Para 1.6 bilhão de muçulmanos ao redor do mundo, o mês sagrado do Ramadã marca um momento de profunda espiritualidade e reflexão. Durante o período, fiéis se abstêm de comer e beber durante o dia, quebrando o jejum após o pôr-do-sol.
Outros atos de culto também ocorrem, incluindo esforços de caridade e solidariedade, preces e leituras do livro sagrado, o Alcorão.
A seguir, respondemos algumas questões sobre o Ramadã.
O que é o Ramadã e quando começa?
O Ramadã é o nono mês do calendário islâmico e o período do ano mais sagrado para os muçulmanos. Acredita-se que, neste período, Deus revelou seus primeiros versos do Alcorão ao Profeta Muhammad.
A tradição religiosa recomenda o jejum aos muçulmanos que possam fazê-lo, ao respeitar questões de saúde e outras. O jejum é um dos cinco pilares da religião, além da proclamação de fé, oração, caridade e peregrinação a Meca, também caso haja condições — isto é, o Hajj.
O Islã adere ao calendário lunar, o que significa que o mês do Ramadã começa quando surge o primeiro crescente da lua nova. Países islâmicos dedicam comitês de Estado a monitorar e anunciar oficialmente a data de início.
Para outros países, há abordagens distintas: alguns seguem as diretrizes de mesquitas locais ou autoridades religiosas; outros seguem as orientações de países islâmicos.
Neste ano, o Ramadã começa em 10 ou 11 de março e deve terminar em 9 de abril.
O calendário lunar tem dez ou 11 dias a menos que o calendário gregoriano, baseado na rotação da Terra em torno do Sol. Ao comparar ambos, torna-se evidente que a data do Ramadã costuma mudar de um ano para o outro.
Neste ano, começa em março; em dez anos, deve começar em janeiro.
Por que os muçulmanos jejuam?
Os muçulmanos acreditam que o jejum os aproxima de Deus e, portanto, durante o mês sagrado, passam seu tempo engajados em atos de espiritualidade, conforme os preceitos de sua fé — incluindo orações, leituras do Alcorão e iniciativas beneficentes.
Abster-se de comer e beber durante as horas do dia — caso possível — é visto como uma manifestação de força de vontade, concentração e dedicação espiritual. Jejuar é visto também como uma forma de criar empatia aos necessitados e trabalhar, portanto, a seu favor.
Tampouco é permitido fumar ou ter relações sexuais.
Uma das perguntas que os muçulmanos costumam ouvir durante o Ramadã — além da infame dúvida “nem mesmo água?” — é o que acontece se você comer ou beber? Você não pode roubar a geladeira quando ninguém está olhando?
O propósito do Ramadã, no entanto, não é dogmático, mas sim uma recomendação para que os muçulmanos pratiquem moderação e se engajem melhor na vida espiritual. Comer e beber, como um engano genuíno, não afeta o calendário, e os fiéis podem seguir com seu mês como se nada tivesse acontecido.
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A extensão do jejum varia de país a país, a depender das horas do dia e da época do ano.
Na Noruega, por exemplo, caso o Ramadã caia em dezembro, cada dia de jejum será bastante curto, devido à pouquíssima luz solar que chega ao Polo Norte nessa época do ano.
As horas podem aumentar, porém, durante o verão, onde o período diurno é quase total. Nessas circunstâncias, a comunidade islâmica local pode aderir aos horários do país islâmico mais próximo ou da cidade de Meca, na Arábia Saudita.
Tipicamente, cada dia de jejum dura entre 11 e 20 horas, dependendo dos fatores supracitados.
Quais são as principais tradições do mês islâmico?
Cada família tem seu jeito de se preparar para o Ramadã. Neste período, costuma-se reunir familiares e amigos. Algumas famílias realizam iftars — a refeição do fim do dia, que quebra o jejum — a convidados e muitas mesquitas abrem suas portas.
Muitos muçulmanos aproveitam a oportunidade para cessar maus hábitos e refletir sobre suas vidas, suas comunidades e sua experiência espiritual.
Durante o mês do Ramadã, os muçulmanos acordam antes do sol nascer para comer uma espécie de café da manhã, chamado suhoor. Então, deixam de comer e beber até o jantar, após o sol se pôr — isto é, o iftar.
O iftar é acompanhado por preces noturnas opcionais, conhecidas como tarawih, que podem varar a noite e mesmo a madrugada. As orações costumam ocorrer coletivamente nas mesquitas, mas alguns muçulmanos preferem fazê-las em suas casas.
O jejum é muitas vezes rompido com tâmaras, conforme a tradição do Profeta. Então, as pessoas realizam o Maghrib — uma das cinco orações do dia — para depois se sentarem para o jantar.
Em diversas partes do Oriente Médio, bairros inteiros são decorados com luzes e outros ornamentos tradicionais para receber o mês sagrado.
Em alguns países, como Egito e Turquia, um musaharati passa pelas ruas com um tambor, para acordar as pessoas para que realizem o suhoor.
O que mais acontece durante o Ramadã?
Ao longo do mês sagrado, os muçulmanos costumam realizar atos de caridade, como o preceito obrigatório do zakat al-fitr, realizado no fim do Ramadã e antes da oração do Eid.
A doação tem como intuito limpar o doador de qualquer revés durante o mês islâmico, ao conceder alimento aos necessitados. Trata-se de algo diferente do zakat, realizado em qualquer época do ano, que constitui um dos cinco pilares supracitados, calculado em 2.5% das poupanças anuais do fiel — isto é, seu lucro ou excedente.
Em muitos países do Oriente Médio, o Ramadã é também uma espécie prolongada de horário nobre para a televisão, com novelas e programas especiais que buscam aproveitar a maior presença das famílias em suas casas. Muitas pessoas, no entanto, preferem estudar o Alcorão.
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Os últimos dez dias do Ramadã são especialmente reverenciados, com foco intenso nas atividades de culto. Segundo a tradição, foi neste período que as escrituras foram reveladas ao Profeta. Como a data exata jamais foi determinada, fiéis preferem adotar dez dias de espiritualidade.
Alguns muçulmanos passam seus dias e dormem nas mesquitas durante o período — conhecido como i’tikaaf — para manter o enfoque em sua jornada religiosa.
Quando termina o mês do Ramadã?
O Ramadã deste ano deve se encerrar em 9 de abril.
No fim do mês sagrado, há uma celebração de três dias conhecida como Eid al-Fitr — ou somente Eid. Neste período de festas e banquetes, famílias acordam cedo, oram na mesquita e recebem amigos, familiares e pessoas de suas respectivas comunidades.
Crianças recebem presentes e as casas são decoradas para a ocasião.
Algumas pessoas visitam os cemitérios islâmicos para prestar homenagem a seus entes queridos.
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Publicado originalmente em Middle East Eye
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