O ministro de Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, celebrou o apoio deferido a seu governo por manifestantes de extrema-direita que saíram à avenida Paulista, em São Paulo, no domingo (25), em defesa do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Bolsonaro e apoiadores convocaram um ato sob receios de prisão devido a sua conspiração para um golpe de Estado após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022, culminando no ataque terrorista a Brasília, em 8 de janeiro do ano seguinte.
O ex-presidente, aparentemente acuado, pediu anistia aos atos golpistas.
A manifestação bolsonarista contou com a presença de bandeiras israelenses, em uma relação marcada por fundamentalismo religioso e sionismo evangélico.
Em sua página da rede social X (Twitter), Katz agradeceu o apoio do “povo brasileiro”, ao insistir que “nem Lula conseguirá nos separar”. A postagem, publicada em português, foi tomada como provocação, ao marcar a conta oficial do presidente brasileiro.
Muito obrigado ao povo brasileiro por apoiar Israel 🇮🇱 Nem @LulaOficial conseguirá nos separar pic.twitter.com/4tX3i0L2bR
— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) February 26, 2024
A postura tornou-se constante por parte do governo em Israel, na tentativa de constranger Lula a retomar o apoio político ao Estado de apartheid.
Na última semana, durante viagem a Egito e Etiópia, onde participou como convidado de honra de uma cúpula da União Africana, Lula reforçou duras críticas ao genocídio perpetrado por Israel em Gaza, ao compará-lo com os crimes do nazismo.
As declarações do chefe de Estado brasileiro foram recebidas pelo establishment israelense com particular hostilidade, ao deflagrar uma crise diplomática entre os países.
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O governo brasileiro apoiou previamente a denúncia sul-africana sobre os massacres israelenses em Gaza ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia. Contudo, não rompeu laços com o Estado ocupante até então.
O chanceler israelense declarou Lula “persona non grata”, medida a qual o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, prometeu responder “dentro das normas da diplomacia”.
Na sexta-feira (23), Lula reafirmou sua denúncia: “Da mesma forma que eu disse quando estava preso que eu não aceitaria acordo para sair da cadeia e que eu não trocaria a minha liberdade pela minha dignidade, eu digo: não troco a minha dignidade pela falsidade. Eu sou favorável à criação do Estado Palestino livre e soberano”.
“O que o governo de Israel está fazendo não é guerra, é genocídio”, prosseguiu Lula. “Crianças e mulheres estão sendo assassinadas”.
Sobre a cobertura enviesada da mídia corporativa, responsável por produzir uma câmara de eco em torno de supostas repercussões negativas sobre a fala de Lula, observou o presidente: “Não tentem interpretar a entrevista que eu dei. Leiam a entrevista e parem de me julgar a partir da fala do primeiro-ministro de Israel [Benjamin Netanyahu]”.
As falas de Lula não receberam críticas tampouco cobertura negativa da imprensa internacional, exceto Israel. Em entrevista à rede CNN Brasil, Antony Blinken, secretário de Estado dos Estados Unidos, recusou-se a rechaçar Lula, ao descrevê-lo como um “amigo”.
Desde 7 de outubro, Israel mantém bombardeios a Gaza, deixando 30 mil mortos, 70 mil feridos e dois milhões de desabrigados — em grande maioria, mulheres e crianças.
As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.