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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Presos contra a cerca, palestinos de Gaza temem ofensiva israelense a seu último refúgio

Mãe e filha sentam-se sobre as ruínas de Rafah, no extremo sul de Gaza, em 28 de janeiro de 2024 [Abed Zagout/Agência Anadolu]
Mãe e filha sentam-se sobre as ruínas de Rafah, no extremo sul de Gaza, em 28 de janeiro de 2024 [Abed Zagout/Agência Anadolu]

Forças da ocupação israelense lançaram ataques a bomba aos subúrbios do último refúgio dos palestinos de Gaza, em Rafah, no extremo sul do território, nesta sexta-feira (2), onde centenas de milhares de deslocados se aglomeram contra a cerca de fronteira com o Egito, aterrorizados pelo prospecto de mais uma ofensiva por terra, sem sequer ter para onde ir.

As informações são da agência de notícias Reuters.

Mais da metade dos 2.4 milhões de residentes de Gaza estão aglomerados em Rafah, sem teto e insumos básicos devido aos bombardeios e ao cerco militar imposto por Israel.

Outras dezenas de milhares chegaram em Rafah nos últimos dias, com pertences e crianças nos braços, após Israel invadir e destruir Khan Yunis — maior cidade no sul do território, para onde ordenou que os residentes do norte fugissem durante a primeira fase da campanha.

Caso os tanques continuem a avançar, “haverá duas escolhas: ficar e morrer ou escalar o muro e entrar no Egito”, lamentou Emad, comerciante e pai de seis filhos, de 55 anos. “A maior parte da população de Gaza está em Rafah, se os tanques invadirem haverá um massacre como nenhum outro”, acrescentou.

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Na quinta-feira (1°), o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, prometeu seguir a Rafah para “eliminar elementos terroristas [sic]”, após quatro meses de uma violenta varredura do enclave sitiado.

Rafah e partes adjacentes de Khan Yunis são as únicas áreas de Gaza que ainda detêm acesso a assistência médica e alimentar através da fronteira, embora bastante limitada. A região ganhou uma paisagem de tendas improvisadas instaladas sobre a lama, sob as chuvas de inverno.

“O que devemos fazer? É uma miséria atrás da outra: a guerra, a fome, a chuva”, questionou Um Badri, mão de cinco da Cidade de Gaza, refugiada em Khan Yunis. “Costumávamos esperar pelo inverno, para desfrutar das chuvas da varanda de casa. Agora, não temos casa, teto ou nada e a chuva inundou a tenda que nos restou”.

Israel cortou o serviço de telecomunicação em Gaza, forçando refugiados a escalar um barranco arenoso, perto da cerca de fronteira, junto do arame farpado, na esperança de obter algum sinal do Egito.

Mariam Odeh tentava contato com sua família, ainda na cidade de Khan Yunis, para dizer: “Ainda estou viva, não morri como os outros”.

Desespero: ‘Panela de pressão’

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), agentes de resgate não conseguem alcançar doentes e feridos em Khan Yunis e as consequências da eventual chegada da ofensiva em Rafah é algo “inimaginável”.

“Rafah é uma panela de pressão de desespero e tememos pelo que vem a seguir”, declarou Jens Laerke, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), durante informe realizado na cidade de Genebra.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do Hamas que capturou 253 colonos e soldados. Segundo índices israelenses, 1.200 pessoas foram mortas; contudo, desde então, uma reportagem investigativa do jornal Haaretz revelou que boa parte destas foram executadas por “fogo amigo”.

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Em menos de 120 dias, Israel matou, no entanto, 27 mil palestinos de Gaza e feriu outros 65 mil, em ampla maioria mulheres e crianças. Nas últimas 24 horas, foram 112 mortos. Milhares, não obstante, continuam desaparecidos sob os escombros — provavelmente mortos.

Imagens do Centro de Satélites da ONU mostram que ao menos 30% dos prédios de Gaza foram destruídos ou danificados pela ofensiva israelense.

Na sexta-feira (2), as Brigadas al-Qassam, braço armado do Hamas, confirmaram a morte de 15 soldados israelense em combate na Cidade de Gaza. Israel não comentou as baixas. Até então, o exército israelense reportou apenas 200 mortos, embora a resistência palestina exerça táticas de guerrilha entre os escombros.

Mediadores dizem aguardar uma resposta do Hamas e outros grupos palestinos a uma proposta apresentada nesta semana por Estados Unidos, sob mediação do Egito e do Catar, para instaurar o primeiro cessar-fogo estendido desde a deflagração do genocídio.

A única trégua em quatro meses durou apenas uma semana, no fim de novembro, para realizar uma troca de prisioneiros entre as partes — todos mulheres e crianças.

A nova proposta busca estabelecer um cessar-fogo inicial de 40 dias, para que o Hamas ceda os prisioneiros restantes, incluindo soldados e corpos. Segundo os relatos, a maior parte dos reféns israelenses mortos em Gaza faleceram sob os bombardeios indiscriminados de Israel.

Todavia, detalhes do acordo não vieram a público.

Em nota conjunta, Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, e Ziad al-Nakhala, secretário-geral do movimento de Jihad Islâmica, afirmaram que “quaisquer negociações devem levar, em absoluto, ao fim das agressões, retirada das forças ocupantes e suspensão do cerco”, além de esforços de reconstrução, acesso humanitário e libertação dos presos políticos nas cadeias de Israel.

Estima-se que forças coloniais detiveram ao menos seis mil palestinos desde outubro, dobrando eventualmente a população carcerária nas cadeias da ocupação, onde casos de abuso e tortura são frequentes. Entre os palestinos presos, a maioria está em detenção administrativa — isto é, sem julgamento ou sequer acusação; reféns, por definição.

Blinken retorna à região

Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, alegou que uma nova resolução de cessar-fogo humanitário, apresentada pela Argélia ao Conselho de Segurança deve prejudicar “negociações sensíveis”; contudo, sem detalhes.

Thomas-Greenfield é responsável por vetar uma série de pedidos por cessar-fogo no fórum das Nações Unidas.

Neste contexto, o secretário de Estado americano Antony Blinken deve seguir com esforços para controlar a situação — muito embora sem aval israelense até então. Blinken realizará uma nova turnê política a Israel, Cisjordânia, Arábia Saudita, Egito e Catar a partir deste domingo (4).

Em outra frente, tropas israelenses afirmaram interceptar um míssil iemenita houthi lançado do Mar Vermelho. Os houthis confirmaram disparos ao balneário israelense de Eilat, ao manter seu embargo a portos e navios israelenses na região.

Os Estados Unidos escalaram a ofensiva contra os houthis e grupos supostamente ligados ao Irã na Síria e no Iraque, após um ataque a drone contra uma base americana sediada em um campo de petróleo no norte da Jordânia.

Líderes americanos — entre os quais, o presidente Joe Biden, que acumula recordes de rejeição diante de uma dura campanha eleitoral contra Donald Trump — prometem que as operações de retaliação durarão dias.

Teerã advertiu que responderá caso seu território ou seus interesses sejam alvejados.

Há receios de propagação da guerra.

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Palestina: quatro mil anos de história
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