Em 2 de janeiro de 2024, o gabinete político do movimento Hamas confirmou o assassinato de seu vice-líder, Saleh Al-Arouri, por um ataque aéreo realizado por Israel ao subúrbio de Beirute, capital do Líbano, durante a madrugada.
Izzat al-Rishq, também membro do gabinete político do Hamas, descreveu a operação como um “assassinato covarde conduzido pela ocupação sionista contra líderes e símbolos palestinos”.
O grupo confirmou ainda a morte de dois comandantes de seu braço militar, as Brigadas Izz al-Din al-Qassam, identificados como Azzam al-Aqraa e Samir Fandi.
De acordo com informações da imprensa libanesa, o ataque foi executado por um drone militar que alvejou um escritório do Hamas no sul da cidade, resultando em um total de seis mortos e 11 feridos.
Israel tem uma longa história de assassinatos sumários de lideranças palestinas não apenas nos territórios ocupados, mas também no exterior.
Quem foi Saleh al-Arouri?
Segundo relatos, o papel de al-Arouri no movimento Hamas se tornou mais proeminente do que simplesmente uma posição de vice-liderança política.
De acordo com as justificativas promovidas pelas autoridades israelenses para realizar o ataque ao Líbano, além de exercer um papel junto às Brigadas Al-Qassam, al-Arouri passou anos e anos ajudando a reconstruir a resistência palestina na Cisjordânia ocupada.
Outros testemunhos apontam que al-Arouri serviu de assessor chave a Ismail Haniyeh, chefe do gabinete político, sobretudo no que se refere à comunicação entre o Hamas, Irã e Hezbollah.
Al-Arouri nasceu na aldeia de Aroura, perto da cidade de Ramallah, na Cisjordânia, em 1966. Em meados da década de 1980, ao cursar direito islâmico na Universidade de Hebron (Al-Khalil), al-Arouri ganhou proeminência nas atividades de resistência. Juntou-se à Irmandade Muçulmana ainda jovem e, em 1985, liderou ações estudantis na instituição.
Fontes israelenses e americanas alegam que al-Arouri se filiou ao Hamas pouco após sua criação em 1987, no início da Primeira Intifada — levante popular palestino contra a ocupação. Segundo essa versão, al-Arouri rapidamente subiu entre as fileiras, de um líder do bloco estudantil a um dos membros fundadores das Brigadas al-Qassam, entre 1991 e 1992.
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Autoridades da ocupação israelense detiveram al-Arouri ao menos três vezes, no entanto, sem conseguir silenciá-lo, à medida que manteve suas ações de resistência, junto ao Hamas e outros movimentos nacionais, dentro da penitenciária de Ashkelon.
Entre 1990 e 1992, al-Arouri foi encarcerado por Israel sob o sistema de detenção administrativa — isto é, sem julgamento ou sequer acusação. Em 1992, pouco depois de ser solto, novamente foi detido e desta vez condenado a 15 anos de prisão, sob acusações referentes à formação de células de resistência armada na Cisjordânia.
Al-Arouri foi libertado somente em 2007, mas preso mais outra vez três meses depois, mantido em custódia das forças ocupantes por três novos anos, até a Suprema Corte de Israel deferir sua soltura e deportação à força da Palestina.
Em 2003, o Departamento de Justiça dos Estados, em seu viés imperialista em plena “guerra ao terror”, classificou al-Arouri como “conspirador no financiamento de atividades terroristas”, em referência a seu suposto envolvimento com três militantes do Hamas radicados em Chicago. No processo, al-Arouri foi descrito como “alto comandante militar do Hamas que recebeu dezenas de milhares de dólares em troca de ações militares, como compra de armas”.
Após ser novamente libertado, al-Arouri tornou-se membro do gabinete político do Hamas. No entanto, viu-se forçado ao exílio em Damasco, capital da Síria.
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Em 2011, al-Arouri participou, como membro da equipe, de negociação promovida pelo Hamas por uma troca de prisioneiros com o regime israelense, via mediação do Egito.
Com a deflagração da revolução síria por democracia, em 2011, e a subsequente guerra civil, al-Arouri foi forçado a um novo deslocamento, desta vez à Turquia, onde passou alguns anos.
Em junho de 2014, al-Arouri, como representante do Hamas, assumiu responsabilidade por uma operação de resistência que capturou e matou colonos ilegais na Cisjordânia — dentre eles, um cidadão americano-israelense.
Em setembro de 2015, o Departamento do Tesouro em Washington impôs sanções a al-Arouri, ao acusá-lo de servir como financiador e facilitador a células militares do Hamas, em particular, na Cisjordânia.
Em 9 de outubro de 2017, o Hamas anunciou a eleição de al-Arouri como vice-líder do gabinete político do movimento nacional. Sua ascensão coincidiu com esforços de unificação das facções palestinos e de legitimação do Hamas na arena internacional.
Neste contexto, mudou-se para o Líbano, onde buscou auxiliar na reaproximação entre Hamas e Teerã, após ruptura devido a divergências sobre a revolução na Síria. Al-Arouri também investiu em relações com o Hezbollah.
Em novembro de 2018, o Departamento de Estado dos Estados propagandeou uma recompensa de US$5 milhões por informações sobre al-Arouri. Na ocasião, insistiu que a liderança política do Hamas vivia no Líbano, onde parecia trabalhar em colaboração com o então chefe das forças al-Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã, Qasem Soleimani — por sua vez, morto no Iraque por forças da ocupação americana.
Segundo a narrativa israelense, al-Arouri era o principal candidato a suceder Yahya al-Sinwar na liderança do Hamas, além de supostamente responsável por operações das Brigadas al-Qassam a partir de Líbano e Síria, incluindo disparos de foguetes.
Al-Arouri foi alvo de uma firme campanha de incitação e difamação pela imprensa de Israel nos últimos anos, incluindo apelos públicos por sua execução sumária, mesmo que estivesse ainda no exílio, em franca violação da soberania e autonomia territorial dos países da região.
Este artigo foi publicado originalmente em árabe pela rede Arab48 em 2 de janeiro de 2024.
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