O presidente da Argentina, Javier Milei, chegou a Israel nesta terça-feira (6), em um contexto de crise regional devido ao genocídio israelense em Gaza além de protestos de massa em seu país contra políticas de extrema-direita.
Na ocasião, Milei declarou sua intenção de realocar a embaixada argentina de Tel Aviv à cidade ocupada de Jerusalém. Trata-se de uma promessa de campanha do incumbente portenho.
Segundo o jornal Times of Israel, Milei anunciou seu plano assim que pousou no Aeroporto Ben Gurion, ao encontrar o chanceler israelense Israel Katz.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu saudou a promessa, junto a seu ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, que descreveu a medida como reconhecimento de Jerusalém como “nossa eterna capital”, em violação da lei internacional.
“O premiê conversou com Milei após sua eleição e exaltou o fato de que o presidente manteve sua promessa”, declarou o gabinete de Netanyahu em nota.
O próprio primeiro-ministro foi ao Twitter (X) para celebrar o anúncio: “Acolho calorosamente a chegada do presidente da Argentina e amigo de Israel, Javier Milei, que confirmou a realocação de sua embaixada a Jerusalém. Seja bem-vindo, querido amigo!”
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O movimento palestino Hamas — que busca negociar uma cessar-fogo escalonado em Gaza —condenou a promessa, ao rechaçá-la como.
“Condenamos veementemente o anúncio do presidente argentino de que pretende transferir a embaixada de seu país para a entidade nazi-sionista de Israel a Jerusalém ocupada”, declarou o Hamas. “Consideramos uma transgressão dos direitos do povo palestino a suas terras e violação das regras do direito internacional, que consideram Jerusalém como território ocupado”.
Lideranças palestinas e ativistas solidários buscam pressionar Milei a reverter a decisão. A ação, no entanto, deve sofrer empecilhos em casa, à medida que as promessas de campanha de Milei vem sendo obstruídas no Congresso.
Após sua chegada, o presidente argentino visitou o Muro das Lamentações (al-Buraq), na cidade ocupada de Jerusalém Oriental. Em seguida, reuniu-se com seu colega israelense, Issac Herzog, para lhe prometer designar oficialmente o Hamas como “grupo terrorista”.
“Não apenas condenamos o terrorismo do Hamas, mas expressamos apoio ao Estado de Israel e continuamos a apoiar o direito de Israel à autodefesa [sic]”, destacou Milei a Herzog. “Estamos trabalhando para declarar o Hamas um grupo terrorista [sic]”.
“Minha presença aqui confirma não apenas tudo que eu disse nas últimas semanas como desde 7 de outubro. Este é mais um sinal da proximidade histórica e da amizade entre nossos povos”, acrescentou.
Sob a presidência de Donald Trump, os Estados Unidos transferiram sua embaixada a Jerusalém em 2018, contudo sem êxito em avançar ações salvo um punhado de aliados menores, entre os quais Honduras, Guatemala e Kosovo.
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O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, também prometeu a seu eleitorado fundamentalista evangélico realocar a embaixada a Jerusalém. Contudo, sofreu pressão de parceiros comerciais árabes e se viu forçado a recuar.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), Jerusalém tem status internacional.
Os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental ocupada, onde está a Mesquita de Al-Aqsa, como capital de seu futuro Estado.
Israel, Gaza e América Latina
A ofensiva em Gaza causou cisões políticas em todo o mundo: na América Latina, governos de direita e extrema-direita — como Noboa no Equador e Javier Milei na Argentina — insistem em se aproximar de Israel, enquanto governos de esquerda ora oscilam ora assumem postura mais crítica ao regime ocupante.
O presidente colombiano Gustavo Petro assumiu uma retórica dura contra Israel, ao retirar seu embaixador de Tel Aviv, medida seguida por seu homólogo chileno Gabriel Boric — todavia, em tom mais brando.
Em resposta, Israel difamou ambos os países como “apoiadores de terroristas”.
O governo brasileiro de Luiz Inácio Lula da Silva apoiou oficialmente a denúncia sul-africana de que Israel comete genocídio em Gaza, admitida como “plausível” pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, no fim de janeiro. A medida, às vésperas da audiência, sucedeu a posição de Bogotá.
Lula, no entanto, não avançou em ações concretas no âmbito comercial ou diplomático, como ao romper contratos de segurança com a ocupação israelense — medida reivindicada por ativistas solidários à causa palestina.
A Bolívia, por sua vez, cortou relações com o Estado ocupante.
Israel lançou sua ofensiva brutal sobre Gaza em 7 de outubro de 2023, em retaliação a uma ação transfronteiriça do Hamas que capturou colonos e soldados. Segundo Israel, em torno de 1.200 pessoas foram mortas na ocasião. Reportagens investigativas, no entanto, incluindo de agências israelenses, revelaram mais tarde que boa parte das baixas se deu por “fogo amigo”.
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O movimento palestino justificou a operação de resistência devido à brutal escalada colonial em Jerusalém e Cisjordânia ocupada, além dos 17 anos de cerco militar imposto a Gaza.
Em quatro meses, o exército israelense matou 27.708 pessoas em Gaza, além de 67.147 feridos — em ampla maioria, mulheres e crianças. Dois milhões de pessoas, ou 85% da população civil, foram desabrigadas, sob escassez crítica de comida, água e medicamentos.
Aproximadamente 60% da infraestrutura do enclave foi danificada ou destruída, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
Nas últimas 24 horas, foram 123 palestinos mortos e 169 feridos por ataques israelenses.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.