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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Prioridades do Ocidente: Genocídio em Gaza ou resistência ucraniana?

Equipes da defesa civil e residentes buscam sobreviventes nos escombros após bombardeios de Israel a uma área residencial no campo de refugiados de Nuseirat, em Deir al-Balah, na Faixa de Gaza, em 15 de fevereiro de 2024 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]
Equipes da defesa civil e residentes buscam sobreviventes nos escombros após bombardeios de Israel a uma área residencial no campo de refugiados de Nuseirat, em Deir al-Balah, na Faixa de Gaza, em 15 de fevereiro de 2024 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]

Enquanto eu caminhava nas ruas de Lviv, no oeste da Ucrânia, em dezembro, tentando evitar o gelo negro que assola o inverno no país, a última coisa que eu esperava era ouvir a pergunta: “O que você acha de Israel e Palestina?”. Virei-me a Yulia, advogada que havia conhecido não mais que uma hora antes, ligeiramente surpreso por ela estar interessada naquela região. “Acho que você apoia a Palestina, não é verdade?”, ela insistiu.

Quando eu lhe disse que os palestinos estavam em uma situação não muito diferente daquela vivenciada pelos ucranianos, ambos sob intermináveis bombardeios e ocupação militar por um vizinho hostil, com reivindicações capciosas e ideológicas à sua terra, ela me parece em choque. Seu semblante era como se eu mesmo fosse um propagandista russo.

“Mas é o contrário”, afirmou Yulia. “Os palestinos são como os russos e os israelenses são como nós, ucranianos, não é?”. Reafirmei meu argumento, quando ela enfim reconheceu a razão por trás de sua percepção distorcida, ao compreender que o Kremlin estaria ao lado dos palestinos, além de Teerã. Em um ponto de vista classicamente binário sobre como funciona o mundo, para ela, os palestinos seriam fundamentalmente contra a resistência ucraniana, alinhados, portanto, à agressão de Moscou.

Essa foi uma conversa que se repetiu mais de uma vez durante minha estadia na Ucrânia, devastada pela guerra, que busca se defender das forças russas, particularmente após o último verão, quando a contraofensiva nacional enfrentou reveses desoladores contra a invasão.

De fato, tais pontos de vista são pouco surpreendentes, dado que são comuns entre populações de países que orbitam a zona de influência dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), como Kosovo, Coreia do Sul e agora Ucrânia.

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Evidentemente, contradizem suas próprias situações em campo: os kosovares albaneses jamais tolerariam uma nova ocupação dos sérvios e os ucranianos buscam resistir com tudo que têm à invasão da Rússia. Ainda assim, questões políticas de caráter episódico regularmente têm mais influência do que questões de princípio, de modo que é esperado, de certa forma, que algumas comunidades que se sentem agradecidas ao posicionamento de Washington — mesmo quando insuficiente — não se oponham a Israel em um momento imediato.

A suposta adesão dos palestinos ao lado russo é, contudo, amplamente equivocada, dado que o governo em Moscou não é historicamente um grande apoiador de sua causa, tampouco inimigo de Israel. A posição oficial do Kremlin é de apoio ao estabelecimento de um Estado palestino e, sim, há uma aliança com o bloco da Síria e Irã contra a hegemonia israelo-americana no Oriente Médio. No entanto, a Rússia ainda se mantém como um agente neutro no conflito em curso na Palestina histórica.

Outro sentimento, deveras mais preciso, que encontrei entre os ucranianos é de que a guerra de Israel a Gaza não era assunto seu, à medida que eles próprios têm seus problemas. Além disso, sentiam, com notável pesar, que a ofensiva israelense lhes roubou o foco internacional, sob uma continuada escalada russa em seu território.

De fato, não estão errados. Não apenas a campanha genocida israelense tomou as manchetes e mesmo os debates diplomáticos, como afetou diretamente a capacidade de Kiev de obter armas essenciais a sua resistência. Uma razão para tanto é a escolha estratégica dos Estados Unidos de armazenar armas justamente em Israel, como parte de um acordo entre as partes cujo objetivo é assegurar a dominância israelense nos territórios ocupados e na região como um todo.

Há cerca de um ano, no início de 2023, o Pentágono autorizou a Ucrânia a usar este posto como meio para ampliar o fluxo de armas a suas trincheiras, dando ao front ucraniano um volume não específico de armamentos e munições.

Em outubro, contudo, após a operação transfronteiriça do Hamas ao envelope de Gaza, a Casa Branca decidiu desviar o fluxo armamentista da Ucrânia a Israel. Oficiais americanos afirmaram que tais medidas não teriam impacto imediato na resistência ucraniana, ao ponto de um oficial do Pentágono, Patrick Ryder, declarar a jornalistas: “Estamos confiantes de que podemos apoiar tanto a Ucrânia quanto Israel em termos de suas demandas de defesa”.

Apesar disso, a mudança inferiu um notável impacto em campo, à medida que a Ucrânia passou a sofrer com uma escassez crônica no abastecimento bélico.

Outra maneira que o genocídio perpetrado por Israel em Gaza afetou a luta ucraniana reside no pacote de US$95 bilhões encaminhado ao Congresso dos Estados Unidos, que prevê assistência militar a Ucrânia, Israel, Taiwan e outros. Embora Kiev deva receber, caso aprovado, uma ampla soma de US$60 bilhões, contra US$14 bilhões a Tel Aviv, este excedente poderia muito bem ser encaminhado às ações de resistência notavelmente mais carentes no Leste Europeu.

Não importa se o leitor se alinhe mais à retórica russa ou ucraniana, se descreve a guerra como “invasão” ou “operação especial”; todavia, é inegável que a Ucrânia como Estado independente — e como povo, se entendermos intenções genocidas por parte da Rússia, como dizem muitos políticos ocidentais — enfrenta uma ameaça existencial. Em termos de abastecimento, os meses recentes parecem mostrar que o lado ucraniano está sempre prestes a ficar sem balas, ao passo que o arsenal russo não parece acabar. Em termos territoriais, a Ucrânia também detém pouca vantagem estratégica, em comparação com a gigantesca massa continental da Rússia.

Não nos enganemos: Israel não enfrenta qualquer ameaça existencial; ao contrário, seja qual for o resultado da ofensiva em curso, o Hamas está nas cordas — situação não tão distinta daquela imposta hoje à resistência ucraniana. Muitos observadores, e até mesmo oficiais israelenses, se surpreendem ainda com a capacidade de luta do braço armado do Hamas diante da intensiva campanha de destruição de Israel, à medida que a ocupação tem notória vantagem militar, sem jamais se preocupar com seus Estados vizinhos.

Israel tem de fato um considerável valor estratégico, ao qual pode recorrer na hipótese mágica de o Hamas ou qualquer outra força palestina conquistar o território à força. Além disso, detém objetivos territoriais sobre os quais age para assegurar sua supremacia militar como a de seus aliados, enquanto a resistência palestina se mantém vulnerável, sem vantagem alguma, senão a alternativa de guerrilha e um escasso corredor diplomático através do Catar.

De um ponto de vista essencialmente objetivo, a Ucrânia trava sua guerra pelo direito de existir, enquanto a ofensiva israelense, não importa o que diz sua persistente propaganda de guerra, se dá sobretudo para consolidar sua dominação militar na região, assim como sua ocupação sobre o povo palestino, incorrendo, em último caso, no extermínio de toda a população.

Sim, Israel rouba o foco do mundo e mesmo os recursos e apoio político e militar do Ocidente. É hora, portanto, de os ucranianos despertarem para o fato de que Estados Unidos e Europa não lhes deram qualquer prioridade na geopolítica global.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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