Diversos políticos e intelectuais do Egito emitiram apelos veementes ao presidente Abdel Fattah el-Sisi para que emita um alerta à comunidade internacional de que o país não pode ignorar os avanços da agressão israelense à cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, na zona de fronteira entre o enclave sitiado e o deserto do Sinai.
Rafah abriga hoje 1,5 milhão de pessoas — cinco vezes mais que sua população antes da guerra, em uma densidade demográfica de 16 mil pessoas por quilômetro quadrado, sob falta crítica de insumos básicos devido ao cerco absoluto imposto por Israel.
Agências humanitárias temem uma escalada sem precedentes nas baixas civis caso Tel Aviv siga com a operação em Rafah, designada pelo próprio governo israelense como “zona segura”, para onde foram evacuados à força refugiados de todo o território.
Segundo Hassan Nafaa, professor-doutor de Ciências Políticas da Universidade do Cairo, a hora decisiva para Gaza se aproxima, à medida que o premiê israelense Benjamin Netanyahu insiste em invadir a cidade para deportar à força mais de um milhão de palestinos.
“O presidente deve enviar pessoalmente uma mensagem dissuasiva que demonstre que o Egito não permanecerá ocioso [diante da campanha], ao mesmo tempo que convoque uma cúpula de emergência da Liga Árabe”, argumentou Nafaa.
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O jornalista Osama al-Alfi instou Sisi a visitar a travessia de Rafah para confirmar o compromisso de seu governo para com a população de Gaza e refutar os rumores promovidos por Tel Aviv de que o regime norte-africano aprovou planos para exterminar a causa palestina.
Mustafa Bakri, jornalista próximo do governo de Sisi, afirmou que o exército egípcio se mantém em alerta para confrontar quaisquer intercorrências, ao destacar que a segurança nacional e as fronteiras do país são um limite intransponível, diante da agressão israelense no território ao norte.
Bakri descreveu o genocídio perpetrado por Israel no território palestino como um “holocausto” e uma “vergonha” para todo o mundo, ao assinalar a inépcia das instituições e convenções internacionais.
Alguns analistas advertem que as forças israelenses podem decidir bombardear o muro erguido pelo Egito ao longo da fronteira, para abrir corredores de saída a partir de Gaza e consolidar seu plano de expulsão da população ao deserto do Sinai.
O objetivo de guerra — declarado abertamente por diversas lideranças israelenses e até mesmo por anúncios imobiliários — inclui reocupar e reassentar Gaza com colonos ilegais, de modo a impedir o direito de retorno da população nativa.
Trata-se de limpeza étnica e transferência compulsória — isto é, crime de genocídio.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, destruindo cerca de 60% da infraestrutura civil e deixando ao menos 28.340 mortos e 67.984 feridos, além de dois milhões de desabrigados.