Deputado francês pede investigação de 4 mil soldados por crimes de guerra em Gaza

Thomas Portes, deputado do partido oposicionista La France Insoumise (França Insubmissa), reivindicou do governo do presidente Emmanuel Macron que investigue o envolvimento de 4.185 soldados franco-israelenses por cometer crimes de guerra na Palestina ocupada.

Na rede social X (Twitter), Portes anunciou encaminhar uma carta ao ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, pedindo a abertura de um inquérito sobre cidadãos franceses que servem o exército de Israel, em particular, na Faixa de Gaza sitiada.

Portes exigiu justiça caso provado que os agentes violaram a lei internacional, sobretudo ao atacar populações e estruturas civis. O deputado indicou ainda que encaminhará um pedido à Procuradoria Geral da República sobre a matéria.

“Crimes de guerra são cometidos pelo exército israelense em Gaza e na Cisjordânia”, afirmou Portes. “E é inaceitável que cidadãos franceses participem disso”.

Portes reiterou que a França está em segundo no ranking internacional de cidadãos a serviço das Forças Armadas de Israel na Faixa de Gaza, apenas após os Estados Unidos.

Sanções a colonos

Em coletiva de imprensa junto de seu homólogo britânico, David Cameron, na terça-feira, a ministra de Relações Exteriores, Catherine Colonna, confirmou sanções a grupos específicos de colonos extremistas na Cisjordânia ocupada, ao condenar a escalada “inaceitável” contra os palestinos nativos.

“Pude ver com meus próprios olhos a violência cometida por alguns desses colonos radicais; é inaceitável”, relatou Colonna, após visitar o território designado Israel e a Cisjordânia, onde conversou com produtores de oliveiras cujas terras foram tomadas por colonos ilegais.

Segundo o jornal Times of Israel, as sanções devem incluir revogação de visto de entrada e o congelamento de bens.

Colonna fez coro a Espanha e Irlanda ao pedir coordenação da União Europeia nas medidas adotadas. Washington prometeu o mesmo a colonos que cometam atos de violência contra os palestinos na Cisjordânia, em alerta emitido pelo secretário de Estado, Antony Blinken.

Desde o início da campanha de bombardeios israelenses a Gaza, em 7 de outubro, dezenas de aldeias palestinas sofreram pogroms nas mãos de colonos armados pelo Estado, sob um discurso de incitação messiânica que corrobora intenções de limpeza étnica.

O genocídio em curso é descrito como “nova Nakba” pelos palestinos nativos — em alusão à Nakba ou “catástrofe” de 1948, quando 800 mil pessoas foram expulsas de suas terras para permitir a criação do Estado de Israel, sob massacres cometidos por milícias sionistas.

Conforme o The Guardian, colonos tomaram controle de 10% da chamada Área C em apenas cinco anos. Somente em 2022, foram 110 km² praticamente anexados por Israel. A título de comparação, a área construída dos assentamentos impostos desde 1967 cobre 80 km².

Dados da ong israelense Peace Now mostram que há cerca de 694 mil colonos radicados em 145 assentamentos e 140 “postos avançados” — ilegais mesmos sob a lei israelense —, em terras ocupadas da Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Todos os colonos e assentamentos são ilegais sob o direito internacional.

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Crise interna

A França, assim como outros aliados ocidentais de Tel Aviv, vive crise interna, manifestações e divergência política. A extrema-direita — notavelmente islamofóbica — apoia a ocupação colonial israelense.

O governo liberal de Macron mantém seu alinhamento com Israel e a Casa Branca; contudo, passou a adotar uma retórica mais dura ao pedir a cessação das hostilidades.

Divergências se agravaram com a morte de um diplomata francês em Gaza, após um ataque israelense a sua casa. Ahmed Abu Shamla serviu ao consulado por 20 anos. Parte da família foi resgatada da região, mas ele preferiu ficar com seus filhos adultos, excluídos de uma lista de evacuação.

“A residência foi bombardeada na noite de quarta-feira (13), ferindo fatalmente o diplomata e matando dezenas”, reportou a chancelaria em Paris.

Na segunda-feira, a presidente do Parlamento francês, Yaël Braun-Pivet, colega de partido de Macron, negou um pedido para respeitar um minuto de silêncio em memória do diplomata.

Promotores de esquerda em Paris condenaram o episódio, ao exigir sanções contra o regime israelense. Deputados acusaram o governo de falhar em proteger sua família.

Sandrine Rousseau, deputada do Partido Verde, reafirmou: “É essencial aumentar a pressão sobre Israel”. E questionou: “Qual seu objetivo em Gaza? Destruir o território? Deslocar sua população? Não podemos deixar que continue a acontecer tudo isso que vemos com nossos próprios olhos. Precisamos explorar a opção de sanções a Israel”.

Rousseau observou não lembrar de “tantos jornalistas perdendo a vida em tão curto tempo, em qualquer conflito prévio, sem quaisquer resultados tangíveis”.

Desde outubro, a campanha israelense em Gaza deixou 20 mil civis mortos e 50 mil feridos, além de dois mil deslocados internos. A maioria das vítimas são mulheres e crianças.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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