A professora-doutora Claudine Gay, primeira mulher negra a chegar à presidência da prestigiosa Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, foi forçada a renunciar sob uma forte campanha de difamação lançada por ideólogos e apoiadores sionistas.
A renúncia da proeminente pesquisadora em Estudos Africanos e Afro-americanos foi celebrada por correligionários do Estado de apartheid.
Em dezembro, Gay foi convocada ao Congresso dos Estados Unidos para esclarecer a posição de Harvard sobre alegações de “antissemitismo” no campus, em referência a críticas legítimas de estudantes e professores à ofensiva militar israelense contra a Faixa de Gaza.
Ao rejeitar uma adesão incondicional à narrativa sionista, Gay reafirmou o direito à liberdade de expressão em casos de críticas políticas da comunidade acadêmica. Todavia, foi rechaçada tanto por republicanos quanto democratas e pressionada a deixar o cargo.
Diante da perseguição à colega, Bernie Steinberg, ex-diretor da Harvard Hillel, que representa a comunidade judaica no campus, condenou o que descreveu como “uso cínico do antissemitismo como arma por forças poderosas, para intimidar e silenciar críticas legítimas a Israel e à política americana” sobre o Estado sionista.
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Steinberg reiterou se tratar de um problema de longa data.
Suas declarações chamaram atenção à perseguição política contra Gay, incluindo uma acusação de plágio apresentada pelo ativista de direita Christopher Rufo.
Segundo informações, Rufo confirmou a tática à rede BBC, ao observar: “Lançamos a história do plágio de Claudine Gay de nosso campo político. Então levamos à imprensa esquerdista [sic] e a figuras de centro-esquerda que podem derrubá-la. Por fim, basta apertar um pouco”
Em sua carta de renúncia, Gay relatou estar “submetida a ameaças e ataques pessoais incitados por animosidade racial”, ao reafirmar que, nas últimas semanas, defendeu mais iniciativas para “combater a intolerância e o ódio em todas as suas formas”.
Líderes afro-americanos defenderam Gay.
“Quão triste, apesar de previsível, que as mesmas figuras que promovem a limpeza étnica e os ataques genocidas contra os palestinos de Gaza […] pressionem para destituir a primeira mulher negra a presidir Harvard”, declarou o presidenciável, pesquisador e ativista Cornel West, em sua página do Twitter (X).
Em 2021, West denunciou o viés antipalestino de Harvard em sua própria carta de renúncia do corpo docente: “Tamanho racismo contra palestinos e negros é inegável e deplorável! Vivenciei ataques como esse das mesmas forças na academia, enquanto muitos de meus colegas ficaram em silêncio”
“Quando o grande capital dita a política acadêmica e a força bruta dita a política externa, corre solta a falência moral da democracia e da educação americanas”, acrescentou West, na ocasião. “Contudo, devemos continuar fortes, em nossa luta por Verdade, Justiça e Amor!”
O deputado democrata Jamaal Bowman, que compõe o grupo progressista de Rashida Tlaib — primeira parlamentar de raízes palestinas a chegar ao Capitólio — alertou para uma perseguição “fascista” que derrubou Gay.
“Não se trata de plágio ou antissemitismo”, destacou Bowman, também professor. “Se trata de racismo e intimidação, que não dá segurança a ninguém. Os únicos vencedores são os fascistas que intimidaram uma mulher negra brilhante e histórica a renunciar”.
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“O ano de 2024 será uma longa batalha por verdade, democracia e nossa humanidade coletiva”, acrescentou.
A ofensiva a Gay soma-se à moção de repúdio contra Tlaib em uma onda macartista que tomou os Estados Unidos contra eventuais apoiadores da causa palestina. A perseguição política chega até mesmo a acossar judeus antissionistas que denunciam o genocídio, incluindo sobreviventes do Holocausto.
A campanha levou à demissão, por exemplo, das atrizes de Hollywood Melissa Barrera e Susan Sarandon, entre outras ações intimidatórias na indústria do cinema.
Israel mantém ataques implacáveis contra Gaza desde 7 de outubro, deixando 22.185 mortos e quase 58 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados. Os massacres israelenses deixaram Gaza em ruínas, sob profunda crise humanitária.
Cerca de 60% da infraestrutura local foi destruída ou danificada, em meio a um cerco absoluto imposto por Israel que priva os habitantes carentes de luz, água, comida e medicamentos.
As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.