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Sionismo e nazismo: No es lo mismo, pero es igual

O corpo sem vida de uma criança palestina morta em ataques israelenses é levado ao necrotério do Hospital Nasser em Khan Yunis, Gaza, em 22 de janeiro de 2024. [Jihad Alshrafi/AgÊncia Anadolu]

Depois de mais de três meses de um massacre inclemente perpetrado pelas forças militares sionistas do Estado de Israel contra o povo palestino na Faixa de Gaza, boa parte da opinião pública mundial não se contém em sua acusação de que “o sionismo é igual ao nazismo, e o Estado de Israel é igual a Alemanha hitlerista”.

Entretanto, nesta oportunidade, gostaríamos de ressaltar que não é correto colocar os sionistas e seus adeptos como meros seguidores da ideologia estruturada e difundida por Hitler, Goebbels, Goering e seus associados. Assim como também não deveríamos considerar o Estado de Israel como simples repetição do que foi a Alemanha nazista em seu momento.

Não podemos concordar com a equiparação do sionismo israelense com o nazismo hitlerista tão somente porque as forças do primeiro estão cometendo crimes iguais, ou até mais horrendos, do que os que foram praticados pelos segundos. Sim, é verdade que no caso de Israel, talvez de maneira inédita na história, as forças armadas de uma grande potência militar tenham estabelecido como seus alvos preferenciais a parte mais fragilizada da população civil do povo com o qual está confrontada. É certo que das mais de 25.000 mortes de civis causadas até agora pelos impiedosos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza cerca de 70% se referem a crianças e mulheres.

Seguramente, se fôssemos emitir nossa opinião tão somente em função da sordidez e da monstruosidade que esta contabilidade nos indica, poderíamos facilmente aderir à argumentação que equipara o sionismo israelense ao nazismo hitlerista. Em termos de perversidade, crueldade e desumanidade, não haveria muitas diferenças a assinalar entre essas duas correntes, cada qual em seu tempo histórico, logicamente.

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Porém, somos forçados a reconhecer que há outros aspectos em questão que não podem ser desconsiderados. Sendo assim, tais diferenciações nos levam a rejeitar uma igualação pura e simples dessas duas correntes ideológicas mais nocivas que a humanidade já produziu ao longo do tempo. Sobre os pontos discrepantes, vamos tentar jogar alguma luz por meio das palavras que expressaremos à continuação.

Em primeiro lugar, precisamos reiterar que é uma absoluta incorreção dizer que o sionismo se inspirou no nazismo e procura imitá-lo. Quem defende isto simplesmente se esquece da anterioridade do surgimento do sionismo em relação ao nazismo. Como sabemos, as primeiras formulações do sionismo judaico se deram em meados do século XIX, ao passo que as do nazismo só começaram a se delinear no começo do século XX. Por isso, se houver alguma influência efetiva de uma dessas correntes políticas sobre a outra, seríamos forçados por lógica a concluir que é muito mais provável que o nazismo tenha sido influenciado pelos postulados do sionismo do que o inverso.

Embora o sionismo e o nazismo constituam visões de mundo essencialmente racistas e supremacistas, o povo símbolo para cada qual não é o mesmo. Para os nazistas, o suprassumo da humanidade está formado pela raça ariana, da qual os alemães constituiriam o núcleo mais puro. Já para os sionistas, o papel de povo senhor, de povo escolhido, seria representado pelos judeus. Em outras palavras, ainda que o mecanismo que sustenta a base do racismo e supremacismo no sionismo e no nazismo seja muito parecido, o grupo humano que cada qual considera como o centro preferencial é diferente.

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Não obstante os judeus terem sido o grupo étnico que mais sofreu com as atrocidades do nazismo, os líderes sionistas durante as primeiras fases do nazismo não questionavam as teses nazistas sobre a necessidade de separação entre as diferentes etnias. Como é sabido, essas formas de nacionalismo surgiram a partir de disputas interbuguesas na Europa do século XIX, na qual cada burguesia procurava alinhar em suas hostes o número máximo possível de pessoas com as quais estivessem etnicamente afinadas. Como a burguesia judaica não contava com um território sob seu domínio para impor o peso de seus interesses aos outros grupos burgueses, a ascendência judaica passou a ter um forte valor aglutinador. Por isso, os sionistas receberam de muito bom grado as primeiras iniciativas hitleristas que buscavam sedimentar o isolamento dos judeus do restante das populações onde estavam instalados.

Como já procurei deixar evidente em outros textos, os sionistas eram minoritários em todas as comunidades judaicas da Europa até antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. A maioria dos judeus até então estavam engajadas na luta por alcançar seus direitos de integração de maneira igualitária com os demais membros de suas sociedades. Além disso, um número significativo de judeus e judias havia aderido aos ideais do socialismo e da luta da classe operária por sua emancipação. Tanto assim que um elevado percentual das principais lideranças do movimento operário europeu da primeira metade do século XX tinha ascendência judaica.

A grande serventia que o nazismo teve para a burguesia judaica após sua derrota definitiva pelas forças soviéticas em 1945 foi abrir o caminho para a consolidação do sionismo como a força política hegemônica junto às comunidades judaicas. Claro que para isso, foi preciso contar com a valiosa ajuda das forças do imperialismo e de todos aqueles que até pouco tempo antes viam com satisfação ou indiferença a perseguição que o nazismo praticava contra os judeus na Europa.

Em razão do que expusemos mais acima, queremos repetir o que havíamos mencionado no começo: O sionismo não é uma simples cópia do nazismo. Ele tem, sim, muito em comum com a variante alemã do fascismo, mas há também vários pontos que deixam patente que as duas correntes não são exatamente idênticas.

Poderíamos resumir a la Silvio Rodríguez dizendo sobre a relação do sionismo com o nazismo: “No es lo mismo, pero es igual”.

Publicado originalmente em Desacato

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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