O presidente da Irlanda, Michael Higgins, rechaçou a campanha de propaganda israelense contra a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), ao caracterizar as acusações difundidas em janeiro como uma “fraude escandalosa contra os “esforços heroicos” das equipes humanitárias.
Higgins emitiu sua condenação em comunicado nesta terça-feira (12), logo após o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, indicar que Israel “implementa uma campanha para eliminar a agência”.
“A situação que vemos agora em Gaza é algo sobre a qual a opinião pública global não deveria ser distraída, tampouco lavar as mãos”, declarou Higgins. “É questão de vida e morte. O embargo a comida e assistência humanitária precisa acabar imediatamente”.
Segundo o presidente irlandês, os “escandalosos” impedimentos à entrega humanitária implicam na responsabilidade das lideranças israelenses sobre as mortes.
Higgins criticou países que suspenderam doações à UNRWA, ao reafirmar que seus governos têm de levar em conta as crianças que morrem de fome e sede.
Para Dublin, todos os membros das Nações Unidas devem demonstrar apreensão sobre os alertas de Lazzarini.
Dezoito países acompanharam a decisão dos Estados Unidos em interromper doações à UNRWA, em 26 de janeiro, após Israel acusar 12 trabalhadores da agência — de um contingente de 30 mil pessoas — de participar da ação do Hamas de 7 de outubro.
Os cortes americanos prevaleceram desde então, apesar de Israel não emitir quaisquer detalhes ou evidências para suas acusações.
A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou uma investigação e exonerou funcionários da agência. Em resposta, Suécia e Canadá prometeram retomar as remessas.
A UNRWA foi estabelecida em 1949, pouco após a Nakba, ou “catástrofe”, quando foi criado o Estado de Israel mediante limpeza étnica, por meio da expulsão deliberada de 800 mil palestinos de suas terras ancestrais e da destruição de 500 cidades e aldeias.
A UNRWA atende 5.9 milhões de refugiados nos territórios ocupados da Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental, além dos campos na Síria, Líbano e Jordânia.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 30 mil mortos, 70 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Dois terços das vítimas são mulheres e crianças.
As ações são retaliação a uma operação do Hamas que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.
No entanto, reportagens investigativas do jornal israelense Haaretz mostraram que parte considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de líderes militares para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.
Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
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