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A projeção internacional do Brasil através do G20

Reunião dos ministros de Relações Exteriores do G20 no Rio de Janeiro, Brasil, em 21 de fevereiro de 2024 [Ministério de Relações Exteriores da Rússia/Divulgação/Agência Anadolu]

Desde que assumiu seu terceiro mandato como presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva está muito ativo na chamada diplomacia presidencial. A meta é manter a política externa do país na linha “altiva”, “soberana” e “independente”. Desta forma, a reaproximação com o chamado Sul Global e o aumento do número de países-membros do grupo dos Brics — apesar da infeliz desistência da Argentina sob desgoverno da extrema direita — veio junto da presidência rotativa do grupo dos vinte países mais ricos e da relação profícua com a União Africana — membro do G20 por convite do Brasil e da Índia.

A realização do encontro anual da conferência no Brasil é sinal de reconhecimento e atrai ainda mais a atenção dos poderes fáticos do planeta para nosso país. Como se sabe, nas relações internacionais, a projeção de poder — no caso brasileiro, brando, cultural, diplomático e econômico — é acompanhada de ameaças — domésticas, externas e transnacionais — ainda mais ameaçadoras. Vejamos a dimensão do G20 e tudo o que está em debate.

O G20 no Brasil

A cidade do Rio de Janeiro será sede, nos dias 18 e 19 de novembro de 2024, da Cúpula do G20, com a presença de chefes de Estado e de governo das maiores economias do mundo, e se prepara para receber várias reuniões temáticas durante o ano que vem. Tivemos em fevereiro o evento preparatório.

Para a realização de novembro, no Rio de Janeiro, a previsão é de aproximadamente 20 reuniões ministeriais e mais de 50 reuniões de vice-ministros e altos funcionários, além de dezenas de eventos paralelos, como seminários e visitas técnicas. É realmente impressionante a pujança da presença internacional no evento.

O G20 é considerado o principal foro mundial de cooperação econômica e financeira internacional. Seus países-membros respondem por mais de 90% do produto interno bruto (PIB), 75% do comércio e 60% da população do planeta. O grupo foi criado em 1999 em resposta à crise financeira asiática e suas consequências internacionais. Na época, reunia apenas ministros de finanças e presidentes de bancos centrais. Em 2008, para enfrentar a nova crise internacional, passou a ter o formato atual, ao nível de chefes de Estado e de governo.

Cabe compreender como o Grupo dos 20 países mais ricos do mundo modificou a sua configuração, ampliando as potencialidades da instância. Não por acaso, 2008 foi o ano mais importante para a chamada “farsa com nome de crise” ou o estouro da “bolha imobiliária” dos Estados Unidos e que veio a “contaminar” o sistema financeiro europeu. A mudança do perfil do G20 veio da necessidade de ampliar a capacidade de governança dos Estados diante das elites especulativas ocupando postos-chave nas principais instituições financeiras e operando muitas vezes nas sombras da lei — como no mercado de derivativos e nas operações de “shadow banking”. Controlar o crime financeiro, em geral cometidos pelos próprios mandantes de bancos e instituições afins, é uma das metas (alegadas) da conferência.

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Os países participantes são África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além da União Africana e da União Europeia. Ademais, países e organizações internacionais convidadas pelo anfitrião também participam do G20.

Neste caso, o Brasil convidou Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Portugal e Singapura. As instituições internacionais convidadas, com ênfase na área de finanças, foram o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (Bird, também conhecido como “Banco Mundial”), a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), a Corporação Andina de Fomento (CAF), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Importante observar o convite brasileiro aos países-membros do Brics, após sua ampliação, caso de Emirados e Egito, e à própria instituição financeira do bloco, o chamado Banco dos Brics (NDB), hoje sob presidência da economista Dilma Rousseff.

 Reuniões preparatórias e trilhas

Destacamos que a instância se divide em duas “trilhas”. A primeira, chamada de trilha sherpa — na alusão aos trabalhadores do Himalaia —, é organizada pelos emissores pessoais dos chefes de Estado. Para essa preparação, os chanceleres dos países membros e convidados pelo Brasil se reuniram no Rio de Janeiro, nos dias 21 e 22 de fevereiro.

Nesta trilha estão agregados 15 grupos de trabalho: Agricultura, Anticorrupção, Comércio e Investimentos, Cultura, Desenvolvimento, Economia Digital, Educação, Mulheres, Pesquisa e Inovação, Sustentabilidade Ambiental e Climática, Emprego, Transições Energéticas, Redução do Risco de Desastres, Turismo e Saúde. Também estão incluídas nesta trilha as forças-tarefa: Mobilização Global contra a Mudança do Clima e a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

Nesta etapa, se realiza a Iniciativa de Bioeconomia, um dos pilares da presidência rotativa do Brasil à frente do G20, estruturada em três eixos temáticos: ciência, tecnologia e inovação; uso sustentável da biodiversidade; e o papel da bioeconomia na promoção do desenvolvimento sustentável. O Ministério de Relações Exteriores (Itamaraty) coordena o grupo que desenvolve esta relevante temática.

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A outra vertente é a trilha de finanças, que trata de assuntos macroeconômicos estratégicos e é comandada pelos ministros das Finanças e presidentes dos Bancos Centrais dos países-membros. Sua coordenadora é a economista e diplomata Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda. As autoridades monetárias e os titulares das pastas de Finanças dos Estados-membros e convidados se reuniram em São Paulo, nos dias 26 e 27 de fevereiro deste ano.

São sete grupos técnicos da trilha de finanças: Assuntos do Setor Financeiro, Arquitetura Financeira Internacional, Economia Global, Finanças Sustentáveis, Inclusão Financeira, Infraestrutura e Tributação Internacional. As forças-tarefa são: Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, Força-tarefa Conjunta de Finanças e Saúde e Mobilização Global contra a Mudança do Clima.

A multipolaridade passa pela presença brasileira no Sistema Internacional

 Como é possível observar, o conjunto das trilhas de debate, forças-tarefa e iniciativas é proporcional ao tamanho e o poder dos Estados-membros, incluindo Estados Unidos e China. A presença brasileira é importante, mas pode ser fortalecida através de instituições internacionais, como o capital nacional que compõe o NDB e a participação em conselhos de organismos multilaterais importantes. Os recursos próprios do Estado brasileiro passam necessariamente por fortalecer a capacidade de investimento como banco de exportação do BNDES. Além da diplomacia através do corpo de carreira do Itamaraty, o país precisa de uma defesa proativa, ou ao menos diminuir a “porosidade” e a exposição das fragilidades domésticas — como a duvidosa lealdade das Forças Armadas e a espinha dorsal da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN).

Um caminho que pode ser relevante é ampliar o debate internacional dentro do debate doméstico, desassociando a análise do jogo de poder mundial tanto da manipulação sionista como da estupidez difundida por seus aliados bolsonaristas.

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