O dia de Natal na Cisjordânia ocupada amanheceu com uma invasão israelense ao campo de refugiados de Jenin, entre outras cidades e aldeias, e diversas prisões.
A incursão das primeiras horas da manhã desta segunda-feira, 25 de dezembro, antepôs-se a uma série de outras operações militares em todo território palestino, incluindo dezenas de detidos e um jovem de 17 anos baleado no pescoço.
Entre as cidades alvejadas esteve Belém, local do nascimento de Jesus Cristo, de acordo com a tradição religiosa.
Jenin — frequentemente vista como símbolo da resistência nacional na Cisjordânia, frente à ocupação — foi alvejada diversas vezes desde que Israel deflagrou seu genocídio a Gaza, em 7 de outubro.
Desde então, Israel dobrou a população carcerária palestina nas cadeias da ocupação, com quase cinco mil novos detidos. Em Gaza, são 20.674 mortos pelos bombardeios israelenses, além de 54.536 feridos e dois milhões de desabrigados.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
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Em Jenin, o popular Teatro da Liberdade foi invadido e vandalizado por soldados ocupantes. Segundo testemunhas, as forças coloniais “incendiaram o céu com bombardeios”, ao invadir o campo de refugiados.
Imran Khan, correspondente da rede de notícias Al Jazeera em Jenin, reportou que dez casas foram invadidas durante a operação; porém, sem novos detidos no campo de refugiados. Ao norte, no entanto, na aldeia de al-Jalama, nove jovens foram presos.
“Forças israelenses gritaram para que combatentes palestinos saíssem e se rendessem, mas nada disso aconteceu. Residentes nos disseram que se trata de mera campanha de assédio”, declarou Khan.
Nablus, Jericó, Ramallah e Belém também foram atacados.
Na aldeia de Burqa, a noroeste de Nablus, soldados prenderam ao menos 20 pessoas, entre as quais idosos. Em Aqaba, ao norte de Tubas, forças coloniais atiraram munição real contra a população, ferindo um jovem de 17 anos no pescoço, segundo a agência Wafa.
Um residente de Tubas foi preso.
Escalada na Cisjordânia
Para justificar sua agressão contra a população civil de Gaza, Israel alega atacar o movimento de resistência Hamas. Na Cisjordânia, governada pelo partido Fatah, na forma da Autoridade Palestina, o grupo islâmico tem, entretanto, presença bastante limitada.
Na Cisjordânia, são 303 mortos em 80 dias, além de uma escalada em pogroms perpetrados por colonos ilegais armados e instigados pelo governo de Israel. São mais de 700 mil colonos instalados ilegalmente em assentamentos fortificados em terras palestinas.
Os ataques coloniais incluem agressões a arma de fogo, faca, pedras e linchamento, além de incêndios criminosos contra residências, veículos e terras produtivas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), “em quase metade dos incidentes, soldados israelenses escoltam ou efetivamente apoiam os agressores”.
A escalada colonial gerou uma crise de política externa ao Estado sionista, além de uma crise de relações públicas que tomou corpo com o genocídio em Gaza. Estados Unidos e países da Europa prometeram sancionar colonos “extremistas”.
Durante a reunião semanal de seu gabinete no domingo (24), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ratificou a decisão de orientar outros US$21 milhões em apoio a novos assentamentos na Cisjordânia ocupada.
Todos os colonos e assentamentos israelenses nas terras ocupadas de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia são ilegais conforme a lei internacional.
Neste ano, a cidade de Belém está de luto. Não há árvore de Natal, iluminação ou turistas. A cidade está no âmago da campanha israelense de limpeza étnica contra o povo palestino — conterrâneos de Jesus.
A mensagem da congregação em Belém é uma só: solidariedade a Gaza.
Nesta conjuntura lúgubre, uma poderosa escultura surgiu: uma versão dentre os escombros das imagens tradicionais da Sagrada Família, em frente à Basílica da Natividade. As imagens buscam refletir a jornada de Cristo, Maria e José ao fugir de Belém, como refugiados de um império opressor, antes de regressar a Nazaré, há mais de dois milênios.
Entre entulho e arame farpado, a Virgem Maria abraça o Menino Jesus, enquanto José busca consolar a esposa. De um lado, os Reis Magos carregam uma mortalha branca. Do outro, um pastor carrega uma trouxa, símbolo do reiterado exílio palestino.
Anjos, suspensos sobre as ruínas, representam as crianças mortas pelas sucessivas chacinas em terras palestinas no decorrer da história: nas mãos de Herodes, na época de Jesus, e dos sucessivos impérios que tomaram a região, dos romanos aos cruzados, até as ações vigentes da colonização israelense.
Sobre a escultura, um mapa de Gaza, junto a uma explosão, forma uma estrela, inspirada na Estrela de Belém, que guiou os Reis Magos ao nascimento de Jesus. A mensagem, apesar do luto, é de esperança.
Nos arredores, painéis nos mais diversos idiomas pedem cessar-fogo.
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Conforme Hana Hanania, prefeita de Belém, a obra busca dar corpo ao sofrimento ainda em curso do povo palestino. Israel mantém ataques a instalações civis, incluindo igrejas, abadias e sítios arqueológicos da primeira Cristandade, na Faixa de Gaza.
O artista, Tarek Salsaa, destacou que a cena é incapaz de expressar plenamente a destruição e o genocídio enfrentado pelo povo palestino. Segundo Salsaa, a Palestina sofre colonização que ecoa diversas fases de sua própria história.
“O Natal se avizinha e nos vemos nas mais difíceis circunstâncias, devido ao que sofre o povo sitiado de Gaza, e as cidades, aldeias e campos de refugiados da Cisjordânia e de Jerusalém”, observou Rula Maayaa, ministra do Turismo da Autoridade Palestina.
“À medida que lançamos essa iniciativa em Belém, nosso povo se mantém confiante de que a mensagem do Natal, trazida a nós por um mensageiro da paz, triunfará sobre a injustiça e a tirania”, concluiu Maayaa.