A rede americana NBC citou uma série de fontes oficiais nesta quarta-feira (17) confirmando que as divergências entre a gestão do presidente Joe Biden e o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, “apenas aumentaram” desde a visita recente do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, ao Estado de Israel.
“O chanceler regressou a Washington, segundo oficiais, com todos os apelos de seu governo refutados por Netanyahu, exceto um: o entendimento de que Israel não deve atacar o grupo Hezbollah no Líbano”, destacou a reportagem.
Blinken alertou o premiê que “em último caso, não há solução militar para o Hamas e que é necessário que os líderes israelenses reconheçam isso, ou a história se repetirá e a violência seguirá acontecendo”.
“A gestão Biden olha agora para além de Netanyahu para tentar garantir seus objetivos para a região”, declarou um oficial à emissora. Segundo as fontes, Netanyahu “não estará lá para sempre”, de modo que a Casa Branca busca firmar bases junto a outros líderes para manter sua influência em um eventual novo governo.
Nessa semana, a rede Axios alegou que Biden desligou o telefone na cara de Netanyahu no último telefonema entre as partes, como nova manifestação de disputas geopolíticas entre as capitais, após mais de cem dias de genocídio em Gaza sem qualquer resultado favorável à posição de Washington ou Tel Aviv.
LEIA: Ataques contra Gaza podem continuar até 2025, diz Netanyahu
O telefonema, conforme os relatos, ocorreu ainda em 23 de dezembro de 2023 e não houve novo contato direto entre as partes desde então.
A NBC também afirmou que o secretário de Estado obteve o compromisso de Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e governante saudita, além de outros quatro governos árabes, para reconstruir Gaza no pós-guerra.
Conforme a reportagem, “os líderes árabes concordaram ainda em apoiar um novo governo palestino, reformado, para assegurar a governança de Gaza”.
Rumores americanos, no entanto, sugerem que bin Salman ofereceu normalizar laços com a ocupação israelense como parte do acordo para reconstrução do território sitiado. “Trata-se de um avanço que Netanyahu busca há muito tempo, mas que ocorrerá somente se Tel Aviv concordar em dar aos palestinos um caminho a seu Estado”.
Contudo, segundo os relatos, Netanyahu se manteve impassível perante as reivindicações de Blinken. Seu governo rejeita negociações com os palestinos e insiste em promover um plano para consolidar o que chama de “Grande Israel”, ao anexar Cisjordânia e Gaza, além de áreas dos países vizinhos.
Durante encontro do Fórum Econômico Mundial, na cidade de Davos, o chanceler saudita, príncipe Faisal bin Farhan, instou um cessar-fogo imediato em Gaza, ao sugerir interesse do reino em um acordo de normalização com Israel caso “intimamente ligado com a segurança e paz” do povo palestino.
“Concordamos que a paz regional inclui Israel, mas isso não pode acontecer sem um Estado palestino”, argumentou bin Farhan. “Isso é algo que estamos trabalhando junto do governo americano e é mais relevante ainda dado o contexto de Gaza”.
LEIA: Guerra em Gaza: Política externa dos EUA precisa de botão de reset em 2024
No entanto, reafirmou: “O que Israel está fazendo põe os prospectos de paz e segurança em risco”. Questionado sobre a possibilidade de reconhecer formalmente o Estado de Israel em caso de acordo, respondeu bin Farhan: “Certamente”.
Antes da ação transfronteiriça do Hamas, em 7 de outubro, Arábia Saudita e Israel pareciam próximos da normalização, sob mediação dos Estados Unidos. A interrupção das conversas é descrita como uma vitória tática do grupo palestino.
Biden enfrenta pressão interna às vésperas de uma conturbada campanha eleitoral, na qual deve concorrer novamente com o ex-presidente republicano Donald Trump. Muitos eleitores progressistas — fundamentais à vitória de Biden em 2020 — justificam a abstenção do voto pelo apoio “incondicional” da Casa Branca às ações de Israel.
A Casa Branca, entretanto, insiste em contornar o Congresso para enviar armas a Israel, além de manter seu apoio diplomático e político ao Estado ocupante, para tentar conter a crise de relações públicas que assola o regime de apartheid.
Israel enfrenta queixa de genocídio apresentada pela África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia. O governo sul-africano anunciou planos de reportar ainda a cumplicidade de Estados Unidos e Grã-Bretanha perante a corte.
LEIA: Guerra a Gaza: Ocidente no banco dos réus junto de Israel
Os bombardeios indiscriminados de Israel destruíram 60% da infraestrutura civil de Gaza, ao matar 24.448 pessoas e ferir outras 61.504 vítimas; na maioria, mulheres e crianças.
Em torno de 85% da população de Gaza — mais de dois milhões de pessoas — foi expulsa de suas casas. Israel insiste em transferi-las à força para o deserto do Sinai; iniciativa rechaçada pela comunidade internacional.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.