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Pico de islamofobia, ataques a mesquitas: Ramadã em Londres é tomado por medo

13 de março de 2024, às 09h08

Polícia isola área de um atropelamento contra pedestres perto da Mesquita de Finsbury Park, em Londres, Reino Unido, 18 de junho de 2017 [Tayfun Salcıi/Agência Anadolu]

Para a comunidade islâmica de Londres, o mês sagrado do Ramadã começou neste ano com um sentimento de apreensão, em meio a um pico de islamofobia amplificado pelo genocídio israelense em Gaza e sua cobertura enviesada de imprensa, segundo reportagem da agência de notícias Anadolu.

Invasões a mesquitas incitaram medo e clamores por medidas de segurança. Desde meados de fevereiro, três mesquitas foram invadidas: Palmers Green, Southgate e Ayesha.

Segundo a organização Tell MAMA, que monitora crimes de ódio contra os muçulmanos, incidentes islamofóbicos mais do que triplicaram no Reino Unido desde 7 de outubro, quando Israel lançou sua ofensiva a Gaza, em retaliação a uma operação do grupo Hamas.

De acordo com Bibi Rabbiyah Khan, presidente da Sociedade Cultural Islâmica de Londres (LICS), o maior comparecimento às mesquitas durante o Ramadã, sobretudo para as preces do tarawih, realizadas à noite, demanda que a comunidade seja “bastante cuidadosa”.

“A islamofobia está em alta e pessoas de nossa comunidade foram submetidas a ataques porque são muçulmanas, mas nem todas se sentem confortáveis para denunciá-los”, comentou Khan à agência Anadolu.

Para Khan, os ataques a mesquitas não são assaltos: “Não faz sentido que pessoas façam isso sem nem mesmo tentar chegar ao dinheiro que há nessas instalações”. Os incidentes, conforme seu relato, costumam incorrer em danos a câmeras de segurança e computadores.

Khan é também presidente do Conselho de Mesquitas da Zona Norte de Londres, que supervisiona 13 mesquitas — incluindo as três invadidas por vândalos.

“Quem sabe, os criminosos saibam que leva tempo para reinstalar os sistemas de segurança. Portanto, se há chance de isso voltar a acontecer, durante o Ramadã, enquanto nossos sistemas estiverem offline? Não podemos dizer”.

‘Tememos por nossas crianças’

Khan também mencionou incidentes na Mesquita de Wembley, no início de março, e em outras mesquitas de Leicester, ao reiterar a urgência de maiores medidas de segurança.

“Estamos preocupadíssimos com o aumento na islamofobia. Tememos por nossas crianças e por aqueles que vão às mesquitas. Durante o Ramadã, tudo termina mais tarde. Temos de ter segurança”, comentou Khan.

“Não sabemos o que vai acontecer porque as pessoas estão agitadas pelo que está acontecendo”, prosseguiu Khan, em referência à catástrofe humanitária em Gaza. “Há pessoas apreensivas e há pessoas indignadas. Afinal, como podemos tolerar tantas crianças sendo mortas e não pensar nisso, e não fazer nada?”

Khan disse buscar coordenação da polícia para que todas as mesquitas tenham sistemas de vigilância e segurança “programados e operantes” durante o mês sagrado.

‘Pico de crimes de ódio em Londres’

Em resposta à agência Anadolu sobre medidas de segurança para o Ramadã, a Polícia Metropolitana de Londres alegou trabalhar de perto com representantes das comunidades islâmica e judaica da capital desde 7 de outubro.

Analistas, no entanto, alertam que instituições de poder no Reino Unido — assim como no restante da Europa — parecem enviesadas a encobrir crimes de islamofobia.

Segundo a polícia, oficiais foram instruídos a patrulhar e investigar delitos perto dos locais de culto e centros comunitários. “Lamentavelmente, apesar de um aumento no contingente policial, vemos aumento considerável nos crimes de ódio”, afirmou o comunicado.

De acordo com as informações, violações incluem ataques contra indivíduos ou grupos, pessoalmente ou online, motivados por discriminação racial ou religiosa.

“Continuamos a encorajar todos que vivenciem crimes de ódio a reportá-los às autoridades. Não é aceitável e investigaremos”, prometeu a polícia.

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