No coração da Cidade Velha de Gaza repousa a Grande Mesquita Omari, local que testemunhou a ascensão e queda de impérios e conquistadores, carregando em suas pedras contos ancestrais. Desde um templo pagão da Filisteia antiga a mesquita, igreja e novamente mesquita.
O que certa vez foi um símbolo majestoso de devoção e arquitetura, hoje virou escombros, como prova assustadora do impacto devastador da guerra israelense em curso contra a Faixa de Gaza sitiada, sob sucessivos bombardeios indiscriminados.
Ao entrar pelas portas antigas da mesquita, você se encontra cercado de um santuário que murmura segredos do passado, em um monumento cujas fundações remontam à Antiguidade.
De um templo pagão na Filisteia a igreja, mesquita, novamente igreja, e enfim mesquita, o que certa vez foi um símbolo majestoso de devoção e grandeza arquitetônica, o santuário vivenciou inúmeras transformações que refletem as marés da história na Terra Santa.
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Segundo a lenda, a mesquita está no lugar de um antigo templo filisteu da divindade Dagon, ligada à fertilidade e à água, que inspirou o mito das sereias. Transformados pelas eras, se tornou a Catedral de São João Baptista, por obras dos romanos, em torno de 406 d.C.. Durante o califado omíada, em torno de 700 d.C., a catedral foi convertida em mesquita e rebatizada em homenagem a Omar Ibn al-Khattab, um dos primeiros governantes do Islã. No século XI, durante as Cruzadas, voltou a ser igreja.
Registros documentados da mesquita datam do início do século XII, durante o reino do sultão aiúbida Salah al-Din (Saladino), cujas vitórias frente aos invasores cruzados mudaram a paisagem do Levante. Sob Saladino, a mesquita preservou sua mistura de influências arquitetônicas, com elementos bizantinos, cruzados e islâmicos — todos reunidos em uma obra de arte de tirar o fôlego. Seu minarete foi construído pelos mamelucos, com um estilo típico: fundação quadrada e torre octogonal.
À noite, o chamado à oração ecoava melodiosamente e toda a mesquita se transformava. Luzes davam ao local um brilho tranquilo, como um retrato de serenidade contra uma cidade que não para em uma região repleta de atribulações.
A Grande Mesquita Omari atraiu centenas de fiéis muçulmanos ao longo dos anos, assim como pessoas em busca de abrigo, ao longo dos períodos mameluco, otomano e britânico na Faixa de Gaza.
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A Grande Mesquita Omari é mais do que um monumento de pedra e alvenaria. Cada pilar e cada arco continham histórias, histórias de guerra e histórias de paz, de fé e resiliência, ligando passado e presente. As preces sussurradas ecoam nas paredes, e agora nas ruínas, reverberando um coro de devoção que transcende os séculos.
A Grande Mesquita Omari resistiu a enormes tempestades, literal e figurativamente; porém, vive hoje mais um tumulto — familiar, contudo apavorante.
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