Políticos britânicos difamam atos por Gaza, inventam ficções

Milhares de pessoas protestam em solidariedade ao povo palestino, em Londres, 17 de fevereiro de 2024 [Rasid Necati Aslım/Agência Anadolu]

Protestos pró-Palestina no Reino Unido são alvos de difamação por grupos sionistas para dissuadir as pessoas de se juntarem às crescentes fileiras antiguerra? Certamente, isso explicaria o recente furor sobre a suposta segurança de parlamentares, após Lindsay Hoyle, presidente da Câmara dos Comuns e membro da organização de lobby Labour Friends of Israel (Amigos Trabalhistas de Israel), alegar que políticos receberam ameaças por sua desastrosa abordagem sobre a possibilidade de um cessar-fogo em Gaza.

A questão surge após eventos extraordinários ancorados em uma campanha de imprensa que mostrou até então nada mais que hostilidade contra o povo palestino, em favor do Estado israelense e de sua campanha genocida em Gaza. Derrame na mistura comentários islamofóbicos de proeminentes deputados conservadores e teremos um clima decididamente tóxico a fermentar no país, à véspera das eleições gerais deste ano, representando os muçulmanos — ou “islamitas” — como os vilões da história.

Hoje, minhas suspeitas foram alimentadas por ninguém menos que o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, que recorreu a esforços descarados de terrorismo político ao advertir aos chefes de polícia que “linchamentos estão substituindo o estado de direito”. Ao reivindicar ações policiais mais e mais robustas, Sunak apelou a uma linguagem inflamatória que insiste que figuras públicas têm de ser protegidas de protestos em áreas comuns.

 

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O Ministério do Interior, no entanto, anunciou um pacote de £31 milhões para proteger os deputados, ao mencionar a conjuntura em curso do “conflito Israel-Hamas”.

Nesse entremeio, a polícia escocesa foi convocada para investigar alegações bizarras de que a sede eleitoral de Glasgow do partido Trabalhista foi “invadida” por 30 manifestantes pró-Palestina, com o deputado local, Paul Sweeney, criticando as autoridades locais por demorarem 27 minutos para responder ao chamado. A polícia negou, todavia, qualquer invasão, assim como as acusações de Sweeney. Segundo o deputado, manifestantes forçaram a entrada em seu gabinete, compartilhado com o líder do partido, Anas Sarwar, e outros dois colegas — Pam Duncan-Glancy e Pauline McNeil.

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“É possível, podemos dizer, que todo esse furor sobre supostas ameaças a parlamentares seja fabricado”, reiterou Mick Napier, cofundador da Campanha de Solidariedade Palestina da Escócia, cujos ativistas participaram do protesto. Certamente, ao ser pego inventando histórias, Sweeney parece expor um problema real. Sweeney é correligionário de um líder partidário adepto às ações do Estado israelense, que impede a toda população de Gaza qualquer acesso a água, comida, remédios e combustível — algo não somente cruel, como punição coletiva e crime de guerra. Enquanto isso, se queixa das pessoas que se opõem a tamanho barbarismo.

“Embora neste caso sequer erguemos a voz”, explicou Napier, “tamanho descaramento parece algo novo quando nossos políticos mentem ao público. Seria porque a mídia corporativa já abdicou de qualquer pretensão de investigar essas mentiras?”.

Apesar de reiteradas tentativas de contactar Sarwar, McNeil, Duncan-Clancy e Sweeney, nenhum deles se dispôs a comentar o incidente.

O analista político Kevin Ovenden escreveu sobre o caso em 22 de fevereiro: “Dois parlamentares eleitos foram expostos hoje por mentir sobre suposta intimidação sofrida quando estavam apenas tendo de lidar com pressão política e democrática. Um deles é Paul Sweeney, membro trabalhista do Parlamento da Escócia. A polícia de Glasgow refutou alegações suas altamente enviesadas de que manifestantes contra a guerra invadiram seu gabinete e assediaram sua equipe. De fato, não fizeram nada disso, concluiu a polícia, ao adotar, entretanto, um protesto ordenado sem sequer desobediência civil, realizado por um pequeno grupo de homens e mulheres de meia idade ou mesmo idosos”.

“Isso não impediu o presidente da Câmara dos Comuns, Lindsay Hoyle, por anos um subserviente membro do partido trabalhista, a difamar todo um movimento antiguerra como se, de alguma maneira, encubasse o terrorismo como justificativa para manobras antidemocráticas em nome de Keir Starmer [líder do partido Trabalhista”, acrescentou.

Ovenden culpa o apoio resoluto a Israel dos dois principais partidos britânicos — Conservador, no poder, e Trabalhista, na oposição — “por não somente levar a uma atmosfera de autoritarismo contra o protesto público e a liberdade de expressão, como mesmo ao esmagar as limitadas vias democráticas disponíveis por meio do parlamento”.

As ruas de Londres, não obstante, vivenciaram alguns dos maiores protestos pró-Palestina na história da capital, notavelmente pacíficos, mas isso não impediu Sunak de convocar uma reunião urgente dos chefes de polícia, na sede do governo, em Downing Street, nesta quinta-feira (29). O premiê instou as autoridades a usar todos os seus poderes disponíveis para reprimir uma facciosa intimidação e subversão dos manifestantes.

“Não podemos simplesmente permitir esse crescente comportamento violento e intimidatório, que, como todos podem ver, busca impedir os representantes eleitos de realizar livremente seus debates e fazer seu trabalho”, insistiu o primeiro-ministro — também notório por sucessivas mentiras.

Sem qualquer ironia, o homem que, até então, deu apoio incondicional a Israel — investigado por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), radicado em Haia — acrescentou: “Trata-se de algo simplesmente antidemocrático … Vou fazer tudo que for preciso para proteger nossa democracia e os valores que nos são tão caros”.

Del Babu, ex-superintendente da Polícia Metropolitana de Londres, observou que o uso de expressões como “linchamento” não ajuda. Em entrevista a um programa da companhia estatal BBC, Babu argumentou que pressionar os cidadãos a “protestar menos” pode ter “consequências indesejadas” e justamente levar a mais protestos.

“Continuaremos a marchar até que haja um cessar-fogo”, disse Shamiul Joarder, membro da ong Friends of Al-Aqsa. A entidade é parte de uma coalizão ampla que busca organizar as manifestações que tomam as ruas de Londres.

Membros de todas as seis organizações, junto do deputado trabalhista John McDonnell e do grupo ativista Liberty, realizaram uma coletiva de imprensa nesta semana em frente ao parlamento, criticando a linguagem contraprodutiva adotada por políticos no poder. Segundo o alerta, a “histeria” islamofóbica e a pressão do governo contra as liberdades civis levaram a Polícia Metropolitana a atos “discriminatórios” contra protestos pacíficos de massa.

Com notável cinismo, comentou à BBC o secretário do Interior, James Cleverly: “Genuinamente não sei o que esses protestos regulares querem alcançar. Deixaram sua posição clara e entendemos que muitas pessoas no Reino Unido têm essa posição”.

Horas depois, cento e quatro palestinos famintos de Gaza foram chacinados, sob disparos israelenses, à medida que se aglomeravam em desespero para alimentar suas famílias, quando um pacote assistencial caiu do céu. Se Cleverly não compreende as reivindicações dos atos que tomam as ruas, podemos avaliar que nosso chanceler carece de qualquer inteligência emocional e que seu sobrenome não condiz exatamente com sua pobre capacidade intelectual.

Apelos por cessar-fogo continuarão até que o genocídio do povo palestino tenha fim. Que parte de “chega de matar civis” nossos estimados políticos não conseguem entender?

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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