Segundo a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, o Brasil acolheu mais de 9 mil refugiados afegãos nos últimos anos.
Em entrevista para a ONU News, o representante da agência no Brasil, Davide Torzilli, disse que as oportunidades de trabalho são um fator que contribui para o processo de integração dessa população no país.
Razões para o deslocamento
“Até agora, isso é um dado do Ministério do Trabalho do Brasil, mais de 700 afegãos estão incluídos no mercado formal no Brasil. Então isso demonstra a grande oportunidade e possibilidade que o Brasil tem de integrar até pessoas refugiadas de outras regiões do mundo, com possibilidade também de um emprego formal. Os refugiados afegãos chegam com um nível educacional muito alto. Muitos entre eles falam inglês, não todos, mas muitos falam inglês, então eles também conseguiram aceder a oportunidades de trabalho em empresas privadas aqui no Brasil”.
Torzilli afirmou que o agravamento da situação humanitária no Afeganistão nos últimos dois anos, juntamente com as restrições impostas pelo regime Talibã, incluindo a privação de educação e trabalho para milhões de mulheres e meninas, é uma das razões centrais do deslocamento forçado.
LEIA: Do trauma ao troféu: Atletas refugiados inspiram o mundo dos esportes
“Os perfis que estão chegando ao Brasil são perfis de famílias, mulheres que trabalhavam ou tinham acesso à educação no Afeganistão e agora não conseguem ter acesso ao trabalho, não podem seguir trabalhando e têm experimentado um nível de violência que forçaram elas a sair do país. Esses são os perfis principais que recebemos aqui no Brasil”.
Primeira comunidade afegã no Brasil
O representante do Acnur destaca que o Brasil recebeu, no transcurso de décadas, refugiados de várias partes do mundo, que contribuíram para o caráter multicultural do país.
No entanto, ele afirma que esta é a primeira comunidade afegã que está se formando no Brasil. Diferentemente de nacionalidades como sírios ou ucranianos, que já contavam com diásporas em território brasileiro, os refugiados afegãos não possuem laços que facilitem a inclusão e integração.
Por esta razão, o Acnur empregou diversas estratégias para oferecer maior apoio na recepção dessa população e atender suas necessidades específicas.
Dentre elas estão ampliação de vagas em abrigos, contratação de mediadores culturais, auxílio no acesso a documentação e serviços e oferta de aulas de português com foco em transmitir a cultura do Brasil e facilitar o acesso ao mercado de trabalho.
Importância da proteção internacional
“O Afeganistão tem sofrido nos últimos 40 anos com conflitos, desastres naturais e uma situação humanitária muito grave, então ter essa oportunidade como dá o Brasil, de ter opções, de recomeçar a sua própria vida, de ter proteção internacional em outro país é uma oportunidade muito grande. O Brasil é um dos poucos países agora no mundo que está dando essa oportunidade para refugiados do Afeganistão”.
Torzilli disse esperar que Portaria Interministerial nº 42, de 22 de setembro de 2023, melhore as possibilidades de integração dos afegãos criando um fluxo entre a emissão dos vistos humanitários com a recepção por organizações comunitárias.
LEIA: Concessão de visto humanitário a afegãos tem regras atualizadas
A decisão determinou, dentre outras medidas, que os vistos humanitários para pessoas afetadas pela situação do Afeganistão somente poderão ser concedidos nas embaixadas brasileiras em Islamabad, no Paquistão e em Teerã, no Irã.
Em novembro de 2023, no entanto, entrou em vigor no Paquistão uma política voltada para deportar cidadãos estrangeiros “sem documentos”, o que pode afetar cerca de 1,4 milhão de afegãos.
Segundo o representante do Acnur, este tipo de situação mostra a importância de um espaço de proteção internacional para uma população como a do Afeganistão e do compartilhamento de responsabilidades entre um número maior de países no acolhimento dos refugiados.
Publicado originalmente em ONU News