Imagens de satélite e fotografias registraram construtores egípcios nivelando áreas extensas e erguendo um muro de concreto no deserto do Sinai, perto da fronteira da travessia de Rafah, na fronteira com a Faixa de Gaza sitiada.
As obras sugerem que o regime militar do presidente Abdel Fattah el-Sisi decidiu capitular a um possível influxo de refugiados palestinos, diante de uma iminente invasão israelense a Rafah — cidade que abriga 1.5 milhão de deslocados pela guerra.
Em situações anteriores, diante de declarações e ações israelenses neste sentido, o governo no Egito reiterou sua objeção a uma eventual transferência compulsória dos palestinos de Gaza ao Sinai, ao caracterizar tais medidas como “completamente inaceitáveis”.
Estados Unidos e outros países também rejeitaram os planos — ao menos em público.
Fontes reportaram, contudo, preparativos em curso à agência de notícias Reuters, ao descrevê-los como “medidas de contingência”.
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Lideranças israelenses, por sua vez, adotam dois discursos distintos: a aliados externos insistem não desejar expulsar os palestinos de Gaza, mas sim exterminar o Hamas; ao eleitorado interno, notavelmente radicalizado, promete anexar, reocupar e reassentar o território.
Duas fontes israelenses contactadas pela Reuters nesta sexta-feira (16) se negaram a comentar as “medidas de contingência” assumidas pelo Egito.
Segundo o exército israelense, há preparativos para evacuar os civis de Rafah a outras partes do território palestino, apesar da destruição generalizada causada pela varredura norte-sul imposta por Israel, que forçou dois milhões de pessoas a deixarem suas casas.
Autoridades ocupantes tampouco dão detalhes sobre quais os novos destinos de evacuação. Os palestinos, muitas vezes deslocados diversas vezes ao longo de quase cinco meses, alertam que não há para onde ir.
A Fundação Sinai para os Direitos Humanos obteve, neste entremeio, evidências fotográficas da construção de muros de concreto, no lado egípcio de Rafah.
Segundo a entidade, trata-se de uma “área de isolamento” provavelmente destinada a receber refugiados palestinos, “em caso de um êxodo de massa da população de Gaza”.
De acordo com o Wall Street Journal: “Autoridades do Egito, receosas de que um avanço ainda maior de Israel ao sul da Faixa de Gaza leve a uma enxurrada de refugiados, decidiram construir uma estrutura murada de 13 km de extensão no deserto do Sinai, perto da fronteira”.
Estima-se que a área murada, designada como “zona neutra”, possa abrigar cem mil palestinos — menos de 10% dos eventuais refugiados.
Ativistas nas redes sociais sugerem a possibilidade de uma “nova traição” do Egito, em nome de sua normalização com a ocupação israelense, ao edificar “campos de concentração” para os palestinos de Gaza.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) alertou para um “desastre”, em caso de êxodo dos refugiados de Rafah. Segundo Filippo Grandi, chefe da agência, trata-se de “um desastre ao Egito e um desastre ao futuro da paz”.
Martin Griffiths, vice-secretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, advertiu contra a “ilusão” de que os palestinos de Gaza sejam evacuados a um “lugar seguro”, ao reiterar que o cenário de deslocamento através da fronteira seria um “pesadelo ao Egito”.
Diaa Rashwan, chefe do Serviço de Informação do Estado do Egito, rejeitou como “infundados” os relatos em questão. Rashwan insistiu que o Cairo é contra a expulsão dos palestinos de Gaza, ao alegar que suas obras no Sinai antecedem a guerra.
Vivendo atualmente em uma tenda improvisada no lado palestino de Rafah, Um Zaki diz não ter para onde ir com seus cinco filhos, após serem deslocados à força ao menos duas vezes consecutivas.
“Talvez nos expulsem ao Sinai, com seus tanques de guerra”, lamentou Um Zaki, de 49 anos, em entrevista por telefone à agência Reuters. “Muitas pessoas não pensarão duas vezes em escalar o muro para salvar sua vida e a de suas crianças. E ninguém pode culpá-las”.
“Não é disso que eu tenho medo”, acrescentou. “Tenho medo de uma segunda Nakba, de nunca mais retornar para Gaza. Foi assim em 1948, os países árabes garantiram a nossos pais em Jaffa e em toda a parte que voltaríamos em questão de dias. Mas aqui estamos, 75 anos depois”.
“Haverá um acordo de último minuto para salvar Rafah, para salvar Gaza?”, questionou Um Zaki. “Só posso esperar que um milagre aconteça”.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados. Desde então, foram ao menos 28.858 palestinos mortos e 68.667 feridos — na maioria mulheres e crianças.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
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