O Egito advertiu neste domingo (11) para as “graves consequências” de uma ofensiva por terra, anunciada por Israel, contra a cidade de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
A cidade, originalmente com 300 mil habitantes, abriga hoje 1,5 milhão de palestinos — mais da metade da população total de Gaza —, deslocados pela varredura norte-sul conduzida por Israel na forma de ataques indiscriminados por ar, mar e terra.
Muitos dos palestinos hoje radicados em Rafah foram sucessivamente deslocados em direção à fronteira com o deserto do Sinai, para onde temem ser expulsos à força.
Israel justificou seu novo avanço para derrotar “batalhões remanescentes do Hamas”, ao incitar temores de uma catástrofe ainda maior na cidade.
“Os ataques israelenses a Rafah, junto da política contínua de obstrução da ajuda humanitária, corroboram de fato a implementação de um plano de deslocamento do povo palestino a fim de liquidar sua causa”, alertou em comunicado o Ministério de Relações Exteriores do Egito.
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A pasta rejeitou as alegações do governo israelense sobre a campanha em Rafah, ao insistir que o iminente massacre “terá graves consequências, sobretudo ao arriscar uma deterioração ainda maior da catástrofe humanitária que toma Gaza”.
Segundo informações da rede Associated Press, dois oficiais egípcios e um diplomata ocidental advertiram ainda que a ofensiva israelense a Rafah arrisca incorrer na revogação do Tratado de Camp David, que normalizou laços entre o regime no Cairo e o Estado ocupante.
Para as fontes, confrontações em Rafah devem impor o fechamento da principal rota de socorro humanitário ao território sitiado.
Segundo seus relatos, Catar, Arábia Saudita e outros ecoaram os alertas.
O Tratado de Camp David, com quase cinco décadas, é a pedra angular da estabilidade entre os Estados vizinhos, mas parece desconsiderado pelo regime israelense que insiste em deslocar os palestinos de Gaza ao deserto do Sinai.
O Egito fortificou seu lado da fronteira, ao estabelecer uma zona neutra de 5 km e erguer muros de concreto acima e abaixo da superfície, para impedir o eventual acesso de túneis.
O regime no Cairo teme um influxo de centenas de milhares de refugiados palestinos, os quais Israel jamais permitirá o retorno, apesar do direito consagrado na lei internacional.
Sob tamanha apreensão e anos de crise socioeconômica no país, o governo de Abdel Fattah el-Sisi pediu esforços regionais e internacionais para conter a iminente operação israelense.
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Segundo a chancelaria egípcia, seus emissários “mantêm contatos e movimentações juntos às partes, a fim de alcançar um cessar-fogo imediato, implementar a trégua e realizar uma troca de prisioneiros”.
Durante a madrugada de domingo para segunda-feira, durante o evento do Super Bowl nos Estados Unidos, que atrai atenção do público e recordes de audiência na televisão, o exército da ocupação israelense intensificou seus bombardeios ao último refúgio dos palestinos de Gaza.
Os civis não receberam qualquer instrução de evacuação. Mesmo se fosse o caso, reiteram, não há para onde ir, presos entre o mar e a cerca fortificada de fronteira.
Organizações de direitos humanos e governos internacionais reforçaram apelos para que Israel não avance a Rafah, ao alertar para a possibilidade de um “banho de sangue”.
Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia, escreveu no Twitter (X): “Um ataque israelense em Rafah levará a uma catástrofe humanitária indescritível, além de seríssimas tensões com o Egito”.
A Casa Branca alertou que uma operação por terra nas circunstâncias atuais seria um “desastre” para os civis. No entanto, não revogou seu envio de armamentos ou sua cobertura diplomática às violações do Estado ocupante.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 28.340 mortos e 67.984 feridos — na maioria, mulheres e crianças —, além de dois milhões de desabrigados.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.