Jornalistas da Al Jazeera são feridos por Israel em Khan Yunis, no sul de Gaza

Os jornalistas Wael al-Dahdouh e Samer Abudaqa foram feridos por um míssil disparado por um drone israelense perto da escola Farhan, na região de Khan Younis, na Faixa de Gaza. Ambos, funcionários da rede de notícias Al Jazeera cobriam a ofensiva israelense sobre a área

Al-Dahdouh foi atingido por um estilhaço no braço e levado às pressas para cuidados médicos no Hospital Nasser.

A situação de Abudaqa é mais dramática: paramédicos não conseguiram chegar ao local para resgatá-lo. “A ambulância enfrenta dificuldades para salvá-lo”, informou seu colega Hani Mahmoud, reportando de Rafah, ainda mais ao sul.

Conforme testemunhas, Israel lançou duros bombardeios e deflagrou disparos no centro de Khan Younis, impedindo as equipes de defesa civil de remover as baixas. A região abriga milhares de pessoas expulsas de suas casas no norte e centro de Gaza pela violência israelense.

Há relatos de que combatentes da resistência palestina buscaram impedir forças de infantaria do exército ocupante entrassem na região.

Wael al-Dahdouh chegou às manchetes internacionais há cerca de um mês e meio, quando um ataque ao campo de refugiados de Nuseirat, no centro de Gaza, resultou na morte de sua esposa, seu filho de 15 anos, sua filha de apenas sete e seu neto – que faleceu no hospital horas depois.

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Horas depois, al-Dahdouh estava de volta ao trabalho.

Samer Abudaqa é natural de Khan Younis e trabalha há um tempo como cinegrafista de al-Dahdouh, cobrindo não somente a guerra, mas outros incidentes. Ambos formam uma equipe profissional em campo que documento os fatos ao vivo sobre a situação do povo palestino.

Desde a deflagração da ofensiva israelense a Gaza, em 7 de outubro, ambos se mantêm na vanguarda de uma cobertura detalhada sobre os crimes de guerra perpetrados por Israel. São mais de 18 mil mortos e 50 mil feridos até então – 70% mulheres e crianças.

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) manifestou “profundo choque” sobre os ataques contra Wael al-Dahdouh e Samer Abudaqa. “Condenamos o ataque e reforçamos nossa demanda para que a vida dos jornalistas seja salvaguardada”, escreveu no Twitter (X).

O incidente se soma a ataques deliberados de Israel a profissionais de mídia, a fim de conter a cobertura dos fatos em Gaza e monopolizar as manchetes na forma de propaganda de guerra.

Ao menos 56 repórteres palestinos, além de quatro israelenses e três libaneses, foram mortos desde outubro, segundo estimativas compiladas pelo Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ). São ainda 11 feridos, três desaparecidos e 19 jornalistas presos pelas forças de Israel

Os correspondentes enfrentam ainda ameaças, ataques online, censura e luto por familiares mortos. Ao menos quatro jornalistas da Al Jazeera perderam parentes para a ofensiva israelense.

“O CPJ enfatiza que os jornalistas são civis que fazem um importante trabalho em tempos de crise e não devem ser alvejados por qualquer parte em conflito”, reiterou Sherif Mansour, coordenador regional da organização.

“Repórteres de toda a região fazem enormes sacrifícios para cobrir essa crise desoladora”, acrescentou. “Aqueles em Gaza, em particular, pagaram e ainda pagam um preço sem precedentes e sofrem ameaças cada vez maiores. Muitos perderam colegas, parentes e escritórios”.

Jodie Ginsberg, presidente do CPJ, descreveu a situação em Gaza como “conflito mais mortal aos jornalistas” registrado por sua organização em três décadas.

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“O papel dos jornalistas em uma situação como essa é essencial, sobretudo em Gaza onde vemos que instituições que costumam ajuda com tais registros deixaram a região”, lamentou Ginsberg. “Portanto, temos apenas os jornalistas de Gaza para fazer esse importante trabalho”.

“O fracasso dos governos internacionais para pressionar pelo fim do conflito está criando um senso de abandono cada vez maior entre a comunidade e sobretudo jornalistas da Palestina e de toda a região”, reafirmou.

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