Perfil: Khader Adnan, cidadão palestino que morreu na prisão

O prisioneiro palestino, Khader Adnan, faleceu dentro de uma penitenciária israelense na terça-feira, 2 de maio de 2023, após 86 dias de greve de fome em protesto a sua prisão arbitrária. O Serviço Penitenciário de Israel (SPI) afirmou que Adnan foi encontrado inconsciente e levado ao hospital; contudo, não resistiu.

Adnan, então com somente 44 anos, nativo da aldeia de Arraba, a oeste de Jenin, na Cisjordânia ocupada, deu início a sua greve de fome em 5 de fevereiro, como protesto a suas condições de prisão sob custódia da ocupação.

Israel acusou Adnan de ser membro do grupo palestino de Jihad Islâmica e, portanto, apoiar o “terrorismo”; contudo, jamais o julgou devidamente, até o dia de sua morte.

Segundo a Sociedade dos Prisioneiros Palestinos — ong que monitora os direitos humanos dos presos políticos nas cadeias da ocupação — uma corte militar, em abril de 2023, indeferiu uma solicitação dos advogados de Adnan para soltá-lo sob fiança, à medida que sua greve de fome se aproximava do 78° dia.

Adnan foi reiteradamente detido pelas forças ocupantes, forçado a recorrer a numerosas greves de fome como forma de protesto.

Em busca da liberdade

Adnan, conforme os relatos, foi um membro proeminente do movimento de Jihad Islâmica na Cisjordânia ocupada.

Pai de nove filhos, tornou-se um símbolo da resistência palestina contra as políticas de detenção sumária das autoridades de Israel. “Estou em greve de fome para protestar contra minha prisão e contra a política de detenção administrativa”, reiterou Adnan em entrevista realizada em certa ocasião pela agência Anadolu.

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A política de detenção administrativa é utilizada pelas autoridades israelenses como mecanismo para prender qualquer cidadão pelo prazo de seis meses, a ser estendido indefinidamente, sem julgamento ou sequer acusação, com base em um processo “confidencial”.

Adnan, bacharel em Matemática Econômica, foi preso ao menos 12 vezes desde 2004 e apelou ao menos cinco vezes à greve de fome. No total, foram oito anos nas cadeias da ocupação — na maior parte do tempo, sob detenção administrativa.

Em 2004, Adnan realizou 25 dias de greve de fome. Em 2012, foram 66 dias que resultaram de fato em sua soltura. Em 2015, foram 56 dias; em 2018, outros 58 dias. Três anos depois, mais 25 dias sem se alimentar — somando mais de dez meses.

Os protestos drásticos de Adnan se tornaram um grito de socorro a todos os palestinos, que se uniram em solidariedade na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, em Jerusalém e na diáspora.

Na ocasião de sua morte, palestinos detidos nas cadeias da ocupação eram 4.780 prisioneiros, incluindo 1.016 em detenção administrativa. Nos últimos cinco meses, no entanto, em meio ao genocídio em Gaza, acompanhado por uma brutal campanha de repressão e limpeza étnica na Cisjordânia, o número dobrou.

Assassinato

O primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, acusou Israel de assassinar Adnan. “A ocupação, seus sistemas carcerário e judiciário assassinaram deliberadamente Adnan, ao rejeitar sua soltura e negligenciar cuidados médicos em custódia, apesar da gravidade de seu estado de saúde”.

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A Sociedade dos Prisioneiros Palestinos e a Comissão para Assuntos dos Detidos e Ex-detidos da Organização para a Libertação das Palestina (OLP) confirmaram a acusação, ao advertir para um “assassinato premeditado” contra um prisioneiro político.

O Ministério de Relações Exteriores da Autoridade Palestina (AP) prometeu levar o incidente ao Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia.

No mês que antecedeu a fatalidade, diversos grupos alertaram para “o risco de Adnan perder a vida, devido ao estado gravíssimo de sua saúde”.

Escalada desde então

Segundo as ongs palestinas supracitadas, autoridades israelenses detiveram ao menos 7.170 pessoas na Cisjordânia ocupada desde a 7 de outubro de 2023, no contexto da deflagração do genocídio em Gaza.

Segundo as organizações locais, trata-se de uma campanha de prisão sem precedentes.

Estima-se mais de nove mil palestinos mantidos hoje nas penitenciárias da ocupação, entre os quais 3.484 prisioneiros sob detenção administrativa — isto é, sem julgamento ou sequer acusação; reféns, por definição.

Israel se nega a realizar uma troca de prisioneiros com os grupos palestinos.

Os ataques a Gaza desde 7 de outubro deixaram 29.410 mortos e 69.465 feridos, além de dois milhões de desabrigados, até então.

Cidadãos capturados em Gaza não podem ser contabilizados nas estimativas de detenção, dado que desaparecem na rede repressiva de Israel.

Na Cisjordânia, a campanha de prisão se somou a uma escalada na violência colonial ainda maior, após meses de recordes de mortos e feridos entre os palestinos nativos, muito antes de outubro. Aldeias e cidades continuam alvejadas por colonos armados, que conduzem pogroms sob escolta dos soldados israelenses.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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