Um acordo entre líderes do legislativo e executivo nos Estados Unidos, sobre uma lei orçamentária para gastos militares, além de programas do Departamento de Estado e de outras agências do governo, manterá congeladas as doações à Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) até março de 2025.
Fontes próximas ao acordo confirmaram que o bloqueio, em vigor desde janeiro, fará aniversário, apesar da situação de emergência e fome catastrófica que assola Gaza, sob ataques militares e cerco absoluto por parte de Israel.
Segundo informações da agência Reuters, as fontes afirmaram, no entanto, que Washington busca “abordagens alternativas” para proporcionar socorro humanitário aos palestinos de Gaza, a serem negociadas após a legislação presente ser ratificada.
Em fevereiro, o Senado dos Estados Unidos aprovou uma legislação retendo recursos da agência, como parte de um plano estimado em US$95 bilhões que destina remessas militares a Ucrânia, Israel e Taiwan. A proposta, entretanto, encontrou impasse entre os deputados.
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Ativistas solidários à causa palestina pedem o restabelecimento do valor estimado entre US$300 e US$400 milhões enviados por Washington anualmente à UNRWA. O país era até então o maior doador à agência, após uma interrupção durante o mandato do candidato à presidência e ex-incumbente republicano, Donald Trump.
O presidente democrata Joe Biden — seu oponente nas eleições de novembro — sofre crise interna em plena campanha, em particular, sob ameaça de abstenção em massa de progressistas solidários à causa palestina, que reivindicam o retorno das doações à UNRWA.
Israel restringe severamente o acesso humanitário a Gaza, sobretudo na região norte, devastada pelos bombardeios. Ao menos 27 pessoas — incluindo crianças e idosos — morreram de desnutrição e inanição até então. Um milhão de pessoas estão em risco.
A Casa Branca e seus aliados no Congresso recusaram conceder detalhes à imprensa sobre o acordo de bastidores que definiu a data do congelamento.
Dezoito países, junto da União Europeia, suspenderam doações à UNRWA em 26 de janeiro, em retaliação ao reconhecimento da “plausibilidade” do crime de genocídio pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, após denúncia da África do Sul.
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Os governos em questão aderiram a alegações israelenses, sem provas ou detalhes desde então, de que 12 funcionários da UNRWA — dos 13 mil em Gaza e 30 mil no total — estiveram envolvidos na ação transfronteiriça do Hamas, que capturou colonos e soldados.
De acordo com o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.
No entanto, reportagens do jornal israelense Haaretz demonstraram que uma parcela considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de líderes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.
Israel mantém esforços há anos para difamar a UNRWA, a fim de eliminar as reivindicações dos refugiados palestinos, cujo direito de retorno, reconhecido pelo direito internacional e prerrogativa da filiação israelense às Nações Unidas, é rechaçado desde 1948.
Em quase seis meses, no entanto, ao menos 154 trabalhadores das Nações Unidas foram mortos pelas ações de Israel no território palestino.
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Em Gaza, são 31.923 palestinos mortos e 74.096 feridos desde 7 de outubro, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de pessoas desabrigadas pelas ações de Israel.
Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, emitida em 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco absoluto contra Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.