A Anistia Internacional instou países doadores a reverter sua decisão de cortar o financiamento para a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), após Israel emitir acusações a um pequeno grupo de funcionários; contudo, sem provas.
Segundo a proeminente organização de direitos humanos, trata-se de um “golpe devastador [e] desumano” aos mais de dois milhões de palestinos de Gaza que dependem de ajuda.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
Em nota emitida na segunda-feira (29), a Anistia enfatizou seu apelo para revogação dos cortes.
“É profundamente chocante — e de fato, desumano — que diversos governos tenham decidido causar ainda mais sofrimento aos palestinos de Gaza, que já sofrem o risco de genocídio e fome deliberada, dias após o Tribunal Internacional de Justiça [TIJ] concluir que sua sobrevivência está sob ameaça”, comentou Agnes Callamard, secretária-geral da organização.
Callamard reiterou que é “particularmente chocante” que as ações tenham sido tomadas sobre alegações envolvendo 12 indivíduos, de um total de 30 mil funcionários da UNRWA.
Na sexta-feira, o Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia, ordenou “ação imediata e efetiva para garantir a provisão de assistência humanitária aos civis de Gaza”.
No mesmo dia, Israel difundiu alegações de envolvimento dos funcionários em questão na ação transfronteiriça do Hamas de 7 de outubro, que incorreu na captura de colonos e soldados. O governo israelense não deu detalhes, tampouco provas.
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Ainda assim, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Itália, Canadá, Austrália, Reino Unido, Holanda, França, Áustria e Japão anunciaram a interrupção de todas as remessas financeiras à instituição humanitária da ONU.
Noruega, Espanha, Irlanda, Escócia, Dinamarca e Bélgica mantiveram os recursos.
A UNRWA prontamente abriu um inquérito e revogou os contratos dos suspeitos.
Em Gaza, 152 funcionários da UNRWA foram mortos por Israel e 145 instalações da organização sofreram danos devido aos bombardeios.
A UNRWA é a maior agência humanitária a operar em Gaza; no contexto atual, não há acesso de outras entidades.
Callamard explicou que as alegações são “devem ser investigadas de forma independente”, mas reiterou que ações individuais “não podem servir de pretexto” para cortar fundos assistenciais que salvam vidas, de modo a incorrer em punição coletiva.
“É uma vergonha que, em vez de acatar à decisão de Haia e os alertas da corte de ainda maior degradação da situação catastrófica em Gaza, Estados-chave tenham preferido cortar reservas à maior fornecedora de ajuda e serviços aos civis de Gaza”, acrescentou.
Israel insiste em equiparar funcionários da UNRWA a membros do Hamas — retórica que ecoa esforços de criminalização e desumanização de toda a população palestina. Há anos, o regime ocupante reafirma um lobby incisivo para fechar as portas da agência.
Para Israel, caso a agência com mandato sobre os refugiados palestinos deixe de existir, a pauta dos refugiados — e o direito legítimo de retorno a suas terras — se torna prescindível.
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O regime colonial nega o direito de retorno desde 1948, quando firmou seu Estado sobre as ruínas de 500 aldeias e cidades, mediante expulsão de 800 mil palestinos nativos.
A filiação de Israel à ONU é condicional ao direito de retorno dos refugiados palestinos; todavia, não há sanções ou represálias por parte da comunidade internacional.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 26.750 mortos e 65.636 feridos — em maioria, mulheres e crianças. Estima-se dez mil desaparecidos sob os escombros.
Nas últimas 24 horas, foram 114 palestinos e 249 feridos, reportou o Ministério da Saúde.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.