Neste Dia de São Patrício — conhecido pela expressão em inglês Saint Patrick’s Day —, comemorado anualmente em 17 de março, a Anistia Internacional apelou ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para que honre suas “raízes irlandesas” e pressione o regime israelense a uma cessar-fogo imediato em Gaza.
O feriado em homenagem ao santo padroeiro da Irlanda se popularizou em todo o mundo, com desfiles e eventos repletos de pessoas que vestem verde e branco — as cores do país.
Na rede social X (Twitter), declarou o presidente americano, em campanha à reeleição: “Costumo dizer — nós, os irlandeses, somos o único povo no mundo nostálgico pelo futuro. Acreditamos sempre no futuro melhor. Feliz Dia de São Patrício!”
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I often say: We Irish are the only people in the world who are nostalgic for the future. We always believe in a better tomorrow.
Happy St. Patrick’s Day, everyone! pic.twitter.com/yriqmRbemZ
— Joe Biden (@JoeBiden) March 17, 2024
Seus cumprimentos, no entanto, pareceram ignorar apelos da Anistia Internacional compartilhados horas antes na mesma rede.
“Neste Dia de São Patrício, Sr. Presidente, suas raízes lhe chamam, exigem um cessar-fogo e fim da transferência de armas [a Israel]”, destacou a Anistia, junto a um vídeo de ativistas irlandesas. “Mais de 30 mil pessoas foram mortas pelo massacre israelense na Faixa de Gaza — muitas por munições americanas”.
This St Patrick's Day, @POTUS your roots are calling, demand a ceasefire and stop the transfers of arms.
More than 30,000 people have now been killed in Israel’s onslaught on the occupied Gaza Strip, many by US-made munitions. pic.twitter.com/vqlM51zJ8J
— Amnesty International (@amnesty) March 17, 2024
A Anistia reivindica um cessar-fogo imediato em Gaza, a soltura dos prisioneiros de guerra ainda em custódia do Hamas e fim dos 16 anos de bloqueio israelense ao enclave.
A organização pede também um embargo de armas abrangente, por parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Israel e grupos armados que operam na região.
Biden ignorou também os apelos do primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, durante sua tradicional visita a Washington para o Dia de São Patrício.
Na Casa Branca, Varadkar evocou um discurso de 1963 do ex-presidente americano John F. Kennedy, proferido ao parlamento da Irlanda.
“Sr. Presidente, uma das promessas sagradas de seu país é defender os princípios de liberdade e democracia contra a tirania e a opressão”, declarou o premiê, “[Kennedy] outorgou um desafio à nação irlandesa, para que fôssemos guardiões dos fracos e marginalizados — de Cork ao Congo, de Galway a Gaza”.
Nos últimos meses, a Irlanda assumiu a vanguarda europeia nas críticas a Israel. Segundo Varadkar, “o povo irlandês está profundamente apreensivo sobre a catástrofe que se desenrola diante de nossos olhos em Gaza”
“Em minhas viagens pelo mundo, líderes costumam me perguntar por que os irlandeses têm tanta empatia pelos palestinos”, observou. “A resposta é simples: vemos nossa história em seus olhos — uma história de deslocamento e expropriação, de identidade nacional negada e questionada, de emigração à força, discriminação e fome”.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 31.645 mortos, 73.676 feridos e dois milhões de desabrigados, em meio à destruição de 60% da infraestrutura civil.
As ações são retaliação a uma operação do Hamas que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.
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No entanto, reportagens investigativas do jornal israelense Haaretz mostraram que parte considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de líderes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.
Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.