Martin Griffiths, subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, reafirmou que a Organização das Nações Unidas (ONU) não considera oficialmente o movimento palestino Hamas como “grupo terrorista”, mas sim “organização política”.
Em entrevista à rede Sky News publicada nesta quinta-feira (15), afirmou Griffiths: “Eu trabalhei com muitos, muitos grupos terroristas e insurgentes. O Hamas não é um deles, da forma como vemos, como vocês sabem. É um grupo político”.
Questionado sobre o objetivo declarado de Israel em bombardear Gaza — isto é, exterminar o Hamas —, destacou: “Penso que é dificílimo desalojar esses grupos sem uma solução negociada que inclua suas aspirações. Não consigo pensar em nenhum exemplo de um lugar onde a vitória por meio da guerra tenha sido alcançada, diante de um grupo tão enraizado — seja terrorista ou não”.
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“Para deixar claro: o Hamas não está na lista de grupos designados terroristas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas”, acrescentou Griffiths nas redes sociais. “Isso não torna seus atos de 7 de outubro menos repreensíveis, como venho dizendo todo o tempo”.
O Hamas é um movimento político por libertação nacional estabelecido em 1987 pelo falecido sheikh Ahmed Yassin, após a deflagração da Primeira Intifada contra a ocupação israelense. Em 2006, o grupo venceu as eleições nacionais palestinas, realizadas democraticamente.
Entretanto, Israel e seus aliados ocidentais rejeitaram o resultado das urnas, deixando uma cisão entre os grupos nacionais palestinos, especificamente o Hamas, radicado em Gaza, e o Fatah — que comanda a Autoridade Palestina (AP) — na Cisjordânia.
Desde então, o Hamas mantém a administração interna de Gaza, sob cerco violento por ar, mar e terra imposto por Israel.
A propaganda de guerra israelense costuma demonizar o Hamas como organização “terrorista”, medida comum a esforços coloniais contra movimentos de resistência, independentemente de seus fundamentos religiosos ou ideológicos.
Grupos por libertação nacional na África do Sul e na Irlanda, entre outros, sofreram as mesmas designações, embasadas sobretudo em vieses ideológicos e interesses geopolíticos, no lugar de considerações da ciência política internacional.
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Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia ecoam a propaganda israelense ao difamar atos de resistência do povo palestino como “terroristas”. A campanha tem um fundo de desumanização da população palestina de maneira geral.
Em 2017, em uma conferência realizada pelo MEMO, o ex-secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Jack Straw, sugeriu ter deixado o cargo, via pressão política, por pedir ao governo que debatesse o status do Hamas.
O Brasil tampouco caracteriza o Hamas como “grupo terrorista”, ao acompanhar legalmente as determinações do Conselho de Segurança. Portanto, ao empregar o vernáculo israelense, de maneira acrítica, a imprensa corporativa incorre em transgressão do código de ética, indo contrariamente à política externa do Estado brasileiro.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça de combatentes palestinos, diante de 17 anos de cerco a Gaza e recordes de violação colonial nos territórios ocupados da Cisjordânia e Jerusalém.
Desde então, 85% dos habitantes de Gaza — isto é, dois milhões de pessoas — foram expulsos de suas casas sob uma brutal campanha de bombardeios. Quase 30 mil pessoas morreram e 70 mil ficaram feridas — na maioria, mulheres e crianças.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.