O livro “A Guerra de Guerrilhas” é uma referência para movimentos de resistência armada contra exércitos opressores em todo o mundo. Escrito pelo revolucionário argentino Che Guevara após a vitória da Revolução Cubana em 1959, o livro traz uma síntese aplicada de sua experiência com táticas de guerrilha na ocasião.
O autor dá enfoque a três princípios básicos para servir de alicerce para a guerra de guerrilhas. Primeiro, a possibilidade de forças populares derrotarem exércitos regulares com meios pouco ortodoxos. Segundo, a costumeira falta de condições revolucionárias apropriadas, de modo que é preciso agir para mobilizá-las. Então, virar a mesa: tornar o campo uma arena favorável ao movimento revolucionário para depois se expandir às zonas urbanas.
Che dizia o ataque rápido e repentino é uma das táticas mais importantes utilizadas pelas forças de guerrilha, a fim de alcançar êxito em batalhas breves para então recuar a áreas familiares, minimizando baixas e forçando o inimigo a confrontos abertos.
Para o combatente argentino, era preciso impor pressão contínua para que os soldados inimigos jamais tenham sequer tempo para se sentir confortáveis. A resistência deve ser implacável em suas operações no campo de batalha, para que os invasores sejam dissuadidos de sua presença, subjugados a um alto custo moral.
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Ao contrapor a natureza da guerrilha aos exércitos regulares, Che destacava a flexibilidade como uma das características mais importantes dos grupos de resistência armada, uma vez que as funções e condições de combate diferem drasticamente. A resistência, segundo sua experiência, demanda flexibilidade para explorar plenamente suas possibilidades e capacidades militares e alcançar, portanto, o maior impacto possível às forças agressoras ou ocupantes, frequentemente muito superiores tanto em termos de número quanto de arsenal.
O dia não é como a noite
Táticas de combate e resistência diferem durante o dia e durante a noite. Sob a claridade do sol, a resistência precisa usar meios de cobertura — seja árvores ou mesmo escombros urbanos, como no atual caso de Gaza — para proteger seus postos táticos e preservar seus avanços. À noite, é hora de atacar: é o momento em que as patrulhas inimigas, que desconhecem ou pouco conhecem o terreno, estão mais vulneráveis, e podem ser confrontadas diretamente em áreas abertas. Ambos os casos exigem cooperação entre resistência e população — um apoio muito comum, dado que combatentes são sobretudo os filhos da população oprimida.
Esforços econômicos
Che também estava interessado em apontar o estabelecimento de coletivos produtivos, como grupos operários e camponeses, agindo em uníssono, para contribuir com a resistência, seja em suporte, seja ao fornecer informações.
Para Che, a colaboração dos meios de produção, não somente em campo, como no exterior, era um meio de impactar negativamente os recursos econômicos do inimigo, ao cortar suas redes de abastecimento, seja por ação direta, seja por atos de greve e boicote de organizações de base.
As lições de Che Guevara ecoam na arena palestina, em meio ao genocídio conduzido por Israel na Faixa de Gaza sitiada. Desde novembro, as forças palestinas passaram a adotar uma curiosa tática de guerrilha sobre os escombros deixados pelos bombardeios da ocupação. Combatentes jovens gravam suas operações e levam à internet, onde viralizam, deixando um impacto moral à campanha invasora.
Che Guevara é uma das maiores personalidades na luta contra a opressão, a colonização e o imperialismo do século XX. Em um mundo que parece manter vícios da colonização de outrora, sua experiência em Cuba e em toda a América Latina ainda são profundamente relevantes para o sonho da libertação dos povos.
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