O governo israelense pediu a famílias de prisioneiros de guerra mantidos pelo movimento de resistência Hamas na Faixa de Gaza que parem de protestar, declarou a emissora de televisão Canal 12, segundo informações da rede Al Jazeera.
Conforme a reportagem, o oficial responsável pela questão dos reféns instou os familiares a evitar manifestações, ao insistir que o governo “faz tudo que pode”.
No domingo (17), familiares dos prisioneiros israelenses organizaram um protesto no centro de Tel Aviv, ao bloquear uma via de acesso à sede do Ministério da Defesa. A obstrução durou 241 segundos (quatro minutos), para simbolizar o número de colonos capturados pela operação surpresa do Hamas em 7 de outubro.
Os manifestantes pediram “um plano imediato para reaver os reféns”.
O ato sucedeu a execução de três cidadãos israelenses por soldados israelenses na sexta-feira (15), no bairro de Shejaiya, na Cidade de Gaza. Segundo o próprio exército ocupante, as forças abriram fogo ao pensar se tratar de indivíduos palestinos.
O incidente causou revés de relações públicas a Israel, não somente ao expor a política racista da campanha ocupante, ao alvejar deliberadamente cidadãos palestinos, mesmo sem ameaça ou risco, como ao contrapor o pretexto da ofensiva em resgatar os reféns.
Somando controvérsia, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu admitiu em coletiva de imprensa obstruir o estabelecimento de um Estado palestino.
“Tenho orgulho de ter impedido a criação de um Estado palestino”, alegou o premiê, ao atacar a proposta internacional de solução de dois Estados. “Todo mundo sabe o que seria um Estado da Palestina agora que vemos um pequeno Estado palestino na Faixa de Gaza”.
“Todo mundo sabe o que aconteceria se capitulássemos à pressão internacional e déssemos aval a um Estado como na Judeia e Samaria [sic, Cisjordânia ocupada], cercando a cidade de Jerusalém e os subúrbios de Tel Aviv”, acrescentou.
A declaração distorcida de Netanyahu ignora os 16 anos de cerco criminoso contra o enclave costeiro, sob o qual o grupo Hamas se viu forçado a assumir a gestão pública de Gaza.
O posicionamento do premiê é também desmentido pelo fato de que a Autoridade Palestina, sob os Acordos de Oslo, tem somente autonomia parcial sobre a Cisjordânia, administrada de facto pelas forças ocupantes de Israel.
Nas três décadas desde Oslo, Israel manteve seus esforços de anexação colonial e construção de assentamentos ilegais em terras palestinas, sem nunca aceitar a formação de um Estado viável e soberano aos palestinos nativos.
Em contrapartida, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) entregou suas armas e reconheceu o Estado israelense, apesar de 75 anos de colonização no país.
Em setembro, antes de deflagrar a guerra em Gaza, Netanyahu exibiu na Assembleia Geral da ONU um mapa da “Grande Israel”, ao propor uma nova geopolítica ao Oriente Médio, na qual inexiste a Palestina. O plano inclui ainda anexação de terras de países vizinhos, como Líbano e Jordânia.
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Netanyahu se queixou de “herdar” os acordos de Oslo. “A decisão de trazer a OLP da Tunísia e plantá-la em Gaza e na [Cisjordânia] foi feita antes de eu me tornar primeiro-ministro. Foi um erro terrível”.
Netanyahu atacou o jornalista que lhe perguntou sobre a matéria. “Você e seus amigos da imprensa tem me culpado por quase 30 anos de freio sobre os acordos de Oslo e por impedir a formação de um Estado palestino”. Então confirmou: “Isso é verdade”.
Israel mantém uma brutal ofensiva contra Gaza desde 7 de outubro, deixando 20 mil mortos e 50 mil feridos – 70% dos quais, mulheres e crianças. Ao promover suas ações, Netanyahu recorreu a um discurso desumanizante, ao defender uma “guerra santa” contra “as crianças das trevas”.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.