O governo chileno do presidente Gabriel Boric confirmou que empresas israelenses não estarão presentes na Feira Internacional de Ar e Espaço (FIDAE) de 2024.
O tradicional evento é organizado pela Força Aérea do Chile e deve ocorrer neste ano entre 9 e 14 de abril. É considerado a principal feira de defesa aeroespacial da América Latina, com a participação de mais de 40 países.
O Ministério da Defesa confirmou em nota a ausência de empresas israelenses entre os exibidores. Maya Fernández, incumbente da pasta, anunciou a medida; contudo, sem detalhes, apesar do contexto de genocídio em Gaza.
Em um comunicado emitido paralelamente, o Ministério de Relações Exteriores em Santiago, no entanto, reafirmou seus apelos por cessar-fogo: “O desastre humanitário que resulta das operações militares de Israel confirma a urgência de um cessar-fogo na região”.
“O governo do Chile pede à comunidade internacional que reconheça o Estado da Palestina, inclusive como membro pleno da Organização das Nações Unidas”, acrescentou.
De acordo com José Miguel Insulza, senador e ex-chanceler, a decisão de excluir Israel do evento “salva o governo de um problema e das dificuldades domésticas que afetariam a feira”.
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A Frente Parlamentar de Apoio Chile-Israel rechaçou a medida: “Hoje, o governo chileno politiza essa atividade e mostra tremenda desconsideração para com o fato de que a Força Aérea do Chile manteve relações muito íntimas com o governo israelense, no que diz respeito a treinamento e inovação há anos”.
As relações entre ambos os exércitos se intensificaram, particularmente, durante a Ditadura Militar de Augusto Pinochet, com colaboração de inteligência, vigilância e repressão.
O Chile possui a maior comunidade palestina na diáspora, fora do mundo árabe, com cerca de 500 mil palestinos e descendentes no país.
A comunidade exaltou a decisão: “Expressamos nossa sincera gratidão ao governo do Chile e aos organizadores da FIDAE por alinhar as políticas do evento aos princípios de justiça e respeito aos direitos humanos e à lei internacional”.
Para a associação que representa a comunidade palestino-chilena, trata-se de “um passo positivo rumo a uma influência construtiva sobre a conduta dos países na arena internacional, ao promover a responsabilidade e o respeito à lei internacional”.
Apesar da reprimenda israelense, outros parlamentares e políticos elogiaram a decisão do governo de Boric. O senador Juan Ignacio Latorre descreveu a medida como “corajoso gesto de solidariedade ao povo palestino”.
Na rede social X (Twitter), o deputado Gonzalo Winter comentou: “Decisão correta de nosso governo. Companhias de Israel não participarão da próxima FIDAE. Não há espaço para cumplicidade nos massacres [do povo palestino”.
Boric juntou-se a outras lideranças latino-americanas — dentre as quais, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro — ao condenar como genocídio e punição coletiva os bombardeios israelenses contra a população civil de Gaza.
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“O Chile condena veementemente e observa com enorme apreensão as operações militares”, declarou em comunicado oficial o Ministério de Relações Exteriores.
O governo chileno acusou Israel de “violações sistemáticas da lei internacional” e reiterou que o Estado ocupante “tem obrigação de dar fim aos abusos e oferecer reparações abrangentes, além de garantias adequadas de não reincidência” ao povo palestino.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 30 mil mortos, 70 mil feridos e dois milhões de desabrigados.
As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.