Palestinos do campo de refugiados de Jabalia costumam fazer fila com galões em mãos, diante de caminhões que distribuem água no norte de Gaza. Contudo, para muitos deles, a espera não dará frutos, segundo reportagem da agência Anadolu.
O caminhão-pipa tem capacidade limitada e não pode prover água às centenas de pessoas que esperam longas horas dia após dia apenas para ter de beber.
A Faixa de Gaza sofre uma grave crise hídrica devido à destruição da infraestrutura civil imposta pela ofensiva israelense em curso. A situação é particularmente precária nas províncias ao norte do enclave — as primeiras a serem atacadas e então destruídas.
Logo após a ação transfronteiriça do Hamas, em 7 de outubro, Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel, anunciou um cerco absoluto aos 2.4 milhões de cidadãos de Gaza — sem comida, sem água, sem energia elétrica ou medicamentos. Na ocasião, Gallant descreveu os palestinos como “animais humanos”.
Usinas de dessalinização e redes de esgoto tiveram de interromper suas operações pela falta de energia ou combustível, desde meados de outubro último.
A Organização das Nações Unidas (ONU) soou sucessivos alertas para o risco de epidemias sob a crise hídrica, somado à falta de insumos básicos de higiene.
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Christian Lindmeier, porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou à Anadolu: “As pessoas de Gaza vivem uma catástrofe, à margem da morte, seja pela fome, desnutrição, sede, balas ou desmoronamento de prédios sobre suas cabeças”.
Poluição da água
Em outra área de Jabalia, palestinos se aglomeram em torno de um dos encanamentos expostos pelos ataques de Israel, tentando obter um papel de água diretamente do local.
Karam Abu Nada, cidadão palestino com cerca de 30 anos de idade, espera sua vez para encher um galão com água, diante da tubulação exposta, mas reafirma que os refugiados em questão sabem do risco de contaminação.
Abu Nada observou à Anadolu que os insumos poluídos costumam ser utilizados para lavar as roupas, limpar as tendas ou cozinhar. No entanto, muitas vezes, os palestinos se veem diante de uma espera de dez dias por um pouco de água.
Os palestinos de Gaza são, portanto, forçados a racionar a água, disponível somente alguns dias por mês. O consumo é reduzido, sobretudo para higiene e limpeza.
Abu Nada, porém, confirma que a água suja já mostra seu efeito, em particular nas crianças, ao causar doenças intestinais e de pele, sem qualquer medicamento para tratá-las.
Epidemias
Raed Radwan, palestino de 50 anos da Cidade de Gaza, lamenta que sua família enfrenta a crise hídrica todos os dias.
“Conseguimos água ao encher alguns poucos galões em um dos clubes na área onde estamos, que bombeia água de um poço particular somente a cada três ou quatro dias, devido à falta de insumos combustíveis”, comentou Radwan.
Segundo seu relato, o volume recebido não basta para suprir as necessidades de sequer um dia de sua família, forçando todos a um racionamento aquém à subsistência.
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“Antes da guerra, essa água era usada apenas para lavar louça e limpar a casa, mas hoje usamos para beber, causando diversas enfermidades, desde infecções gastrointestinais a doenças renais e desidratação”, acrescentou.
Radwan condenou o silêncio global sobre o sofrimento imposto ao povo palestino.
Yusuf Hamad (25), que fugiu de Beit Hanoun, no nordeste de Gaza, a um dos abrigos de Jabalia, reiterou que milhares de deslocados sofrem problemas de saúde devido à escassez. “Sofremos grave falta d’água há mais de três meses e recebemos porções ínfimas de dias em dias, devido à falta de combustível”.
Hamad corroborou os relatos de doenças. Instituições de saúde locais e internacionais advertem para tanto, somando-se à crise humanitária.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 26.750 mortos e 65.636 feridos — em maioria, mulheres e crianças. Estima-se dez mil desaparecidos sob os escombros.
Nas últimas 24 horas, foram 114 palestinos e 249 feridos, reportou o Ministério da Saúde.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.