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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Fome se alastra em Gaza, em meio a ataques a comboios e recusa de Israel

Palestinos esperam horas para obter assistência alimentar, em Deir al-Balah, Gaza, 1° de março de 2024 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]

Multidões correm pelas ruas repletas de escombros da Cidade de Gaza, entre carros em chamas e cravados de balas, ao arriscar suas vidas na esperança de encontrar comida a família famintas, em um raro comboio humanitário que entre no território palestino, mantido sob rigoroso cerco por parte de Israel.

As informações são da agência de notícias Reuters.

Os serviços assistenciais no enclave palestino entraram em colapso, com acesso apenas de uma parcela ínfima dos insumos necessários e um número maior capaz de chegar ao norte de Gaza, onde os hospitais já acumulam corpos de crianças que morrem de fome.

Na semana passada, forças israelenses mataram a tiros 118 pessoas que tentavam obter socorro de um comboio humanitário na orla de Gaza. Quase 800 palestinos ficaram feridos. O incidente — conhecido desde então como “massacre da farinha” — deu nova atenção à crise de fome que assola os 2.4 milhões de palestinos de Gaza.

Agências da Organização das Nações Unidas (ONU) denunciam “obstáculos devastadores”, por parte de Israel, às operações humanitárias em uma situação cada vez mais crítica. Israel, por sua vez, desrespeita uma determinação do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), radicado em Haia, de 26 de janeiro, para que permita maior fluxo assistencial.

A corte, na ocasião, deferiu a denúncia sul-africana de genocídio perpetrado por Israel em Gaza como “plausível”. O processo pode durar anos.

“Há um pai no mundo capaz de ver seus filhos definhando de fome sem fazer nada, mesmo que o preço seja arriscar sua vida?”, comentou Ahmed al-Talbani, na Cidade de Gaza. “Os caminhões atropelam as pessoas, os tanques atropelam as pessoas, bombas caem do céu e metralhadoras disparam contra nossas cabeças. Então pergunto: alguém está satisfeito?”

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Apesar da catástrofe de fome que toma corpo em Gaza, volumes enormes de insumos esperam autorização israelense para atravessar a fronteira, apodrecendo pouco a pouco a apenas alguns quilômetros das famílias carentes. O fluxo, no entanto, minguou em vez de aumentar.

Antes do conflito, Gaza — sob cerco militar já há 17 anos — dependia de 500 caminhões por dia para subsistir. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA), contudo, reportou na sexta-feira (1°) que o mês de fevereiro não excedeu a média diária de 97 caminhões contra 150 em janeiro.

Um dos maiores problemas é a destruição de 70% da infraestrutura civil no território palestino, devido aos bombardeios de Israel, dificultando a gestão e distribuição do socorro humanitário, incluindo alimentos e medicamentos, dentro do enclave.

Israel mantém fechados todos os acessos ao norte de Gaza — primeiro alvo de sua varredura na direção sul, a fim de deslocar os palestinos de suas casas e eventualmente evacuá-los à força ao deserto do Sinai.

Neste contexto, com milhões de refugiados aglomerados sobretudo em Rafah, muitos comboios se deparam com multidões desesperadas e não conseguem chegar à região norte. Checkpoints israelenses, no entanto, são os principais responsáveis por obstruir sua passagem.

As Nações Unidas responsabilizam Israel por impedir deliberadamente a entrega humanitária.

“Tudo que estamos pedindo é salvo-conduto para que possamos enviar ajuda”, comentou Jenny Baez, oficial de Resposta Emergencial da UNRWA — difamada por Israel, sob cortes financeiros por Estados cúmplices.

A polícia palestina havia conduzido operações para escoltar remessas, mas parou de fazê-lo por conta dos sucessivos ataques de Israel.

Remessas aéreas

Shimon Freedman, porta-voz da agência colonial israelense conhecida como Coordenadoria de Atividades do Governo nos Territórios [Ocupados], ou Cogat, afirmou coordenar ações junto aos comboios, incluindo corredores e oficiais responsáveis.

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Freedman, entretanto, nega o direito internacional, ao alegar que a distribuição e segurança das remessas cabe às próprias agências, em vez da potência ocupante. “A segurança dos comboios é de responsabilidade das agências da ONU que operam em campo”, alegou o militar.

Com rotas por terra obstruídas, diante da persistente negativa israelense a seus apelos e árdua crise interna em pleno ano eleitoral, o governo dos Estados Unidos decidiu lançar de aeronaves um pequeno volume de cargas humanitárias.

Na quinta-feira passada (29), caixas de madeira caíram de paraquedas na orla de Gaza, contudo, com somente 38 mil refeições para 1.5 milhões de necessitados em Rafah. Diante dos números, agências humanitárias criticaram os envios como insuficientes e mera ação de relações públicas.

Conforme Freedman, Israel busca empreiteiras privadas para ajudar na questão. “Operações em campo não têm infraestrutura ou capacidade no momento para inspecionar e distribuir a ajuda em Gaza”. Mesmo a inspeção, denunciam as agências, é arbitrária.

Foi precisamente um comboio particular de Israel que atraiu os palestinos de Gaza ao massacre de quinta-feira, incitando receios de se tratar de mais um ardil das forças ocupantes.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reporta um crescimento sem precedentes das taxas de desnutrição entre crianças com menos de dois anos.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da agência, destacou: “Apelamos a Israel para que garanta que a ajuda humanitária possa ser entregue com segurança e regularidade”.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, também instou Israel a “maximizar todos os meios possíveis” para o acesso humanitário, ao ecoar o discurso da vice-presidente do país, Kamala Harris, de que a situação presente é “inaceitável”.

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Washington, contudo, insiste no envio de armas a Israel, alienando grande parte do eleitorado progressista, crucial à vitória do incumbente democrata Joe Biden em 2020.

Na Cidade de Gaza, homens à espera de alimento reportam disparos corriqueiros dos soldados israelenses, ao impedi-los de sequer chegar perto dos caminhões.

“Viemos porque estamos com fome, não porque queremos lutar. Não somos terroristas. Nossas casas não têm pão, é isso”, destacou Wafi al-Batran, em torno de uma fogueira. “Ficaremos aqui até que possamos voltar às nossas crianças com uma refeição”.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 30 mil mortos, 70 mil feridos e dois milhões de desabrigados.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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Palestina: quatro mil anos de história
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