Palestinos feridos durante o massacre cometido por Israel contra um comboio assistencial nesta quinta-feira (29) confirmaram disparos diretos contra eles, à medida que corriam para conseguir alimento para suas famílias. Vítimas relataram instantes de horror e caos.
As informações são da agência de notícias Reuters.
Autoridades de saúde locais reportaram 115 mortos pela chacina. Israel insiste em contestar os números, ao alegar que parte das vítimas foi pisoteada. O incidente, contudo, foi gravado pelas próprias forças ocupantes.
Segundo uma fonte israelense, soldados dispararam “tiros de alerta” e então dispararam contra aqueles que não acataram as ordens para se mover.
A chacina deu novo enfoque à crise de fome que assola Gaza, sob cerco de Israel, e o colapso da distribuição humanitária mediante ataques da ocupação a comboios assistenciais.
LEIA: Fome pode matar milhares no norte de Gaza, alerta Ministério da Saúde
Conforme o Ministério da Saúde local, ao menos 13 crianças morreram de fome. Outras 700 mil pessoas no norte de Gaza sofrem risco de morte devido à inanição.
Quatro testemunhas, que falaram do Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, invadido e saqueado por Israel em dezembro, reportaram disparos das forças coloniais, incluindo tanques de guerra e drones armados.
Mahmoud Ahmad aguardou desde a noite de quarta-feira (28) pela chegada do comboio, a fim de obter farinha para seus filhos. Quando os caminhões chegaram, na manhã seguinte, Mahmoud correu até eles, mas se viu sob disparos de um tanque e um quadricóptero.
“Fui ferido nas costas”, relatou Ahmad. “Sangrei por uma hora até que meus familiares vieram a meu socorro e me levaram ao hospital”.
“Assim que chegou a ajuda, começaram a atirar nas pessoas, que estavam aglomeradas, pessoas famintas que foram tentar conseguir comida para si e suas crianças”, acrescentou. “Começaram a atirar nelas”.
Jihad Mohammed relatou aguardar na rotatória de Nabulsi, na rua al-Rashid, por alguma ajuda. A via costeira é a principal rota assistencial ao norte de Gaza.
“Fomos e esperamos os caminhões. Então dispararam contra todos nós e fui ferido”, confirmou Jihad. Questionado sobre a possibilidade de disparos deliberados de Israel, reiterou: “Sim, está certo. Eles usaram tanques, soldados, aeronaves… todos atirando contra nós”.
Sami Mohammed estava na rua al-Rashid com seu filho à espera do comboio. “Meu filho correu até a praia e atiraram duas vezes nele … Uma bala pegou de raspão em sua cabeça, mas outra o acertou no peito”. O menino está hospitalizado.
Abdallah Juha, ferido no rosto, foi buscar um saco de farinha para a sua família. “Estamos famintos. Não temos comida nem nada. Atiraram em nós … massacraram nós. Meu irmãozinho chora de fome. Onde é que eu vou conseguir comida?”
O Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA) informou que uma equipe visitou al-Shifa na sexta-feira para entregar insumos e conversou com as vítimas. “Na ocasião de nossa visita, o hospital recebeu os corpos de ao menos 70 pessoas”, declarou em nota.
Daniel Hagari, porta-voz do exército ocupante, culpou as vítimas, ao afirmar que dois incidentes ocorreram, a algumas centenas de metros um do outro. O primeiro, quando dezenas de pessoas foram pisoteadas. O segundo, quando tropas se sentiram ameaçadas.
Hagari contestou o número de mortos, mas negou-se a apresentar detalhes.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados. Segundo estimativas israelenses, cerca de 1.200 pessoas foram mortas na ocasião.
Entretanto, reportagens do jornal israelense Haaretz revelaram que parte dos óbitos se deu por “fogo amigo”, com ordens gravadas de chefes militares para disparar contra os reféns.
Os bombardeios indiscriminados de Israel, com apoio de Washington, foram acompanhados por uma varredura por terra em direção norte-sul, além de um cerco militar absoluto — sem água, comida, eletricidade ou medicamentos.
Ao promover suas ações, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os 2.4 milhões de palestinos de Gaza como “animais humanos”.
Ao menos 30.228 palestinos foram mortos e outros 71.373 ficaram feridos desde então — em grande maioria, mulheres e crianças. Estima-se que 85% da população — quase dois milhões de pessoas — estejam desabrigadas, sob a destruição de 70% da infraestrutura civil.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
LEIA: O que motiva o presidente da Argentina a pedir a demolição de Al-Aqsa?