Duas semanas após o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, ordenar que Israel assuma esforços para evitar atos de genocídio na Faixa de Gaza e permita o acesso humanitário, suas Forças Armadas continuam a desafiar as medidas cautelares, ao intensificar sua campanha contra a população civil do território sitiado.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
A corte das Nações Unidas reconheceu “plausibilidade” da denúncia sul-africana de que Tel Aviv comete genocídio em Gaza, em decisão emitida no fim de janeiro. As investigações devem durar anos, mas a determinação inicial pressupõe desescalada e socorro humanitário.
Israel, no entanto, instalou checkpoints nas áreas ocupadas de Gaza e dividiu o enclave em três segmentos. A passagem é, portanto, obstruída pelo arbítrio israelense.
Na segunda-feira (5), um comboio humanitário foi alvejado por atiradores israelenses ao tentar chegar por mar ao norte de Gaza, apesar de obter autorização deferida pela Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).
Dados do Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA), compilados no início de fevereiro, revelam um declínio na entrada de caminhões humanitários em Gaza desde 26 de janeiro, quando Haia deferiu sua decisão.
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Antes disso, em média, 156 caminhões entravam em Gaza diariamente, segundo a ONU. Desde então, a média desabou a apenas 93 caminhões por dia, ou 40% de redução imposta por Israel. Antes da guerra, eram 500 caminhões por dia, para suprir uma população carente já afetada por 17 anos de cerco militar.
Alertas de fome
“Em janeiro como um todo, apenas dez das 61 missões humanitárias planejadas para o norte de Gaza foram possibilitadas pelas autoridades israelenses”, informou nesta segunda-feira o porta-voz das Nações Unidas, Stephane Dujarric.
Segundo a ONU, cerca de 2.2 milhões de pessoas — quase a totalidade da população de Gaza — enfrenta ameaça de fome generalizada devido ao cerco e aos bombardeios de Israel. Estima-se que 378 mil pessoas vivem uma situação de fome “catastrófica”, enquanto 939 mil enfrentam a insegurança alimentar em níveis de “emergência”.
Morte e destruição
Apesar da decisão de Haia, Israel não adotou medidas para atenuar as condições em campo. De fato, relatos apontam para uma nova escalada da violência, com bombardeios a estruturas civis, incluindo hospitais, e obstrução de assistência humanitária.
Desde 26 de janeiro, Israel matou 1.625 palestinos e feriu 2.660. São ao menos 27.947 mortos e 67.459 feridos em 120 dias, além de dois milhões de desabrigados, a maioria dos quais asilados na cidade de Rafah, no extremo-sul, contra a cerca de fronteira com o Egito.
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Antes da campanha israelense, cerca de 280 mil pessoas viviam em Rafah. Hoje, são mais de 1.2 milhão de pessoas. A maioria vive em tendas, sem habitação adequada.
Na última semana, lideranças israelenses assinalaram que pretendem conduzir agora um ataque por terra a Rafah, após uma varredura completa norte-sul, que causou a devastação de 60% da infraestrutura civil de todo o território palestino.
Tanto o premiê Benjamin Netanyahu quanto seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, confirmaram intenções de avançar a Rafah, no que parece corroborar denúncias de que o objetivo israelense é expulsar a população palestina ao deserto do Sinai.
Rafah vive ataques aéreos desde o início da guerra, apesar de ser declarada “zona segura” pelas forças de Israel. A ofensiva por terra, no entanto, deve trazer tragédias incomensuráveis.
As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.