídos por completo, naquilo que o exército descreve como “alvos de poder”.
“Nada acontece por acidente”, comentou uma fonte. “Quando uma menina de três anos é morta em sua casa em Gaza, é porque alguém no exército decidiu que não teria problema em matá-la. Este é o preço pago para atingir um alvo”.
Soldados israelenses ‘libertam’ pássaros de casas palestinas em Nablushttps://t.co/bKnJ06D6ZV
— Monitor do Oriente (@monitordoorient) December 1, 2023
“Não somos o Hamas. Esses mísseis não voam às cegas. Tudo é intencional. Sabemos exatamente quais os danos colaterais em cada casa”, acrescentou.
A enorme mortalidade entre a população civil de Gaza decorre, em parte, da adoção de um sistema de inteligência artificial denominado “Habsora” — ou “O Evangelho”. O mecanismo recomenda alvos em um ritmo automatizado sem precedentes.
Ao citar ex-oficiais do exército, a reportagem esclarece que a tecnologia possibilita “mortes em escala industrial”, ao favorecer quantidade sobre qualquer moderação.
Logo no início da ofensiva contra Gaza, Daniel Hagari, porta-voz do exército israelense, admitiu: “A ênfase está nos danos e não na precisão”.
Embora a escala dos ataques não tenha precedentes, a ideia de devastação em massa a áreas civis para fins estratégicos foi formulada em ações prévias, por meio da chamada Doutrina Dahiya, a partir da invasão ao Líbano em 2006.
Segundo a doutrina — desenvolvida por Gadi Eizenkot, ex-comandante das Forças Armadas, agora deputado e membro do gabinete de guerra —, ao combater grupos de guerrilha como Hamas e Hezbollah, Israel deve usar força desproporcional contra alvos públicos e civis, para tentar dissuadir a população contra a resistência.
O conceito de “alvos de poder” emana desta lógica.
Nesta sexta-feira (1°), o exército israelense retomou seus ataques a Gaza, após sete dias de pausa para troca de prisioneiros.
Israel mantém bombardeios a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação surpresa do grupo Hamas que atravessou a fronteira e capturou colonos e soldados. Cerca de 15 mil palestinos foram mortos nos 45 dias que antecederam a trégua, entre os quais mais de seis mil crianças e quatro mil mulheres.
As ações de Israel são descritas como “exemplo clássico de genocídio” por especialistas no campo — incluindo sobreviventes do Holocausto. São também punição coletiva e crime de guerra.
LEIA: Israel não aprendeu nada com a ocupação sangrenta da Argélia pela França