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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

No Egito, Lula critica campanha israelense em Rafah, pede reforma na ONU

Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, em 18 de dezembro de 2023 [Mateus Bonomi/Agência Anadolu]

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, reafirmou nesta quinta-feira (15) que as instituições internacionais estão fracassando em solucionar conflitos geopolíticos e criticou duramente as ações israelenses em Gaza.

“Não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel, a pretexto de derrotar o Hamas, está matando mulheres e crianças — coisa jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento”,

declarou o presidente, durante coletiva de imprensa ao lado de seu homólogo egípcio, Abdel Fatah el-Sisi, após reunião entre os líderes na cidade do Cairo.

“Deveríamos estar falando do aumento da produção de alimentos, crescimento econômico e distribuição de renda, mas estamos falando em guerras”, acrescentou.

O presidente chegou ao país na quarta-feira (14), em um momento de tensões regionais devido aos avanços das tropas israelenses em direção à fronteira entre Gaza e Egito.

Lula reiterou oposição aos planos israelenses para expulsar os habitantes de Gaza ao deserto do Sinai, à véspera de uma invasão por terra contra a cidade de Rafah, último refúgio dos palestinos deslocados nas proximidades do Egito, no extremo sul do enclave.

Rafah abriga hoje 1,5 milhão de pessoas — de uma população original abaixo de 300 mil moradores. O Egito e a comunidade internacional, de modo geral, rejeitam veementemente os esforços de transferência compulsória anunciados por Israel.

Segundo Lula:

“O Brasil é terminantemente contrário à tentativa de deslocamento forçado do povo palestino. Por esse motivo, entre outros, o Brasil se manifestou em apoio ao processo instaurado na Corte Internacional de Justiça pela África do Sul. Não haverá paz sem um Estado Palestino dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”.

Em 26 de janeiro, o tribunal em Haia reconheceu “plausibilidade” da denúncia sul-africana de que Israel comete genocídio em Gaza, ao determinar uma série de medidas, incluindo assistência humanitária contínua — todavia, ignoradas pelas forças ocupantes.

LEIA: África do Sul faz pedido urgente a Haia sobre ofensiva israelense a Rafah

Para o presidente brasileiro, não obstante, é essencial um cessar-fogo imediato que permita o fluxo humanitário a Gaza de maneira “sustentável, desimpedida e imediata”, incluindo sob mediação ativa do governo egípcio.

Sisi corroborou as falas de Lula aos jornalistas. “Agradeço o reconhecimento do presidente brasileiro ao Estado palestino”, disse o incumbente egípcio.

Relações internacionais

Esta é a segunda vez que Lula viaja oficialmente ao Egito. Sua primeira visita foi em 2003, pouco após ser eleito a seu primeiro mandato. Nenhum outro presidente brasileiro jamais visitou o país. Em nota à imprensa, Lula destacou que o Brasil retornou ao mapa das relações diplomáticas e criticou, sem citar nomes, a política externa do seu antecessor, Jair Bolsonaro.

“Tenho a satisfação de voltar ao Cairo vinte anos depois de ter sido o primeiro presidente brasileiro a visitar o Egito. Parece que o Brasil estava fora do mundo, só olhava Europa e Estados Unidos. Retorno agora para celebrar o centenário das relações diplomáticas entre nossos países. Hoje, como em 2003, minha visita tem por objetivo aproximar o Brasil da África e do Oriente Médio e as relações com o Egito ocupam papel singular nessa estratégia”.

Lula criticou ainda a incapacidade da Organização das Nações Unidas (ONU) e outras instituições internacionais em solucionar conflitos geopolíticos, incluindo na Faixa de Gaza e na Ucrânia. O presidente brasileiro reiterou apelos para reformar a estrutura anacrônica e hegemonista do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

“O Conselho de Segurança não pode fazer nada na guerra em Gaza. A única coisa que se pode fazer é pedir paz pela imprensa, mas parece que Israel tem a primazia de descumprir, ou melhor, de não cumprir nenhuma decisão emanada das Nações Unidas”,

disse Lula.

Ao reivindicar maior participação de países da África e América Latina, o presidente enalteceu o eventual apoio do Egito para “fazer as mudanças necessárias nos órgãos de governança global”.

“É preciso acabar com o direito de veto dos países, e é preciso que os membros do Conselho de Segurança sejam atores pacifistas, não atores que fomentam a guerra”, acrescentou.

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Sobre Gaza, Lula reconheceu ainda no início da deflagração israelense no território costeiro se tratar de “genocídio”. Seu apoio à denúncia sul-africana em Haia foi considerado uma das manifestações mais fortes entre os países do chamado Sul Global.

Seu governo, no entanto, ainda se nega a revogar contratos de cooperação militar com o Estado colonial israelense — medida reivindicada por ativistas.

Lula se reunirá nos próximos dias com o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, na cidade de Adis Abeba, capital da Etiópia, no contexto de uma cúpula da União Africana, da qual o incumbente brasileiro participará como convidado de honra.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados. Desde então, são 28.576 palestinos mortos e 70 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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