Organizações palestinas de direitos humanos alertaram nesta segunda-feira (29) que suspender o suporte financeiro à Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) serve de “contiguidade ao genocídio em Gaza”, sob risco de liberado de levar mais de dois milhões de pessoas a “morrer de fome”.
O alerta foi deferido durante uma coletiva de imprensa realizada Rafah, no extremo sul de Gaza, com a presença de representantes da Comissão Independente de Direitos Humanos (ICHR), do Centro Palestino para Direitos Humanos e do Centro al-Mezan para Direitos Humanos.
Jamil Sarhan, diretor do ICHR em Gaza, descreveu os cortes como “decisão política”, sem critério técnico ou profissional, com base em informações israelenses jamais verificadas e que não têm, portanto, base legal.
“Como podem punir os palestinos ao lhes negar ajuda devido a uma acusação posta contra um pequeno número de funcionários da agência?”, indagou Sarhan. “São justificativas fracas e nada convincentes, que constituem sanções contra o povo palestino e uma contiguidade ao genocídio imposto pela ocupação na Faixa de Gaza”.
Sarhan pediu aos países que suspenderam suas remessas à UNRWA a “rescindir da decisão e se afastar de uma abordagem que apoia efetivamente o genocídio em Gaza”.
Além disso, reiterou que, segundo dados de grupos de direitos humanos, forças israelenses são responsáveis pelo desaparecimento de centenas de palestinos de Gaza, cujo paradeiro continua desconhecido, sob ameaça de tortura.
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Sarhan confirmou relatos de prisioneiros mantidos em situação de frio extremo, sem roupas e mesmo em canis da polícia israelense.
“A tortura contra eles é uma violação de todas as normas internacionais, incluindo ao privá-los de cuidados adequados ou comida suficiente”, acrescentou.
Samir Zaqout, diretor de Monitoramento e Conscientização do Centro al-Mezan, observou: “Dar fim ao financiamento da UNRWA é forçar as pessoas a morrer de fome”.
Zaqout instou todos os governos do mundo a respeitar as decisões do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) sobre o genocídio em Gaza, sobretudo ao permitir o acesso humanitário.
“Desde o veredito da sexta-feira [26], em torno de 400 mártires caíram em Gaza, à medida que as forças ocupantes insistem em sua política de atacar civis, destruir instalações, sitiar hospitais e impedir a chegada de combustível ou mesmo o tráfego de ambulâncias”, reiterou.
Segundo Zaqout, o exército israelense “persiste em conduzir seu crime de genocídio em Gaza e não parou a despeito da decisão emitida pela Corte Internacional”.
Na sexta-feira, o Tribunal Internacional de Justiça, com sede em Haia, ordenou “ação imediata e efetiva para garantir a provisão de assistência humanitária aos civis de Gaza”.
No mesmo dia, Israel acusou 12 indivíduos — dos 30 mil funcionários da UNRWA — de estarem envolvidos na operação transfronteiriça do Hamas de 7 de outubro, que incorreu na captura de colonos e soldados. O governo israelense não deu detalhes, tampouco provas.
Ainda assim, aliados ocidentais, como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e outros anunciaram suspender todas as remessas financeiras à agência humanitária da ONU.
A UNRWA prontamente abriu um inquérito sobre a matéria e revogou os contratos de todos os suspeitos.
Em Gaza, 152 funcionários da UNRWA foram mortos por Israel e 145 instalações da organização sofreram danos devido aos bombardeios.
A UNRWA é a maior agência humanitária a operar em Gaza; no contexto atual, não há acesso de outras entidades.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 26.750 mortos e 65.636 feridos — em maioria, mulheres e crianças. Estima-se dez mil desaparecidos sob os escombros.
Nas últimas 24 horas, foram 114 palestinos e 249 feridos, reportou o Ministério da Saúde.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.