O mercado de seguros marítimos do Reino Unido ampliou a área de “alto risco” no Mar Vermelho, em meio a uma escalada nas apreensões de barcos comerciais pela Marinha houthi do Iêmen, em protesto ao genocídio israelense na Faixa de Gaza.
A nova classificação foi confirmada via comunicado nesta segunda-feira (18), segundo informações da agência de notícias Reuters.
As avaliações do Comitê Conjunto de Guerra (em inglês, JWC), que abrange membros da Associação do Mercado de Lloyd (LMA), assim como companhias de seguro sediadas em Londres, são utilizadas para influenciar transações e contratos.
O comitê estendeu a zona de risco 18 graus ao norte, três graus acima da análise prévia. A mesma extensão foi aplicada aos mares da Eritreia.
Segundo Neil Roberts, chefe de Marinha e Aviação da LMA, a extensão “reflete sobretudo o alcance de mísseis”. “Porém, serve mais de alerta a seguradoras do que a proprietários, que já estão cientes dos riscos demonstrados pelas rotas”, acrescentou.
LEIA: Refaat Alareer: Uma voz corajosa que nunca morrerá
Os houthis no Iêmen intensificaram sua campanha contra embarcações ligadas a Israel no Mar Vermelho, em apoio aos palestinos de Gaza, sob bombardeios da ocupação.
Além de apreender navios, os houthis lançaram mísseis em direção a embarcações que ignoraram seus alertas, na travessia estratégica de Bab al-Mandab, levando empresas a redirecionar suas rotas ao caminho muito mais extenso do Cabo da Boa Esperança.
As embarcações devem notificar suas seguradoras ao seguir viagem a áreas de risco e pagar cotas adicionais, tradicionalmente por um período de cobertura de sete dias.
Dois navios mercantes foram alvejados por drones na segunda-feira, reivindicou o grupo.
Yahya Sarea, porta-voz do grupo houthi, identificou as embarcações como MSC Clara e Swan Atlantic – de bandeira panamenha e norueguesa, respectivamente. Ambas as tripulações se recusaram a responder aos alertas da Marinha iemenita.
O proprietário do Swan Atlantic confirmou que o barco foi atingido por um “objeto não-identificado”, sem feridos.
Duas corporações de frete – inclusive a MSC (Mediterranean Shipping Company), líder do mercado – alertaram previamente para que embarcações filiadas evitem o Canal de Suez, devido às ações do grupo houthi, que governa o Iêmen.
Suez, administrado pelo Egito, leva ao Mar Vermelho, leva a Europa e Ásia – passando por Gaza e Israel. O canal foi construído para reduzir tempo e custo de rotas que contornam o continente africano via Boa Esperança, na África do Sul.
Aumento nos custos
As ações incitaram receios à economia global, em particular, à passagem de petróleo e grãos pela importante rota comercial do Mar Vermelho e do Golfo de Aden, elevando os custos de seguro e transporte pela região.
A Corporação de Transporte Marítimo Yang Ming, de Taiwan, confirmou desviar suas rotas ao Cabo da Boa Esperança na próxima quinzena. A Frontline, corporação de transporte de petróleo da Noruega, também reportou evitar as rotas supracitadas.
“Contratos de seguro de guerra estão naturalmente em alta; à medida que as remessas são reorientadas em torno da África, o suprimento pode cair, dado que as cargas viajarão mais”, declarou Lars Barstad, diretor executivo da Frontline, à Reuters. “Isso pode por as taxas sob pressão elevada”.
O custo do contrato de seguros subiu a 0.5-0.7% do valor da carga no começo de dezembro, muito acima de cotações de 0.07% antes da guerra. Apesar de alguns descontos, estima-se prejuízo de milhares de dólares a cada remessa, com prazo de sete dias.
Munro Anderson, chefe de operações da Vessel Protect, defendeu a extensão da área: “Operadores comerciais são assegurados com certo grau de conforto, ao saber que há consistência na cobertura por toda a área de risco”.
“Os operadores podem enfrentar problemas contingentes por mísseis”, insistiu Roberts, da LMA. “É uma situação fluida e imprevisível e é melhor termos tudo isso em mente”.
Há ainda receios de que grupos somalis se juntem aos houthis ao abordar navios de carga, após a suposta abdução de um barco europeu na última semana.
“Antes mesmo do MV Ruen [o barco apreendido], seguradoras tinham em mente alertas de risco no Oceano Índico, perto da costa da Somália”, explicou Roberts. “Os eventos mostram que ainda é preciso cautela e informação”.
Israel mantém ataques brutais contra Gaza desde 7 de outubro, deixando 19.453 mortos e 52.286 feridos – 70% mulheres e crianças. A campanha israelense desestabilizou o Oriente Médio e Norte da África – região já volátil pela presença colonial estrangeira.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.