Falando na sede da ONU em Nova Iorque, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o trabalho feito pela Agência da ONU para Refugiados Palestinos, Unrwa, não é substituível por nenhuma outra entidade.
Respondendo a jornalistas, ele apontou a posição da organização após as declarações que solicitavam a saída da Unrwa da Faixa de Gaza, explicando que todo os serviços humanitários na região têm grande dependência da agência.
“Coluna vertebral” do trabalho em Gaza
“Essa substituição não é possível na prática. A única organização das Nações Unidas que tem uma presença física relevante em Gaza é a Unrwa. Bom, e se pensássemos na situação na Jordânia ou na situação no Líbano, em que há dezenas de escolas, dezenas de centros de saúde, inúmeras atividades, é evidente que nenhuma outra organização poderia substituir a Unrwa. Mas, em Gaza, a Unrwa tem, além dos funcionários que davam aulas ou que trabalhavam em ações que hoje não são possíveis, mas em termos da ajuda de emergência, a Unrwa tem 3 mil membros do seu quadro de pessoal, que são a coluna vertebral da distribuição humanitária em Gaza por parte das Nações Unidas.”
O chefe da ONU defendeu ainda a atuação integrada entre as entidades de auxílio, na qual a ação da agência humanitária da ONU é essencial.
“Existe também o Crescente Vermelho, mas eu não creio que aqueles que querem substituir a Unrwa queiram substitui-la pelo Crescente Vermelho Palestiniano. Portanto, não há nenhuma outra organização que tenha uma presença em Gaza capaz de responder a esta necessidade. E depois ainda há um outro facto é que, por razões históricas que são complexas, os salários da Unrwa são um terço dos salários das outras organizações das Nações Unidas. O que quereria dizer que, mesmo que uma outra organização quisesse recrutar – e imagina o que seria recrutar agora em Gaza 3 mil funcionários. Enfim, estamos a falar de coisas completamente impossíveis. Os custos seriam muitíssimos mais elevados. E com toda a clareza que lhe digo que não é possível substituir o trabalho de rua em Gaza, como no resto dos outros países onde opera no presente momento.”
Papel da ONU
Após um discurso de abertura em que o chefe das Nações Unidas reforçou a busca pela paz e a crise de confiança nas instituições, ele apontou que o mundo está testemunhando violações do direito humanitário internacional que devem parar.
Guterres foi questionado por diversos jornalistas sobre o papel da ONU e a capacidade da organização de mediar conflitos na atual conjuntura global, sobretudo com importantes casos de violência, como em Gaza, Ucrânia e Sudão.
O secretário-geral reforçou seu posicionamento desta quarta-feira na Assembleia Geral, em que destacou a falta de consenso no Conselho de Segurança, e adicionou que a organização segue fazendo um trabalho humanitário “único, insubstituível e razão de orgulho”.
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Ele acrescenta que as divisões geopolíticas, que estão levando o mundo para uma estrutura de poderes multipolar, possibilitam atores políticos a “fazerem o que querem, com total impunidade”.
Multipolaridade global
Na abertura da reunião, ele destacou que “quando a multipolaridade não é acompanhada por mecanismos eficazes, renovados e inclusivos de governança multilateral, os riscos se multiplicam”.
Assim, ele avalia que fica ainda mais desafiador que decisões do Conselho de Segurança sejam respeitadas. Por isso, Guterres afirma que união e um trabalho com mais transparência, teria como resultado mais respeito às decisões do órgão.
O secretário-geral ainda revelou que sua grande “frustração” é ver o aumento do sofrimento humano e não ter o poder de impedi-lo. “Eu posso subir minha voz, propor encontros, mas eu não tenho o poder de criar as condições para as pessoas respeitarem a lei internacional”, afirmou.
Situação em Gaza
Em suas declarações, Guterres ainda destacou a grave situação humanitária em Gaza, onde civis enfrentam escassez crítica de necessidades básicas em meio ao conflito em escalada.
O chefe da ONU realçou urgente necessidade de total respeito ao direito humanitário internacional para garantir a proteção dos civis e atender às suas necessidades essenciais. Guterres condenou tanto os ataques do Hamas quanto as violações da lei humanitária internacional em Gaza.
Ele pediu por um cessar-fogo humanitário imediato, a libertação incondicional de todos os reféns e medidas concretas para uma solução de dois Estados com base em resoluções da ONU e direito internacional, enfatizando que violência e ocupação não proporcionam segurança para os israelenses e um Estado para os palestinos.
Publicado originalmente em ONU News