Um novo relatório compilado pelo pesquisador palestino Ibrahim Hamami contestou os relatos apresentados por Israel sobre os ataques do grupo Hamas em 7 de outubro. Sob o título “O que realmente aconteceu em 7 de outubro?”, a pesquisa apresentou ao pública uma análise crítica sobre a narrativa israelense, corroborada pela imprensa corporativa.
O estudo contrapõe, por exemplo, a alegação de que o Hamas atacou deliberadamente civis ao trespassar a zona de fronteira aos assentamentos nos arredores de Gaza.
As evidências desmentem especificamente os números concedidos pelo exército de Israel e põem em questão a responsabilidade direta por baixas civis na ocasião.
A pesquisa de Hamami soma-se a denúncias de que a versão israelense — repleta de mentiras dramáticas, como a decapitação de bebês e estupros em massa — foi utilizada para justificar o genocídio perpetrado em Gaza.
Uma das reportagens contrapostas foi publicada pelo jornal americano The New York Times, ao difundir a tese de estupro como arma de guerra. Dúvidas se concentram nos relatos difundidos por Anat Schwartz, cineasta israelense sem experiência em jornalismo, coautora de vários artigos sensacionalistas sobre violência sexual, que carecem de provas.
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Os pesquisadores compilaram comentários prévios de Schwartz nas redes sociais, incluindo seu apoio a postagens facciosas sobre “quarenta bebês degolados”, além de mensagens de incitação de ódio contra os palestinos, ao descrevê-los como “animais humanos”.
Segundo a análise, a contratação de figuras extremas e publicamente enviesadas para comentar sobre um tópico em disputa viola a ética profissional da cobertura jornalística, ao negligenciar repórteres experientes, comentários acadêmicos e relatos em campo.
Dúvidas orbitam ainda sobre o papel da ong israelense Zaka, que alega recuperar corpos para o sepultamento. Uma investigação do jornal israelense Haaretz revelou que equipes do grupo são responsáveis por mentir em seus testemunhos sobre 7 de outubro.
O viés do New York Times e da imprensa corporativa ocidental, de maneira geral, prejudica sua própria capacidade de conduzir cobertura objetiva sobre fatos geopolíticos, destacou o estudo.
O relatório de Hamami reuniu ainda novos detalhes sobre as fabricações israelenses, ao mostrar esforços para conquistar apoio à operação militar, mediante frases específicas deferidas à mídia, como “maior atrocidade jamais testemunhada na região”, “novo 11 de setembro” e “massacre sem precedentes”.
Hamami observa paralelos com eventos históricos, ao notar a gravidade dos massacres de Sabra e Shatila, em 1982, e o genocídio em Srebrenica, em 1995.
Ao reforçar que a operação de 7 de outubro tem de ser posta em um contexto amplo — isto é, décadas de ocupação militar e apartheid —, Hamami refutou sistematicamente os rumores de Israel, ao longo de cinco capítulos do relatório.
O primeiro capítulo desafia as estimativas adotadas atualmente por Israel: 1.139 mortos, entre os quais 695 civis. O estudo nota que a estimativa oficial era consideravelmente superior: 1.400 mortos, incluindo 863 civis.
“A falta de escrutínio sobre os índices divulgados incita dúvidas sobre a precisão e o intento por trás das informações compartilhadas por fontes israelenses e pela imprensa ocidental”, explicou Hamami. “A narrativa israelense demonstra consistente tendência a falácias evidentes”.
“Não há dúvida”, acrescentou, “de que as forças israelenses dispararam indiscriminadamente a seus próprios cidadãos, resultando em um número desconhecido de baixas”.
A pesquisa emprega dados do Haaretz e outras fontes vazadas ao registrar instruções diretas de comandantes israelenses para que suas tropas atirassem contra qualquer pessoa nos kibutzim e no Festival de Música Nova — assumidos por Israel como ponto focal da narrativa.
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Imagens compartilhadas mostram escala de destruição coincidente com tanques e helicópteros de Israel, ao contrário do arsenal precário das forças palestinas.
O pesquisador observou ainda que Israel se recusa a investigar os eventos com transparência, à medida que usa as narrativas em questão como arma e forma de desumanização.
Hamami concluiu seu relatório ao reivindicar um inquérito internacional independente sobre os eventos de 7 de outubro, para responsabilizar eventuais violações com base nos fatos.
Israel mantém ataques a Gaza há quase cinco meses, deixando 30 mil mortos, 70 mil feridos e dois milhões de desabrigados.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.