O número de pessoas afetadas pela violência no Sudão do Sul aumentou em 35% no último trimestre de 2023, devido a conflitos intercomunitários, reportou nesta segunda-feira (18) a Organização das Nações Unidas (ONU).
A Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS) documentou 233 incidentes de violência afetando 862 pessoas. O novo relatório confirmou 406 mortos, 293 feridos e cem sequestrados, além de 63 pessoas submetidas a violência sexual relacionada ao conflito.
Segundo a pesquisa, a violência cometida por milícias comunitárias ou grupos de defesa civil contabilizou 86% dos casos nos quais civis foram afetados.
Mais da metade — 263 mortos e 186 feridos — caiu vítima de disputas territoriais internas do grupo étnico dinka, entre os chamados twic dinka, do estado de Warrap, foco do conflito, e os ngok dinka, da região rica em petróleo de Abyei.
“O conflito intercomunitário continua a causar imensos danos às pessoas em todo o país”, comentou Nicholas Haysom, chefe da UNMISS.
O Sudão do Sul deve conduzir eleições neste ano, pela primeira vez desde o acordo de paz de 2018, firmado entre o presidente Salva Kiir Mayardit e seu antigo rival, Riek Machar, que encerrou os cinco anos de guerra civil, com centenas de milhares de vítimas.
A violência causada por tensões étnicas e disputas sobre recursos naturais e território se intensificou em diversas partes do país nos últimos meses, sobretudo em Abyei.
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Com uma fronteira mal definida entre Sudão e Sudão do Sul, Abyei permanece sob disputa entre ambos os países desde que este declarou sua independência em 2011.
O Sudão, por sua vez, vive uma guerra civil desde abril de 2023.
O chefe da UNMISS instou o governo sul-sudanês a intervir para “solucionar queixas subjacentes e construir a paz”.
Segundo as Nações Unidas, foram realizadas ao menos dez mil patrulhas por terra, ar e mar no último ano.
O Sudão do Sul — uma das nações mais jovens do mundo — sofre também com a seca e inundações sazonais, tornando as condições de vida particularmente árduas.
O Programa Alimentar Mundial (PAM), em seu mais recente informe sobre o país, reiterou que a população sul-sudanesa “continua a enfrentar dura crise humanitária” devido a violência, instabilidade econômica, mudanças climáticas e influxo de refugiados do país vizinho.
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