Israel mata vice-líder do Hamas, Saleh al-Arouri, em ataque ao Líbano

Israel assassinou nesta terça-feira, 2 de janeiro de 2024, Saleh al-Arouri, vice-líder do gabinete político do movimento palestino Hamas, em um ataque a drone contra o sul de Beirute, capital do Líbano.

Al-Arouri, considerado segundo em comando do movimento Hamas, foi abatido por ataque de precisão, conduzido a drone, contra seu apartamento na região de Dahiyeh, perto da rodovia Hadi Nasrallah, na periferia sul da capital libanesa.

Cinco outras pessoas foram mortas pelo ataque.

Segundo alegações israelenses, Dahiyeh abriga também líderes do Hezbollah.

O movimento Hezbollah, ligado ao Irã, respondeu com um ataque no lado leste da fronteira. Segundo o grupo, “armas apropriadas” resultaram em baixas israelenses.

Em um obituário elogioso a al-Arouri, o Hezbollah reiterou que o assassinato não demoverá o apoio à resistência palestina, seja no Líbano, Síria, Iraque ou Iêmen.

“Consideramos o assassinato criminoso de Saleh al-Arouri e seus companheiros no coração de Beirute uma perigosa agressão contra o Líbano e seu povo, sua segurança e soberania”, reafirmou o grupo.

“Nós, no Hezbollah, enfatizamos que esse crime não passará sem resposta e que se mantém nossa promessa de resistência, firme e leal a seus princípios e seu compromisso, com nossos combatentes no mais alto nível de prontidão”, acrescentou.

Em novembro, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou ordenar ao Mossad, agência de espionagem do Estado ocupante, que eliminasse todos os líderes do grupo palestino, independentemente de onde estivessem.

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À rede MSNBC, Mark Regev, assessor de Netanyahu, hesitou em assumir responsabilidade pelo ataque, mas afirmou: “Quem quer que tenha feito, sejamos claros: não foi um ataque ao Estado libanês. Foi um ataque cirúrgico contra a liderança do Hamas”.

O premiê interino do Líbano, Najib Mikati, condenou o bombardeio ao descrevê-lo como “novo crime de Israel” e acusar o vizinho ao sul de tentar arrastar o país levantino — em crise política, econômica e social há quase cinco anos — a uma guerra aberta.

Abbas Ibrahim, chefe da Diretoria de Segurança Geral do Líbano, disse na plataforma social X (Twitter) que o episódio é uma tentativa israelense de “trocar de front, após não conseguir uma vitória em Gaza, senão crimes de guerra e sucessivos massacres”.

Ibrahim questionou o destino da Resolução 1701 do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que impôs um cessar-fogo entre Israel e Líbano em 2006.

O Ministério de Relações Exteriores do Irã condenou o assassinado de al-Arouri, ao apontá-lo como resultado da “dura derrota [de Israel] nas mãos da resistência palestina”.

“Condenamos as violações da soberania e integridade territorial libanesa pelo regime sionista”, reiterou a chancelaria.

Protestos tomaram a Cisjordânia ocupada, em particular nos arredores de Ramallah, onde uma greve geral foi convocada para quarta-feira (3).

Conforme Ismail Haniyeh, chefe político do Hamas, al-Arouri deixa como legado “homens fortes que defenderão sua terra”.

Haniyeh descreveu a ação israelense como “agressão brutal” e “crime flagrante que mostra, mais uma vez, a brutalidade da ocupação contra os povos”. No entanto, reiterou: “Esta é a história da resistência, nos tornaremos mais determinados do que nunca”.

Ao apontar responsabilidade da ocupação pelas repercussões do ataque, destacou Haniyeh: “Trata-se também de uma violação da soberania libanesa, ao refletir a expansão do escopo da agressão contra nossos povos e nossos países”.

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Al-Arouri, de 51 anos, nasceu em Aroura, perto de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, em 1966. Era bacharel em direito islâmico (sharia) pela Universidade de Hebron (Al-Khalil), também na Cisjordânia.

Al-Arouri foi cofundador das Brigadas Izz-al Din al-Qassam, braço armado do Hamas.

Al-Arouri vivia no exílio há anos, após passar 15 anos nas cadeias da ocupação israelense.

Nas últimas semanas, agiu como porta-voz do Hamas sobre o conflito em Gaza. Em dezembro, disse à rede de notícias Al Jazeera que o movimento não discutiria uma nova troca de prisioneiros sem negociar primeiro um cessar-fogo no território costeiro.

“A resistência está pronta para todos os cenários militares”, observou al-Arouri na ocasião. “Não há medo ou hesitação por parte da resistência. Venceremos”.

Em outubro, forças israelenses demoliram arbitrariamente a casa de sua família perto de Ramallah.

Em 7 de outubro, combatentes do Hamas cruzaram a fronteira entre a Faixa de Gaza sitiada e o território designado Israel — expropriado durante a Nakba, ou “catástrofe” palestina, em 1948, mediante limpeza étnica.

A ação de resistência, denominada Operação Tempestade de Al-Aqsa, em resposta aos 17 anos de cerco militar a Gaza e às violações cotidianas em Jerusalém e na Cisjordânia, surpreendeu Tel Aviv, ao capturar colonos e soldados.

Israel retaliou com uma campanha indiscriminada de punição coletiva contra os 2.4 milhões de habitantes de Gaza, a fim de expulsá-los ao deserto do Sinai. Cerca de 60% da infraestrutura foi destruída, 22.185 pessoas foram mortas e outras 57.035 ficaram feridas.

A grande maioria das vítimas são mulheres e crianças.

O exército da ocupação israelense lançou ainda disparos a aldeias no sul do Líbano, contra supostos alvos do Hezbollah, grupo xiita influente no país.

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Entre os ataques de Israel contra os territórios palestino e libanês, está o uso documentado de mísseis americanos de fósforo branco, substância proibida que causa queimaduras graves e destrói o ecossistema.

Analistas alertam para o risco do conflito se disseminar pela região e além.

As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.

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