Ambos os lados na guerra civil no Sudão são responsáveis por cometer abusos que equivalem a crimes de guerra, incluindo ataques contra localidades civis, como hospitais, mercados e mesmo campos aos deslocados internos, relatou nesta sexta-feira (23) o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OCHA).
As informações são da agência de notícias Reuters.
Esforços fracassaram até então para dar fim aos dez meses de conflito no Sudão, travado entre as Forças Armadas regulares e as Forças de Suporte Rápido (FSR), aliança paramilitar com o qual o exército dividia o poder até abril passado.
Milhares de pessoas foram mortas e cerca de oito milhões foram desabrigadas, dando ao país o recorde de maior população de deslocados internos do mundo.
“Algumas dessas violações podem equivaler a crimes de guerra”, declarou Volker Turk, chefe da agência das Nações Unidas, em comunicado emitido junto de seu relatório. “É preciso silenciar as armas e proteger os civis”.
O gabinete de Turk confirmou ter analisado evidências em vídeo que parecem mostrar agentes em uniforme militar desfilando com cabeças decapitadas de supostos apoiadores das Forças de Suporte Rápido, em meio a cantos e gritos de discriminação étnica.
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O exército do Sudão disse que as imagens são “chocantes” e prometeu investigar.
Um porta-voz das Nações Unidas afirmou que o gabinete de Turk deseja acompanhar de perto o inquérito promovido pelas Forças Armadas.
Segundo os Estados Unidos, as partes em conflito são sim responsáveis por crimes de guerra; as Forças de Suporte Rápido e grupos aliados estão ainda envolvidas em esforços de limpeza étnica em Darfur Ocidental. Ambas as partes prometeram investigar violações.
O relatório das Nações Unidas se baseia em entrevistas com mais de 300 vítimas e testemunhas, além de vídeos in loco e imagens por satélite. Conforme os indícios apresentados, cidadãos em fuga são frequentemente alvejados por armas explosivas.
Em um incidente, dezenas de pessoas foram mortos no campo de Zalingei, atacado pelas Forças de Suporte Rápido entre 14 e 17 de setembro. Outros 26 civis — sobretudo mulheres e crianças — foram mortos em 22 de agosto pelo exército, ao buscar refúgio debaixo de uma ponte.
Segundo depoimentos concedidos ao relatório, o grupo paramilitar recorre à tática de guerrilha “escudos humanos”.
Em Cartum, outro episódio controverso: dezenas de pessoas foram presas e postas em frente a uma sede militar das Forças de Suporte Rápido, a fim de dissuadir ataques aéreos.
Os investigadores da ONU encontraram, até então, 118 casos de violência sexual, incluindo uma mulher que sofreu estupro coletivo em custódia, ao longo de semanas. Segundo as denúncias, estupros são comuns por parte de membros das Forças de Suporte Rápido.