Chicago se tornou a última cidade dos Estados Unidos a pedir um cessar-fogo permanente em Gaza, à medida que a ofensiva israelense se aproxima de 120 dias, impondo ainda mais pressão ao presidente Joe Biden e sua campanha à reeleição em novembro.
As informações são da rede de notícias Al Jazeera.
Após semanas de intenso debate público, vereadores da terceira maior cidade do país deferiram nesta quarta-feira (31) uma moção por cessar-fogo. A votação empatou na câmara (23-23), mas contou com o voto de minerva do prefeito democrata Brandon Johnson.
A declaração simbólica inclui um apelo por acesso humanitário a Gaza e soltura dos prisioneiros de guerra mantidos no enclave.
“Se eu acredito que nossas palavras de hoje, que o voto que demos hoje influencia diretamente a política externa? Não, não tenho ilusões”, explicou o vereador Daniel La Spata, um dos autores da medida.
“Mas votamos com esperança. Votamos com solidariedade. Votamos para ajudar as pessoas a se sentirem ouvidas em um momento de silêncio”.
O apoio a Israel é uma política que transcende o bipartidarismo nos Estados Unidos. Presidentes democratas e republicanos garantem US$3.8 bilhões em ajuda militar à ocupação todos os anos, incluindo jatos combatentes e bombas de última geração.
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Nos últimos meses, no entanto, a implacável campanha israelense em Gaza expôs as profundas divisões entre a classe política e a sociedade americana, em particular os jovens, às vésperas de um conturbado ciclo eleitoral que deve colocar Biden novamente contra Donald Trump.
Eleitores progressistas — cruciais à vitória do incumbente democrata em 2020 — citam o apoio ao genocídio israelense como razão para não votar em Biden.
Chicago junta-se a cidades como Atlanta, Detroit e San Francisco.
Conforme a agência Reuters, ao menos 48 municípios nos Estados Unidos adotaram resoluções por cessar-fogo, além de seis outras cidades que deferiram chamados por medidas mais amplas em nome da paz.
A maior parte das resoluções foi deferida em estados democratas, como a Califórnia, embora ao menos 14 tenham sido ratificadas nos chamados swing states — estados cujo apoio bipartidário costuma variar de eleição a eleição, considerados estratégicos a ambas as campanhas.
Boa parte dos apelos tem como modelo uma resolução intitulada “Cessar-fogo já”, apresentada por Cori Bush, ativista do movimento Black Lives Matter, eleita deputada federal pelo estado do Missouri.
Ao menos nove resoluções foram deferidas no estado de Michigan, onde árabe-americanos são 5% da população e onde a vitória de Biden em 2020 se deu por somente 3%.
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Em outubro, uma pesquisa mostrou que o apoio da comunidade a Biden despencou de 59% em 2020 a apenas 17% quatro anos depois. “Árabe-americanos não votarão em Biden, não importa o que faça. É isso, acabou para eles”, destacou Sam Baydoun, comissário do condado de Wayne, em Michigan, nesta semana.
“Este é o resultado. Joe Biden não será capaz de reconquistar a confiança da comunidade árabe nos Estados Unidos”, acrescentou.
Douglas Wilson, assessor democrata no estado da Carolina do Norte, confirmou à Reuters que a guerra “será algo que vai estar na cabeça dos eleitores”.
“Será uma questão aqui e em todos os swing states por causa das comunidades islâmicas, das comunidades judaicas e das comunidades negras e latinas nesses estados”, argumentou Wilson à agência Reuters.
Minorias americanas, de maneira geral, adotaram a causa palestina como parte de sua agenda progressista, ao notar semelhanças nos regimes de opressão e na busca por direitos civis. Outro grupo que cresce no país são judeus antissionistas, incluindo grupo ativos como o Jewish Voice for Peace (JVP).
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, deixando 27 mil mortos e 65 mil feridos — na maioria, mulheres e crianças. Cerca de 60% da infraestrutura civil foi destruída, deixando dois milhões de desabrigados.
As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.