Dois jornalistas, incluindo um correspondente da rede de notícias Al Jazeera, foram feridos por um ataque a drone israelense no subúrbio norte da cidade de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza sitiada.
As condições do repórter Ismail Abu Omar e de seu cinegrafista, Ahmad Matar, foram descritas como graves, após ambos serem transferidos às pressas para o Hospital Europeu de Khan Younis nesta terça-feira (13).
Ambos os jornalistas, com capacete e colete de imprensa, foram atingidos por um drone militar da ocupação israelense em Miraj, enquanto cobriam a situação dos refugiados aglomerados na área, à medida que Israel intensifica seus ataques por mar, ar e terra.
A Al Jazeera em árabe transmitiu um vídeo de Abu Omar pouco antes de ser atingido, enquanto se preparava para entrar ao vivo, quando percebeu o sobrevoo de um drone.
A perna direita do repórter foi amputada pelo ataque; estilhaços penetraram em sua cabeça e tórax. Os médicos dizem tentar salvar sua perna direita. Abu Omar passou por uma complicada cirurgia, após grave hemorragia devido a um possível corte na artéria femoral.
O médico Muhammad al-Astal confirmou que Abu Omar sofre perigo de vida.
“Ismail Abu Omar, correspondente da Al Jazeera, chegou a nosso hospital provisório após sofrer ferimentos graves, atingido por um drone militar em Muraj”, relatou o médico. “Ao examiná-lo, percebemos que sua perna direita já fora amputada. Um grande estilhaço também se alojou em sua cabeça e tórax, além de atingir a perna esquerda”.
“Administramos primeiros socorros imprescindíveis antes de transferi-lo ao Hospital Europeu, onde foi levado às pressas à sala de cirurgia. [Abu Omar] sangrou tanto que sua pressão e pulso não puderam ser aferidos”, reiterou. “Isso significa que ele está em condição bastante crítica e pode perder a vida. Oramos por sua recuperação”.
Hani Mahmoud, repórter da Al Jazeera em Rafah, expressou solidariedade ao colega.
“Eles estavam em campo documentando as condições das famílias deslocadas e os horrores que vivenciaram, em particular, nas últimas 24 horas, com enormes bombardeios contra a cidade de Rafah, os quais mataram cerca de cem pessoas”, explicou Mahmoud. “Então foram diretamente alvejados por um míssil disparado por um drone”.
‘Todo mundo é alvo’
O Gabinete de Imprensa do governo radicado em Gaza denunciou o “quinto ataque deliberado” a uma equipe da Al Jazeera no território sitiado. “Este ataque ocorre no contexto de intimidação dos jornalistas”, declarou em nota, “a fim de impedir a cobertura de imprensa”.
Ao menos 126 jornalistas foram mortos em Gaza desde 7 de outubro; outros dez foram detidos arbitrariamente pelas forças de Israel.
“Este não é o primeiro caso e não achamos que será o último”, prosseguiu Mahmoud. “Há uma onda de ataques sistemáticos, quase consistentes, ainda em curso contra os jornalistas. Não há termos e condições nessa guerra genocida. Todo mundo é alvo”.
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“É de partir o coração e é profundamente chocante”, complementou Tim Dawson, vice-secretário da Federação Internacional dos Jornalistas. “Este ataque ocorreu a alguma distância do que, sob qualquer medida razoável, poderia ser considerado como zona de combate”.
“Parece haver uma campanha sistemática para matar, aterrorizar e mutilar jornalistas em Gaza, ao reduzir seus números a algo em torno de 10%”, observou Dawson.
Em nota, a Al Jazeera classificou o atentado a Abu Omar e Matar como “crime que se soma aos crimes israelenses contra jornalistas [em Gaza] e nova fase de uma série de ataques deliberados a profissionais e correspondentes da Al Jazeera na Palestina”.
“Nossa emissora destaca que este ataque é parte de uma campanha de intimidação a jornalistas para impedi-los de reportar os crimes hediondos cometidos pelo exército da ocupação contra os civis inocentes na Faixa de Gaza”, reafirmou o comunicado, ao renovar os apelos à comunidade internacional para agir imediatamente em defesa da categoria.
Elisabeth Witchel, coordenadora do escritório legal Media Defence, sediado em Londres, reiterou que “jornalistas são civis e, portanto, têm direito a toda a proteção em tempos de conflito”.
“Não devem ser considerados alvos”, insistiu Witchel. “Somente o número de jornalistas mortos em Gaz, desde a deflagração da guerra, já mostra que a categoria enfrenta risco muito maior do que o esperado na região”.
“Quando jornalistas são atacados em áreas de refúgio, em suas casas, quando suas famílias são mortas, isso amplifica uma mensagem assustadora àqueles que tentam levar informações vitais ao mundo”, concluiu Witchel.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, destruindo cerca de 60% da infraestrutura civil e deixando ao menos 28.340 mortos e 67.984 feridos, além de dois milhões de desabrigados.
As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.