Diversos membros do governo israelense se juntaram a uma conferência de extrema-direita que apresentou propostas para o reassentamento ilegal na Faixa de Gaza e para a expansão colonial na Cisjordânia ocupada.
As informações são da agência de notícias Reuters.
O evento, intitulado “Assentamento traz segurança e vitória”, organizado pelo grupo Nahala, foi realizado em Jerusalém ocupada na noite de domingo (28), a despeito da pressão internacional para que Israel cesse o genocídio em Gaza e respeite os direitos por autodeterminação do povo palestino.
Israel retirou suas forças e colonos de Gaza em 2005, após 38 anos de ocupação. Pouco depois, impôs um cerco militar por mar, ar e terra que converteu o território costeiro em um campo de concentração a céu aberto.
Diante da ofensiva israelense, partes interessadas — incluindo aliados externos, como Estados Unidos, e regimes regionais, como Egito, Jordânia e Arábia Saudita — mantêm debates sobre o que fazer após a guerra, em particular, no que diz respeito à administração de Gaza, governada atualmente pelo grupo Hamas.
Estados árabes buscam revitalizar a liderança política da Autoridade Palestina, considerada mais inclinada a seus interesses.
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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, emite sinais divergentes, ora ao afirmar que não pretende manter uma presença permanente em Gaza, ora ao prometer a eleitores que seu governo deterá pleno controle de segurança por um período indeterminado.
Netanyahu, no entanto, nega a chamada solução de dois Estados e chegou a promover — ainda em setembro, diante da Assembleia Geral das Nações Unidas — o mapa da “Grande Israel”, que sugere a anexação do território palestino “do rio ao mar”, além de regiões de fronteira pertencentes a Síria, Jordânia e Líbano.
Estados Unidos e União Europeia insistem em dois Estados; contudo, sem aval de Tel Aviv.
‘Sem reassentamento, sem segurança’
Conforme a televisão local, doze ministros do partido Likud, liderado por Netanyahu, estiveram presentes na conferência.
No evento, os ministros de ultradireita Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças) renovaram apelos pela expulsão dos palestinos de Gaza.
Smotrich rechaçou a decisão de evacuar os assentamentos exclusivamente judaicos no passado. “Sabíamos o que isso traria e tentamos avisar. Sem assentamentos, não há segurança”, afirmou sob aplausos.
Ben-Gvir vangloriou-se de contestar a medida, ao advertir que traria “foguetes sobre Sderot [e] Ashkelon”, em referência aos colonatos no sul do território designado Israel.
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“Alertamos aos berros. Se não querem outro 7 de outubro, é preciso controlar a terra”, afirmou Moshe Feiglin, ex-deputado israelense, ao público. “Não há outro jeito de vencer a guerra senão reconstruir Gush Katif [assentamento]. Esta é a única forma de vencer essa guerra sangrenta, que Israel não pode se dar ao luxo de perder”.
Alguns políticos criticaram o tom do encontro. Gadi Eisenkot, ex-chefe do exército e membro do atual gabinete de guerra, advertiu para “maiores divisões” em um momento no qual “soldados combatem ombro a ombro em uma guerra sem precedentes”.
O ministro da Educação, Yoav Kisch, disse à rádio militar KAN que a conferência ocorreu em um momento inoportuno. “Não é certo entrarmos agora nessa conversa”, argumentou. “Precisamos concentrar o discurso na unidade das tropas”.
Limpeza étnica
Todos os assentamentos exclusivamente judaicos radicados na Cisjordânia e Jerusalém são ilegais segundo a lei internacional. Grupos de direitos humanos alertam para uma escalada na violência de colonos e soldados nos territórios palestinos.
Conforme analistas e ativistas, a política expansionista de Israel inviabiliza a chamada solução de dois Estados ou qualquer outra solução para a paz.
“Doze ministros participaram do evento, incluindo membros do partido de Netanyahu, além de 15 deputados; portanto, não é uma piada”, relatou a pesquisadora palestino-americana Mariam Barghouti, em entrevista à Al Jazeera.
“Essas são pessoas responsáveis pela política em Israel, que pedem por uma limpeza étnica em Gaza, uma completa limpeza étnica do povo palestino”, acrescentou.
A Autoridade Palestina emitiu uma nota de repúdio sobre a conferência, ao argumentar que esta reflete o viés desestabilizante do regime israelense a toda a região.
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“Este encontro colonial em Jerusalém ocorre em flagrante desafio ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), acompanhado de incitação pública para deslocar à força o povo palestino”, reiterou a chancelaria em Ramallah, em referência à recente ordem de Haia para que Israel combata a incitação ao genocídio.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, deixando 27 mil mortos e 65 mil feridos — na maioria, mulheres e crianças. Cerca de 60% da infraestrutura civil foi destruída, deixando dois milhões de desabrigados.
As ações israelenses são crimes de guerra e lesa-humanidade, incluindo transferência compulsória e limpeza étnica.