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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

França e Japão suspendem envio de recursos à UNRWA

Palestinos deslocados a Rafah, no sul de Gaza, carregam pacotes assistenciais distribuídos pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA), em 28 de janeiro de 2024 [Abed Zagout/Agência Anadolu]

França e Japão anunciaram no domingo (28) suspender as doações à Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA), após o regime israelense acusar 12 indivíduos, dos 30 mil funcionários da agência, de envolvimento na operação do Hamas de 7 de outubro.

Israel não apresentou detalhes tampouco provas a suas acusações.

No entanto, diversos regimes ocidentais seguiram a deixa, com destaque a Estados Unidos, Grã-Bretanha, Itália, Austrália e Canadá, ao cortar suas remessas à instituição das Nações Unidas.

A Autoridade Palestina (AP) condenou categoricamente as ações em uníssono como “campanha opressiva” comandada pelo governo israelense.

Paris revelou não ter agendado um novo pagamento à UNRWA para o primeiro semestre deste ano, declaração que parece sugerir que a medida fora cogitada previamente. A presidência de Emmanuel Macron reiterou a necessidade de avaliar a situação junto a ONU e outros doadores.

A chancelaria francesa — marcada por políticas contrárias à minoria árabe e islâmica no país — descreveu as acusações contra a agência como “excepcionalmente graves”.

O Ministério de Relações Exteriores do Japão juntou-se à medida por ora, ao ecoar “apreensão extrema sobre o suposto envolvimento de membros da UNRWA ao ataque terrorista [sic] contra Israel”. Tóquio instou a agência a “conduzir uma investigação célere e completa”.

O chanceler jordaniano, Ayman Safadi, por sua vez, criticou a medida no Twitter (X): “A UNRWA é a corda de salvamento a dois milhões de palestinos prestes a morrer de fome em Gaza. Estes não deveriam sofrer punição coletiva por alegações contra 12 indivíduos”.

Safadi exaltou a resposta rápida da agência: “A UNRWA agiu de forma responsável e abriu uma investigação. Instamos os países que congelaram os fundos a reverter a decisão”.

LEIA: OMS desmente acusações israelenses de ‘conspirar’ com o Hamas

A UNRWA confirmou ter revogado imediatamente os contratos sob suspeita.

Desde sua deflagração a Gaza, Israel acusa funcionários da UNRWA de trabalhar para o Hamas, ao adotar alegações infundadas como justificativa para atacar escolas e instalações da agência, incluindo abrigos onde milhares de deslocados palestinos buscam refúgio.

Israel, em sua campanha de propaganda de guerra, busca equiparar trabalhadores da agência, assim como a população de Gaza de modo geral, a membros do Hamas, ou “terroristas”, como meio para deslegitimá-la; contudo, sem provas.

Há anos, autoridades israelenses conduzem um firme lobby internacional para fechar as portas da agência — único órgão da ONU com mandato específico para prover apoio e serviços básicos aos refugiados palestinos em toda a região.

Caso a instituição deixe de existir, insiste Tel Aviv, a questão dos refugiados tampouco existe, e o direito legítimo de retorno dos palestinos a sua terra torna-se prescindível.

O Estado colonial de Israel nega o direito de retorno aos palestinos desde sua criação, mediante limpeza étnica, muito embora sua filiação às Nações Unidas seja condicionada a isso.

As mais recentes acusações israelenses são ainda retaliação à decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de deferir a denúncia sul-africana de genocídio em Gaza como “plausível”, ao proceder com as investigações.

A corte emitiu uma medida cautelar para que a ocupação israelense deixe de obstruir o acesso humanitário a Gaza, melhore as condições e evite incorrer em atos de genocídio.]

LEIA: As ordens provisórias do TIJ: A Convenção sobre Genocídio se aplica a Gaza

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 26.422 palestinos mortos e 65.087 feridos — em maioria, mulheres e crianças. Cerca de 85% da população de Gaza — ou dois milhões de pessoas — foram deslocadas pela ofensiva, sob destruição de 60% da infraestrutura civil, segundo as Nações Unidas.

Hospitais, escolas, abrigos, mesquitas, igrejas e rotas de fuga não foram poupados.

No domingo (28), o Ministério de Relações Exteriores da Turquia expressou apreensão sobre os cortes ocidentais à UNRWA.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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